Um sexagenário transmontano (quase septuagenário) foi há dias a Lisboa. Mas não foi desprevenido e confiante. Levava consigo, no bolso das calças, uma arma para o que desse e viesse.
E olhava, cauteloso, para um lado e outro, não fosse ser surpreendido por algum assaltante, sobretudo um daqueles que julgam que os transmontanos são uns pacóvios. De tal maneira os seus modos eram explícitos que uma jovem atraente se aproximou e estabeleceu o seguinte diálogo:
- Senhor, que tem cara de boa pessoa, o que traz aí?
- Uma arma, menina, para me defender dos lisboetas malvados.
- Ah! Uma arma! Bem me parecia que não poderia ser outra coisa. O senhor já é entradote, na realidade. Mas olhe que talvez esteja enganado. Aqui não é preciso andar armado.
- Não é preciso o quê! Mesmo a menina sei lá com que intenções vem! Quem vê caras, não vê corações. Realmente, a menina é tão linda! Não será o diabo a tentar-me? Até já me sinto atraído por si! Abrenúncio, Satanás.
- Pode seguir em paz. Só lhe vou dar um beijinho e siga o seu caminho. Vai ver que nada de mal lhe acontece.
E despediram-se. E o transmontano seguiu o seu caminho, mas sempre desconfiado.
E que viu ele? - Coisas belas como o oceanário, a FNAC do Chiado, com políticos, os transportes públicos, com gente fina e educada, a pastelaria de Belém, onde havia muita gente, que não se acotovelava e com aspecto sossegado, monumentos como a Torre de Belém, os Jerónimos, a Estação do Rossio, limpos, belos, luminosos. E a pairar sobre a cidade uma luz limpa, clara, e a seus pés o Tejo calmo e majestoso.
A arma começou a pesar-lhe e achou-a um estorvo. Deitou-a fora e respirou, fundo, confiante, o prazer da liberdade.
E olhava, cauteloso, para um lado e outro, não fosse ser surpreendido por algum assaltante, sobretudo um daqueles que julgam que os transmontanos são uns pacóvios. De tal maneira os seus modos eram explícitos que uma jovem atraente se aproximou e estabeleceu o seguinte diálogo:
- Senhor, que tem cara de boa pessoa, o que traz aí?
- Uma arma, menina, para me defender dos lisboetas malvados.
- Ah! Uma arma! Bem me parecia que não poderia ser outra coisa. O senhor já é entradote, na realidade. Mas olhe que talvez esteja enganado. Aqui não é preciso andar armado.
- Não é preciso o quê! Mesmo a menina sei lá com que intenções vem! Quem vê caras, não vê corações. Realmente, a menina é tão linda! Não será o diabo a tentar-me? Até já me sinto atraído por si! Abrenúncio, Satanás.
- Pode seguir em paz. Só lhe vou dar um beijinho e siga o seu caminho. Vai ver que nada de mal lhe acontece.
E despediram-se. E o transmontano seguiu o seu caminho, mas sempre desconfiado.
E que viu ele? - Coisas belas como o oceanário, a FNAC do Chiado, com políticos, os transportes públicos, com gente fina e educada, a pastelaria de Belém, onde havia muita gente, que não se acotovelava e com aspecto sossegado, monumentos como a Torre de Belém, os Jerónimos, a Estação do Rossio, limpos, belos, luminosos. E a pairar sobre a cidade uma luz limpa, clara, e a seus pés o Tejo calmo e majestoso.
A arma começou a pesar-lhe e achou-a um estorvo. Deitou-a fora e respirou, fundo, confiante, o prazer da liberdade.
João Lopes de Matos
7 comentários:
Quanto a mim não estaria, mesmo assim, tão sossegado quanto isso. Imagine agora que a arma é encontrada no rio, entregue à Polícia e conclui-se que era dele. Entretanto houve um homicídio, cujo autor ainda não foi identificado? Já viu a confusão em que o pobre do homem pode estar metido?!
Não diga isso ao homem: assim impede-o de voltar a Lisboa. E, agora, que já estava tão confiante!
Em Lisboa, para um quadro tão belo, já é precisa alguma sorte!
O mesmo não poderão dizer os britânicos:
Londres, 20 Jan (Lusa) - A ministra britânica da Administração Interna, Jacqui Smith, admitiu hoje ter medo de sair à noite sozinha em Londres, apesar de o Governo inglês defender que a taxa de criminalidade diminuiu relativamente à década de 1990.
Numa entrevista ao jornal `The Sunday Times`, a responsável afirmou não se sentir segura para andar sozinha nas ruas da capital britânica à noite, mesmo nas zonas mais movimentadas.
Apesar disso, Jacqui Smith considerou que "em termos de criminalidade, as pessoas estão hoje mais seguras do que há dez anos atrás", quando estava no poder o Partido Conservador.
A ministra britânica reconheceu, ainda assim, que o Governo tem um grande trabalho pela frente para convencer os cidadãos de que as zonas urbanas não são perigosas.
Jacqui Smith é a primeira mulher à frente do Ministério britânico da Administração Interna, um cargo que ocupa há seis meses, tendo enfrentado grande contestação, nomeadamente por parte das autoridades policiais.
De acordo com o jornal `Daily Mail`, os polícias ingleses exigiram no mês passado a demissão imediata da responsável devido aos aumentos salariais propostos.
© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2008-01-20 22:00:01
Este é um exercício de ficção que bem nos pode mostrar o alter ego do senhor JLM.
Se fosse um lisboeta a vir a Trás-os-Montes, e aqui se livrasse da sua arma, penso que teria muito mais sentido e seria sem dúvida mais realista...
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