domingo, 24 de fevereiro de 2008

Mirandela: Vale do Tua é uma mina inexplorada - ambientalistas

O rio e a linha ferroviária do Tua são uma "mina" por explorar em Trás-os-Montes, podendo servir de base para o desenvolvimento turístico e económico das populações locais, defendeu hoje João Branco, dirigente da associação ambientalista Quercus. Cerca de meia centena de pessoas viajaram hoje no metro de Mirandela, que percorre a linha ferroviária do Tua, e concentraram-se na estação de Abreiro, no âmbito da iniciativa "Por Linhas Travessas" que pretende dar a conhecer a paisagem, fauna e flora do vale do Tua.
A iniciativa foi do Núcleo de Estudos do e Protecção do Ambiente (NEPA) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em colaboração com a núcleo de Vila Real da Quercus e da Coordenadora de afectados pelas Grandes Barragens e Transvases (Coagret).
"O rio Tua apresenta um conjunto importante de aspectos no âmbito da fauna, da flora, da geologia, da paisagem, do património arqueológico e da cultura. Este vale, com o rio e a linha-férrea, representam uma mina ainda por explorar", afirmou João Branco.
É que, para o ambientalista, as gargantas apertadas que caracterizam o vale do Tua, "proporcionam paisagens e condições hídricas óptimas para o usufruto da canoagem e disciplinas associadas" e a linha de caminho de ferro, com 120 anos de vida e considerada uma das mais belas da Europa, "serve de forma perfeita a acessibilidade para as actividades de descoberta do vale".
São "muitas" as espécies que habitam neste território, desde a garça real, a águia de bonelli, cegonha negra, o bufo real, ou, em termos de flora, albergando dois habitats prioritários de zimbro e sobreiro, que constam da directiva habitat da União Europeia.
Foram também muitos os turistas, vindos desde Braga, Coimbra, Porto, Vila Real, canoístas de Fafe, estudantes Erasmus da Polónia e até um casal de ingleses que apanhou boleia com o grupo, que viajaram no metro do Tua.
Para a maior parte foi a primeira vez que fez este percurso e por isso as reacções à paisagem foram de "espanto" e de "encanto".
"A paisagem é muito bonita, embora um pouco assustadora nas zonas mais íngremes e escarpadas. Gostei muito de tudo", disse à Lusa, Paula Carvalheiro, que viajou desde o Porto.
Já Rui Silva, que se deslocou desde Coimbra, caracteriza a paisagem do vale como "extraordinária", considerando "inadmissível" que ela seja destruída pela subida das águas da barragem.
Inês Bião estuda na UTAD e trouxe o pai, Inácio, de propósito para conhecer a região e a reacção dos dois foi idêntica: "é uma paisagem magnífica".
Para Leonel Castro, do clube náutico de Fafe, o rio Tua apresenta "excelentes condições para a prática de canoagem, formando grandes ondas e rápidos, sendo ainda navegável praticamente durante todo o ano".
Aos turistas juntaram-se alguns populares das aldeias de Abreiro e Vieiro.
Para Arnaldo Fontes, habitante de Abreiro, a linha não devia encerrar porque "nem todas as pessoas tem carro ou dinheiro para alugar um táxi quando precisam de ir, por exemplo, a Mirandela".
Já Carolino Augusto, do Vieiro, disse ter muita pena de ver fechar a linha onde trabalhou, em reparações, durante muitos anos e que considera ser ainda um importante meio de transporte.
O principal "inimigo" do vale do Tua é, na opinião dos ambientalistas, a barragem prevista para a foz do rio e cujo concurso público para a sua construção abriu este mês.
João Branco referiu os impactes negativos, a nível do ambiente e também da economia local.
"Vinte por cento das vinhas do concelho de Murça, mas as que dão mais e melhores vinhos, vão ficar destruídas afectando o principal sustento de dezenas de famílias", salientou.
Apesar de ainda não se saber a que cota vai ser construída a barragem, João Branco considera que o vale do Tua ficará "irremediavelmente destruído" com esta infra-estrutura, que, na sua opinião, só trará lucros aos "grandes grupos económicos e não às populações locais".
Para além de defender a manutenção da linha do Tua, que actualmente se estende apenas do Tua (Carrazeda de Ansiães) a Mirandela, Pedro Couteiro, dirigente da Coagret, quer ainda que se recupere a ligação a Bragança e se estenda a Puebla de Sanabria, em Espanha.
A futura ligação ferroviária em Alta Velocidade Madrid-Puebla de Sanabria deverá estar concluída em 2012, e, segundo o responsável, tendo em conta que Bragança se encontra a pouco mais de 30 quilómetros de Sanabria, "seria imperativo estudar a conexão entre estes dois pontos, pois esse projecto permitiria oferecer novos horizontes a toda a região de Trás-os-Montes".
"Por Linhas Travessas" é um ciclo de percursos pedestres, ferroviários e fluviais que pretende dar a conhecer a região de Trás-os-Montes e Alto Douro através das linhas de caminho de ferro.
Joaquim Silva, do NEPA, referiu que, nos próximos meses, vão ser organizadas passeios, todos acompanhados por especialistas em fauna, flora e paisagem, nas linhas estreitas do Tâmega, Corgo, estando previsto ainda um regresso ao Tua.
Também para 14 de Março, em que se assinala o Dia Internacional da acção dos danos contra os rios, água e a vida, as três associações ambientalistas estão já a programar um conjunto de iniciativas que decorrerão entre Mirandela e a estação do Tua
. RTP

Colaboração: Mário Carvalho

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