segunda-feira, 24 de março de 2008

Daqui e dali... João Lopes de Matos

O início da desertificação (anos 60)

O abandono do interior começou nos anos 60 e nunca mais parou.
Por quê em todo o interior aconteceu isto (com algumas poucas excepções, claro)?
A agricultura era a base da vivência humana.
E os primeiros saíram porque nada tinham a perder: nem sequer tinham uns bocados de terra onde se entreterem. O que ganhavam, como jornaleiros, não dava sequer para uma alimentação decente quanto mais para construir uma casa com um mínimo de condições.
E tanto isto é verdade quanto é certo que nos primeiros anos a preocupação dos emigrantes foi comprar terrenos e construir casas.
Bem tentou o governo de então impedir a saída das pessoas. Por isso, a ida a salto.
Tanto remou o governo contra a emigração que, por fim, convencido de não a poder evitar, acabou por liberalizá-la.
Mas não só o governo era contra a emigração. Pelo menos alguma oposição (partido comunista, por exemplo) também achava que se devia lutar contra ela, partindo do princípio segundo o qual os problemas deviam ser resolvidos cá.
Imaginemos como estaria o interior, caso a emigração não se tivesse processado. Teria, com certeza, problemas gravíssimos de habitação, de alimentação, de dignidade humana.
Bendita emigração que fez com que milhares e milhares de pessoas passassem a viver uma vida muito superior à que tinham antes.

João Lopes de Matos

3 comentários:

mario carvalho disse...

cito

"O que ganhavam, como jornaleiros, não dava sequer para uma alimentação decente quanto mais para construir uma casa com um mínimo de condições."

Pergunto

quem era responsável por isto?

onde gastavam os senhores da terra o dinheiro da exploração?
Para onde iam os filhos doutores?
Que fizeram eles, filhos doutores , pela sua terra?

a grande maioria tinha vergonha das suas origens e mais não eram que parolos gozados pelos "parolos" de Lisboa e do Porto... que esses sim nem sabiam quem era o pai ou qual era a sua terra natal..

Anónimo disse...

Emigrantes explorados: PSD acusa Governo
2008/03/25 | 16:50AAS
PSD lança acusação ao Governo: só responde aos casos mediatizados

O deputado do PSD Carlos Gonçalves disse esta terça-feira que o governo português só responde aos casos de exploração de emigrantes portugueses noticiados pela comunicação social e reforçou críticas à falta de meios do Consulado de Portugal em Roterdão, informa a agência Lusa.

«O Consulado em Roterdão continua sem chefias: não há vice-cônsul, não há chanceler nem conselheiro social. Funciona apenas com quatro administrativos, com contrato a termo, que não têm capacidade para dar apoio social aos portugueses na Holanda», criticou Carlos Gonçalves.

Três portugueses informaram à Lusa no domingo que foram enganados por um patrão holandês que não lhes pagou os ordenados e aconselhando-os a regressar. Os portugueses queixaram-se também de falta de apoio do Consulado de Portugal em Roterdão desde o primeiro contacto na quarta-feira até ao fim-de-semana, adiantando que estavam sem dinheiro. Na segunda-feira, o Governo prometeu disponibilizar um advogado e garantiu que os serviços consulares iriam contactar com os trabalhadores alegadamente enganados.

O deputado do PSD pela Emigração afirmou que «os emigrantes portugueses estão entregues a eles próprios» e lembrou os requerimentos do PSD dirigidos ao Governo em Agosto e Outubro do ano transacto, «chamando à atenção dos meios consulares na Holanda com especial atenção para estas situações de exploração».

Portugueses não avaliam situações de trabalho

Segundo Carlos Gonçalves, o Governo apenas responde de forma «individualizada» aos portugueses explorados que consigam chegar à comunicação social. «Quando surgem estes casos na comunicação social é o secretário de Estado das Comunidades que vem responder, em vez de ser a própria estrutura consular local a fazê-lo. Isto é a prova de que esta estrutura não funciona», adiantou, reforçando que «nem todos conseguem chegar» aos media.

O deputado lamenta ainda que os portugueses não avaliem cuidadosamente a situação de trabalho antes de irem para o estrangeiro, no entanto reforça que os casos de exploração não são culpa dos mesmos. Apesar disso, o Carlos Gonçalves afirma que «a protecção consular, que é obrigatória por lei, não é feita, deixando os portugueses sem qualquer apoio social».

Unknown disse...

Ainda pus a hipótese de o sr. Mário ser pessoa de mais de 50 anos.Verifico agora que não terá muito mais de 30.É que não conhece a sociedade do início dos anos 60.
Teremos que recuar a esse ano - 1960 - para lhe dar uma resposta.
Nesse tempo,à excepção dos donos das quintas do Douro(alguns,poucos,sobretudo ingleses ),os senhores das terras eram quase tão pobres como os jornaleiros. Não eram em regra eles que mandavam educar os filhos:eram os negociantes ou comerciantes.
Eles, os chamados proprietários, como as restantes pessoas, não tinham água canalizada e não tinham casas de banho:andavam todos igualmente sujos e com roupa rôta.E tanto era assim que ,passados 3 ,4 anos,os emigrantes compraram os terrenos e passaram a ricos ,tendo havido uma verdadeira inversão de posições.
Houve até um surto enorme de jovens a estudar porque os pais(os emigrantes) já podiam fazê-lo.Os filhos, com os pais fora, vieram a contribuir imenso para o insucesso escolar.
Queria que um ou dois doutores ou engenheiros de cada aldeia tivessem feito alguma coisa?Acha mesmo isso possível?
Havia,entre eles,quem tivesse vergonha das origens e quem a não tivesse. Mas isso é um pormenor de somenos importância.
JLM