A submersão da linha do Tua pela barragem projectada para aquele rio transmontano foi hoje classificada como "um dos mais graves atentados ao património português" pela Associação Portuguesa do Património Industrial.A APPI - que refere, em comunicado, representar em Portugal o organismo da UNESCO consultor para o património industrial - manifesta-se disponível para apoiar todas as acções para evitar a destruição da ferrovia.
O organismo junta-se, assim, a outras vozes de protesto, nomeadamente dos ambientalistas, contra a construção na foz do rio Tua do empreendimento que integra o plano nacional de barragens, recentemente aprovado pelo Governo.
O concurso para a construção da barragem, projectada para a zona onde o Tua desagua no rio Douro, está prestes a ser lançado e os estudos prévios já foram alvo de discussão pública.
Esses estudos confirmam que, independentemente da cota que vier a ser decidida depois de feita a avaliação ambiental, os últimos quilómetros da linha Tua ficarão submersos.
Com a construção da barragem, ficará interrompida a ligação ferroviária à linha do Douro e ao litoral, nomeadamente ao Porto.
Para a APPI, "existem outras alternativas energéticas à barragem, mas não a possibilidade de substituir as consequências negativas da sua construção".
A associação entende que a barragem, não só submergirá "o único meio de transporte que as populações locais têm à sua disposição para se deslocarem à capital do concelho, como as Caldas de Carlão, sendo também afectadas as Termas de S. Lourenço, além de vinhas da Região Demarcada do Douro e olivais de grande qualidade".
"Ou seja, um conjunto de valores patrimoniais que estão parcialmente abrangidos pela classificação daquela região pela UNESCO como Património da Humanidade", refere.
A APPI considera que "a construção da barragem colide também com a estratégia de promoção turística que as entidades oficiais têm vindo a definir para a região do Douro".
"Numa época em que se fala tanto no turismo no Douro e se anunciam investimentos avultados nesta região, não se compreende como se pode permitir a destruição de um dos seus maiores valores patrimoniais e turísticos como é a Linha do Tua", sustenta o comunicado.
Por estas razões, a associação defende a "conservação da linha como um factor imprescindível para o desenvolvimento económico e social de Trás-os-Montes".
Declara ainda "todo o seu apoio ao Movimento Cívico pela Linha do Tua e às iniciativas que este tem vindo a desenvolver no sentido de se evitar um dos mais graves atentados ao património cultural português, desde o 25 de Abril de 1974".
Lusa/Rádio Ansiães
1 comentário:
Barragens: PEV chama Governo à AR para explicar programa
O Partido Ecologista Os Verdes (PEV) vai usar o direito potestativo para chamar o Governo ao Parlamento para um debate de urgência sobre o Programa Nacional de Barragens, disse hoje à agência Lusa a deputada Manuela Cunha.
Segundo Manuela Cunha, em causa está o Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico, que prevê a construção de mais 10 barragens e que o «Governo tem que justificar e explicar, já que põe em causa perto de 30 localidade portuguesas que podem ficar submersas».
A deputada ecologista falava à agência Lusa no intervalo de uma audição parlamentar promovida por Os Verdes que reuniu responsáveis de várias associações ambientalistas, autarcas e associações locais dos sítios onde está prevista a construção de barragens.
Segundo Manuela Cunha, a construção de mais 10 barragens em Portugal põe em causa a biodiversidade e a própria qualidade dos recursos hídricos.
«Não estamos a falar de uma Aldeia da Luz, mas de 30 locais habitados em Portugal que podem ficar submersos com este plano e que, devido à privatização do domínio público hídrico e dos recursos hídricos, correm o risco de passarem a ser geridas por hidroeléctricas», frisou a deputada ecologista.
Antigamente a tutela das zonas hídricas era da responsabilidade do Instituto da Água, e com a nova lei corre-se o risco de algumas zonas do país ficarem entregues a hidroeléctricas, disse Manuela Cunha, exemplificando com o caso da Linha do Tua.
«É o caso da Linha do Tua, já que se o programa for para a frente, perdemos completamente todo o vale do Tua, além de que o local da barragem coincide com uma zona declarada como Património Nacional pela Unesco», frisou.
Manuela Cunha acusou ainda o governo de José Sócrates de ter elaborado este programa sob uma «completa e total desonestidade política, falta de rigor e omissões várias».
«É preciso que o Governo vá ao parlamento explicar o que se passa já que nunca apresentou o Programa na Assembleia da República», frisou.
A deputada de Os Verdes estranha ainda a «pressa» com que tudo de processou, alegando que o programa só esteve em consulta pública em Lisboa, Porto e Coimbra - e nunca em nenhum dos locais que correm o risco de ficar submersos - , a consulta pública terminou a 13 ou 14 de Novembro, e 24 dias depois o ministro do Ambiente deu aval positivo ao programa.
«A 21 de Dezembro o programa sofreu uma alteração, já que o texto inicial estava previa que fossem as regiões hidrográficas a concessionar barragens, mas como estas não estavam criadas a concessão passou para as mãos das Comissões de Desenvolvimento Regional e sete dias depois a EDP apresentou um pedido para a concessão da barragem do Tua, o que é muito estranho», frisou.
As barragens aprovadas são: Foz Tua, no rio Tua, Pinhosão, no rio Vouga, Padroselos, Vidago, Daivões, Fridão e Gouvães, no rio Tâmega, Girabolhos, no Mondego, Alvito, no rio Ocreza, e Almourol, no rio Tejo.
Diário Digital / Lusa
09-01-2008 15:45:29
Enviar um comentário