segunda-feira, 10 de março de 2008

Coordenadora da sub-região de Saúde de Bragança denuncia "calvário" dos doentes da região

A concentração dos serviços de saúde e a deficiente rede de estradas e transportes torna num calvário a vida de muitos doentes do distrito de Bragança, que perdem em penosas deslocações os benefícios dos tratamentos que recebem cada vez mais longe de casa. A situação é "preocupante e merece reflexão", alerta Berta Nunes, coordenadora da sub-região de Saúde de Bragança.Este distrito tem uma das melhores coberturas nacionais nos chamados cuidados primários e de proximidade ao nível dos centros de saúde. Mas bem diferente é o acesso aos cuidados diferenciados, com a concentração de serviços nas principais unidades hospitalares e a necessidade de deslocações aos hospitais de referência do Porto. As distâncias são agravadas pela deficiente rede de estradas e de transportes públicos e estão a "pôr em causa a equidade no acesso aos cuidados de saúde e a penalizar sobretudo os idosos e os mais carenciados", segundo Berta Nunes. "O que ganham aqui [em tratamentos] muitas vezes perdem-no no caminho, é um desconforto, mas eu não sei o que fazer", reconhece, em declarações à Lusa o administrador do Centro Hospitalar do Nordeste (CHNE), Fernando Alves. O CHNE e a sub-região pagaram, em 2007, cerca de dois milhões de euros em transporte de doentes, feito sobretudo em ambulâncias das corporações de bombeiros. Falta de informaçãoMas mais de metade da população do distrito de Bragança nem sequer sabe que tem direito ao reembolso dos custos de transporte. (...)
Em deslocações para consultas ou tratamentos foram contabilizados um total de cinco milhões de quilómetros, o equivalente a várias voltas completas a Portugal por dia, que não inclui as deslocações em meios próprios ou transportes públicos. O número é revelador das voltas que os doentes têm de dar e daquilo a que alguns chamam os "custos sociais" do isolamento, agravado pela concentração de serviços. Um habitante de Freixo de Espada à Cinta demora mais a percorrer os cerca de 130 quilómetros para uma consulta em Bragança do que a hora e meia necessária para ir a Lisboa de avião. (...)
Consultas, tratamentos e outras intervenções de especialidade existem apenas nos três hospitais que integram o CHNE - Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mirandela - localizados no chamado eixo do IP4, a norte do distrito. Mas nem todas as valências estão disponíveis nas unidades da região, obrigando a deslocações ao Porto ou Vila Real, para acesso a cuidados de saúde nas áreas de oncologia, cardiologia ou traumatologia. (...)

Algumas ambulâncias de transporte de doentes, que levam gente da região para o mesmo sítio, ultrapassam o autocarro. Alfredo ainda chegou a fazer a viagem nestas viaturas, mas prefere o autocarro, por não ter de estar à espera e dependente dos horários dos outros. "Temos viaturas com quatro anos com 400 e 500 mil quilómetros", conta Irundino João, comandante dos bombeiros voluntários de Miranda do Douro. Muitas vezes por estradas espanholas, quatro ambulâncias desta corporação transportam diariamente doentes para os hospitais da região e do Porto. Algumas vezes fazem as chamadas cordas - vão recolhendo pessoas num determinado percurso e para destinos diferentes e o regresso só ocorre quando estão todas atendidas. (...)
E nem é preciso viver longe para experimentar o desespero da espera pelo transporte. O casal João Fernandes e Isaura Caleja vivem a 15 quilómetros de Bragança e vão passar todo o dia fora de casa porque só têm autocarro às 8h00 e às 18h30. O transporte em ambulância ou a disponibilização de transporte por parte do Serviço Nacional de Saúde (SNS) obedece a vários requisitos, nomeadamente a incapacidade física ou o grau de gravidade da doença, num total de 31 situações. Em todos os outros casos, os doentes têm de deslocar-se em transporte próprio ou colectivo. Público

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