quarta-feira, 19 de março de 2008

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

valter hugo mãe, hélder de carvalho e paulo moura

Há pouco tempo. Hélder de Carvalho (antes de haver ganho o Prémio de mais uma exposição individual em Aveiro, o que muito saudamos) e Paulo Moura encontraram, nos Açores, numa acção artística, o meu editor de As Letras como Poesia, o fabuloso poeta e escritor valter hugo mãe, que obteve o Prémio Saramago, o ano passado, com o romance ‘o remorso de baltazar serapião’. Foi com grande contentamento
que recebi a notícia de que juntos estiveram e dos seus Prémios, imaginando eu, como nas furnas, em posição horizontal, valter haveria de ler ao Hélder e ao Paulo pedaços do seu romance de uma violência extrema, sobre uma Idade Média brutal e miserável, como metáfora dos tempos máximos de animalidade que se vivem hoje em tantos sítios ir_
reais (em inglês: sites), uma vez baltazar, na administração da educação de ermesinda e da sarga, _ sua vaca, fêmeas irmanadas suas mulheres, levarem valter a recriar uma linguagem arcaica, popular, com inúmeras transgressões sintácticas… Violenta poesia que nos dói como dá — tamanho prazer… A epígrafe é de um poema de Jorge Melícias:

Há a boca pisada de pedras,
e o remorso
é uma parede mordida pelo eco.

Começa assim:

‹‹a voz das mulheres estava sob a terra, vinha de caldeiras fundas onde só diabo e gente a arder tinham destino. a voz das mulheres, perigosa e burra, estava abaixo de mugido e atitude da nossa vaca, a sarga, como lhe chamávamos.
mal tolerados por quantos disputavam habitação naqueles ermos, batíamos os cascos em grandes trabalhos e estávamos preparados, sem saber, para desgraças absolutas ao tamanho de bichos desumanos. tamanho de gado, aparentados de nossa vaca, reunidos em família como pecadores de uma mesma praga. maleita nossa, nós, reunidos em família, haveríamos de nos destituir lentamente de toda a pouca normalidade.
abríamos os olhos pirilampos à fraca luz da vela, porque a sarga mugia a noite inteira quando havia tempestade. dava-lhe frio e aflição de barulhos
.››

Com as letrinhas minúsculas, todas irmãs. O estilo inconfundível de valter hugo…

vitorino almeida ventura

5 comentários:

Unknown disse...

Os meus parabéns a H.C. pelo prémio obtido. Não sei como se divide interiormente o Centro Cívico.Era bom que dispusesse de algumas salas onde H.C. e P.M. pudessem fazer alguns "workshops"(palavra por mim aprendida há pouco tempo)para quem (novos ou menos novos)estivesse interessado.
JLM

Anónimo disse...

Apoiado.

Anónimo disse...

ELÁ! ELÁ! ATÃO Já vamos aí?
Senhor JLM veja lá se não quer arranjar inimigos!
O PM ainda vá que não vá, agora o HC, NEM PENSAR!
Tento na língua!
A casa ficava logo reexcomungada, porque excomungada já está!
E a obra das "pilas" que está na Câmara é preciso arredá-la dali p\ra fora antes das eleições de 2009, está bem?

Unknown disse...

Não se pode ser assim intolerante.
As pessoas em Carrazeda já são tão poucas que não podemos dar-nos ao luxo de excluir ninguém.
JLM

Anónimo disse...

Sou uma admiradora confessa de valter hugo mãe e é sempre interessante quando no Douro se vê que cria novos amigos. O último livro dele, São Salvador do Mundo, é uma delícia. Aqui, na Pesqueira, já o lemos na Escola. Dou os parabéns ao blogue e ao seu administrador, autor da peça literária, com muito nível que junta os artistas, o que é raro.
De uma vossa conterrânea da Pesqueira,
Sílvia.