domingo, 16 de março de 2008

O ‘fim do mundo’ é já ali

Para os lados do Cachão e enquanto a água do Tua não cobre os carris, as viagens de comboio fazem-se à velocidade das velhas locomotivas a vapor.

Há 150 anos «era mais fácil» ir de Lisboa a Southampton do que a Bragança. Hoje, o comboio de que falava a socióloga Maria Filomena Mónica demora mais tempo a chegar do Porto a Mirandela do que uma qualquer automotora ronceira espanhola a ligar duas províncias. Mas a quase inevitável submersão da linha do Tua pela albufeira de uma nova barragem está a gerar amores e ódios entre autarcas.
Em 2006, quando se batia pela manutenção da maternidade, o presidente da Câmara de Mirandela mandou colocar dois outdoors no IP4. Num deles, José Silvano escreveu a seguinte mensagem: «Aqui termina o Portugal da igualdade de oportunidades. Bem-vindos a uma zona de desertificação. Próxima saída a 70 quilómetros, Espanha». Dois anos depois, o autarca está novamente envolvido numa batalha contra a interioridade, agora porque o Governo está prestes a afundar-lhe o comboio ou, melhor, o Metropolitano Ligeiro de Mirandela. Mas, desta vez, está sozinho, porque os municípios servidos pelo metro (Vila Flor, Alijó, Carrazeda de Ansiães e Murça) são favoráveis à construção da barragem. E são-no, diz José Silvano à VISÃO, porque «vão ganhar uns equipamentos que o Governo lhes prometeu para estarem calados».
Mas, afinal, que linha é esta pela qual José Silvano tanto se emociona? No último dia de 1906 ficou pronta a ligar o Tua a Bragança. Também em Dezembro, mas de 1991, o primeiro-ministro Cavaco Silva reduziu-a a menos de metade para, de seguida, inaugurar o «metro de superfície». Há 11 meses, um acidente próximo da Brunheda terminou com a morte de três pessoas e o trajecto entre esta estação e o Tua passou a ser feito de táxi. Os mais de 440 mil euros gastos nas obras não dão garantias ao LNEC, razão pela qual a via só esta semana reabriu, mas com «condicionamentos» de vária ordem. Ironia do destino, foi um descarrilamento próximo da aldeia de Sortes que ditou o encerramento do troço Bragança-Mirandela.
Trás-os-Montes parece, assim, condenada a estar cada vez mais distante do litoral. São tão-somente 194 kms para cada lado. Contudo, ir do Porto a Mirandela de comboio exige tempo e um espírito de sacrifício redobrado. Sair pela madrugada (07h25) é condição indispensável para se regressar no mesmo dia. De qualquer modo, só próximo das nove da noite é que a viagem chega ao fim! Até à última segunda-feira havia ainda pela frente uma outra aventura: depois de se chegar ao Tua, na linha do Douro, entrava-se num táxi que nos conduzia à Brunheda. Aí, apanhava-se o comboio em direcção a Mirandela. Cada quilómetro transforma-se numa eternidade...
Para o ministério do Ambiente «é prematuro falar de cotas e prazos» para a construção da barragem. Mas Francisco Correia, o ministro, já fez saber que «não se pode ter sol na eira e chuva no nabal». A «abertura urgente» do troço encerrado há um ano era, até aos últimos dias, o que interessava a José Silvano. Depois, quando a água tocar os carris, a Câmara «deixa de estar interessada» em explorar o metro. Ou, então, o Governo terá que construir uma nova linha.

Mirandela, cidade sui generis
Mais ou menos ordenada, com melhor ou pior gosto, a região de Trás-os-Montes cresceu imenso nos últimos anos e Mirandela não é excepção. O município que reclama «as mais afamadas» alheiras de Portugal até tem um «metropolitano ligeiro», cujas composições foram pomposamente baptizadas de Lisboa, Paris, Estrasburgo e Bruxelas. Este ímpeto europeísta também atingiu as estações do metro, que receberam o nome de Jean Monnet, Jacq. Delors, Tarana (cidade indiana) ou Jean Piaget.
E se os lugares e aldeias preservam «nomes solares», a toponímia da cidade dá-nos a conhecer a Rua Dr. Francisco Pinto Balsemão, a Av. das Comunidades Europeias, a Rotunda das Bandeiras ou, por exemplo, a Rua Cidade de Orthez. Tal como em Coimbra, aqui também existe uma Ponte Europa e junto à velha travessia sobre o Tua, bem no centro da cidade, está colocado o único monumento ao jet-ski nacional: um repuxo que se eleva a cerca de duas dezenas de metros, partindo de um enorme espelho de água. Uma «homenagem» da «capital do jet-ski em Portugal» à modalidade que nos últimos anos tem levado a Mirandela os campeonatos nacional e europeu e a Taça do Mundo da especialidade.
Visão

Colaboração: Mário Carvalho

14 comentários:

mario carvalho disse...

http://www.youtube.com/watch?v=A8sbWcaOexQ

Linha do Tua
Património a qualificar

Anónimo disse...

Concordo consigo,caro comentarista, e não a subemergir.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Unknown disse...

Há pessoas que têm posições diferentes e não são "cobardolas".
Cuidado com a linguagem. Também não podem estar sempre a dizer o mesmo.Eu,por exemplo,sou a favor da barragem e não lucro nada com isso.Mas se se optar pela continuação da linha,aceito essa decisão e fico a desejar que ela venha efectivamente a favorecer a região.
JLM

Anónimo disse...

Se em vez de ter escrito cobardolas tivesse dito desleal, já estava tudo certo?!
Pois continuo na minha e posso garantir ao Sr. JLM que há muita e muita gente da minha opinião.
Quero expressar convictamente que os Senhores Presidentes da Câmara Municipal, principalmente de Vila Flor, bem como de carrazeda, foram desleais para com o Dr. Silvano, Presidente de Mirandela.
Se tiveram medo a qualquer coisa, ou se por conveniência escondida, nunca disseram aos seus concelhos a sua visão sobre a Barragem do Tua ou não, é uma questão que não sabemos.
E não sabemos, porquê?
Porque os ditos não escrevem, não comunicam, não informam.
Prepotentemente estão-se nas tintas para si, para mim e para todos.
Ainda se fosse só para mim, vá lá que não vá!
Mas não! É para os respectivos concelhos pela generalidade.
O Senhor JLM chama a isso, o quê?
Coragem? Bons propósitos? Transpa~rência de gestão autárquica?
Sei que o Senhor JLM é a favor da barragem, embora, como diz, nada ganhe com isso!
Tal não me admira, já que era favorável ao afogamento das Caldas de S. Lourenço para onde defendia um resguardo à nascente que ficaria pelo preço de duas barragens.
Utopias, claro!

Unknown disse...

Todos nós temos as nossas utopias.E eu nem sequer penso que a minha opinião venha a ter qualquer importância no desfecho final.
Quanto ao outro problema posto,acho que o site da Câmara podia bem servir para explicar muitas das posições tomadas.Na realidade considero que as tomadas de posição da Câmara devem ser explicadas aos munícipes.
JLM

Anónimo disse...

Agradecido por JLM ter respondido!
DEFACTO,
Porque não há explicações devidas aos munícipes, é que eu considerei e dei o sentido que julguei adequado e justo ao meu comentário!
Comentário que foi eliminado pelo Ex.mo proprietário e gestor do presente blog.
Achei sinceramente não ter sido injusto na apreciação que fiz.
De futuro apenas vou ler, certa que não darei trabalho ao Senhor Administrador!
Passem muito bem e muitas felicidades!

Unknown disse...

Não vejo que seja caso para desistir de escrever. Até porque escreve bem.Basta-lhe ser um pouco mais eufemístico(suave).É um desafio interessante tentar escrever de modo agradável sobre coisas desagradáveis.
E ainda pode mudar de ideias sem perder a face.
Eu,por exemplo,já fui tentado( e fi-lo)a escrever de forma anónima e agora desisti.Escrever assinando obriga-me a burilar o estilo e a ter mais cuidado com o que digo,tentando não deixar de dizer o que acho que deve ser dito.
JLM

Anónimo disse...

De todo o modo agradeço o seu conselho.

RuiCMartins disse...

Compreendo a sua irritação com o "Senhor Administrador do blog"!
Mas, às vezes, somos tentados a usar palavras que, apesar de não ser essa a nossa intenção, podem ser consideradas ofensivas ou injuriosas.
Foi apenas uma palavra que me obrigou a lamentavelmente cortar o seu texto.
Com grande pena minha, pois verifico que escreve bem e que se preocupa em trazer conteúdo útil para este blog. Espero que a sua irritação para comigo seja ultrapassada pois será sempre aqui benvindo(a).

Anónimo disse...

Penso que não se trata de lealdade ou não...
Nem tão pouco de cobardia..
Já houve situações opostas em que o Presidente da Câmara de Mirandela também não foi solidário para os seu vizinhos...
Aqui trata-se somente de escolher qual a situação mais vantajosa para cada Concelho...
Mirandela talvez tire mais proveito da linha. Carrazeda e Murça talvez lucrem mais com a construção da barragem... Vila Flor, talvez dos dois...
É natural que os Presidentes das respectivas câmaras puxem "a brasa à sua sardinha"!

LA

Anónimo disse...

então porque não expicam quais são esses lucros para Carrazeda`. É isso que falta explicar Ou quer porque quer

Anónimo disse...

A falta de sinceridade por parte dos autarcas, traduz-se neste caso numa clara e lamentavel falta de respeito pelos cidadãos.
É por isso, creio, que a(o) Sr.(a)que passa agora apenas a ler, se irritou um pouco, mas sinceramente, desculpável.

Anónimo disse...

Não sei se era para mim, mas irritado não fiquei.
Atenção que não estava a fazer a defesa de nenhum autarca, porque sinceramente à alturas que não têm defesa possível.
Nesta situação não penso que se possam por as coisas em termos de solidariedade, nem esta pode ser exigida pelo Presidente da Câmara de Mirandela porque já assistimos a variadas situações em que podendo beneficiar o seu Concelho também não é solidário para com os outros.
LA