terça-feira, 25 de março de 2008

Recordando Guerra Junqueiro

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre - como da roda duma lotaria. A justiça ao arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"
Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896

3 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

O nosso espelho…

O HOMEM...

Prepotente …

É de sempre que a prepotência se faz companheira do homem. Na definição do Aurélio prepotência significa grande poder ou influência. O prepotente é aquele que abusa do poder ou autoridade a que está investido é o senhor absoluto um tirano e opressor.

O homem neste século não difere muito do homem dos séculos passados, apesar do desenvolvimento e o avanço tecnológico, ele continua, em termos sociais, indiferente às necessidades de um povo, um Concelho. As suas atitudes e acções são visíveis aos olhos dos mais atentos, e, quem mais sofre resultado dessa indiferença, somos todos nós.

Normalmente este ser prepotente, quanto mais tem mais deseja, não importa como, o que importa é a satisfação do seu ego. Não importa o que ou quem esteja á sua volta, pois o seu sucesso supera qualquer estado de coisas que levem todos os outros a uma condição de subjugação.

Um conjunto de factos, resultado deste ser prepotente e insaciável, explica a situação em que nos encontramos, se mergulhar-mos na história recente, últimas duas décadas, estamos inundados de uma insensatez humana inqualificável.

O medo muitas vezes, coloca uma venda escura impedindo a denúncia dos mais atentos. É muito comum ouvir “cala o bico senão comes”. E, assim, fica evidente a tranquilidade daquele que detém o poder, pois as estruturas pré-estabelecidas, deste ou daquele seguimento de poder tem a garantia de que jamais serão abaladas.

Não devemos desanimar, nosso olhar deve estar sempre voltado para o futuro. E é cada vez mais urgente que os ambientes sejam desinfectados, não podemos omitir, ante a opressão nascida da insensatez humana, que um ser insaciável, destrua um povo que ao longo destas últimas décadas tem vindo a ser enganado e humilhado.

Não podemos fugir a essa missão, de alertar, denunciar, “ O prepotente não veio senão para oprimir, reinar, destruir”.

A nossa prática deve ser a prática de alertar, denunciar, construir, sabemos e somos conscientes de que as barreiras dos prepotentes de hoje são difíceis de derrubar, mas também não podemos negar que existem formas de participações e lutas para mudanças, são as nossas acções individuais e/ou conjuntas, que serão sinais para o povo de que é possível que todos, sem qualquer exclusão, lutem por uma terra melhor.

Abandonar este homem insaciável (prepotente) é o único caminho que nos poderá trazer alguma LUZ.

Fica para cada um de nós, uma reflexão, poderei dizer no final “combati o prepotente combati”.

Júlio César

Anónimo disse...

Como se adapta tão bem à realidade que estamos a viver presentemente, este artigo de Guerra Junqueiro.Infelizmente a história repete-se...e o homem não aprende nada com os erros do passado. Como a ânsia de alcançar o poder e um pseudo prestígio estonteia as pessoas, e bloqueia a sua capacidade de pensar, de discernir, de raciocinar...!