Surpreendente paradoxo: a região vitícola demarcada mais antiga e que produz um dos vinhos mais famosos do mundo é uma das menos desenvolvidas do país. Dois indicadores apenas para ilustrar esta afirmação: o PIB per capita (2003) e o Índice de Poder de Compra Concelhio (2004) são os 5º piores do continente (em 30), representando, respectivamente, 67% e 64% da média nacional.
Claro está, o Douro mudou muito nos últimos vinte anos. A melhoria das condições de vida da sua população é indiscutível. Existem hoje mais e melhores infra-estruturas básicas e equipamentos colectivos. O dinamismo empresarial em sectores como a vitivinicultura e o turismo é inquestionável. Mas nada disto pode fazer esquecer o problema essencial: o esvaziamento demográfico. Entre 1981 e 2001 a região perdeu 5 habitantes por dia, tendência que se manterá nas próximas décadas, embora a um ritmo mais lento (2 a 3 habitantes). A confirmarem-se as projecções do INE, em 2050 o Douro terá pouco mais de 150 mil habitantes, menos de metade da população registada em 1960.
Esta situação surpreende não só porque o Douro possui um conjunto de recursos e de potencialidades ímpares mas também, ou sobretudo, porque a região tem vindo a ser contemplada, desde o início dos anos oitenta, com vários programas de desenvolvimento territorial, os quais canalizaram para o seu seio um volume de investimentos públicos e privados superior a 2,5 mil milhões de euros. Daí a inevitável interrogação: o que impede o desenvolvimento da região? E como justificar a relativa falta de eficácia destes programas?
Vários argumentos têm sido invocados para responder a estas questões.
O primeiro é o do “abandono político” e remete para a insuficiência dos investimentos públicos necessários para resolver os difíceis e históricos problemas da região. Como parece ficar demonstrado pela eloquência dos números, este argumento não vinga. Mas é verdade que as estratégias e as opções nem sempre têm sido as melhores, tendo-se privilegiado quase sempre o “betão” em detrimento da dimensão imaterial do desenvolvimento: formação, iniciativa, organização e inovação. Muito por culpa do Estado central que insiste numa visão paternalista e burocrática do desenvolvimento e que continua a pretender abrir por fora a porta do desenvolvimento, como se fosse possível desenvolver o que quer seja sem a vontade, a participação e o empenho dos potenciais interessados.
O segundo é o da “lógica extractiva” das actividades económicas predominantes e remete para a transferência para fora da região das mais valias económicas e financeiras aí geradas. Este argumento tem um fundo de verdade. Mas o que seria o Douro sem os de “fora”? Parte do sucesso conseguido na vitivinicultura deve-se a eles. E se o seu contributo para o desenvolvimento da região não é maior, importa conhecer as razões e os eventuais obstáculos e remove-los. Nunca como agora houve tantos “forasteiros” interessados em investir no Douro. O que é preciso é que os durienses aproveitem também as oportunidades de negócio e de investimento, contribuindo para a criação de riqueza e de emprego imprescindíveis para o desenvolvimento da região.
3 comentários:
Um belo artigo a merecer ser meditado. Obrigado.
Espero, sinceramente que sim...
Curiosamente parece que os de fora se preocupam mais do que os de dentro..
Para onde terá ido tanto dinheiro ao longo destes anos todos? Os dois últimos administradores daquela casa deviam ter que prestar contas sérias a nós, sócios há muitos anos.
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