terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Daqui e dali... Movimento Cívico pela Linha do Tua

Comunicado

Completa-se hoje um ano sobre uma das mais negras horas da Linha do Tua: a 12 de Fevereiro de 2007, uma fatalidade fez com que a automotora Bruxelas fosse arrastada para as águas do Tua, levando a vida a três pessoas e ferindo outras duas. Foi o segundo acidente mortal em 120 anos de História da Linha do Tua.
Um ano depois a contestação contra a construção de uma barragem na Foz do Tua nunca foi tão grande, nem a incoerência dos intervenientes com poder governativo tão gritante face ao crescente número de entidades que sublinham o seu NÃO a tão grave atentado.

Se por um lado a REFER tem vindo a investir, e prevê ainda mais investimento para o reforço da segurança e condições de exploração da Linha do Tua, a CP vem agora finalmente abrir a Linha do Tua a uma mais ampla exploração turística.
O ICN – Instituto de Conservação da Natureza refere explicitamente que não se deve construir barragens na foz de um rio, a CCDR – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional tece críticas a este plano nacional de barragens, o IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico refere que o levantamento do Património foi feito apenas no papel, a APPI – Associação Portuguesa do Património Industrial, representante em Portugal do organismo internacional consultor da UNESCO, aponta a destruição da Linha do Tua por uma possível barragem como um dos mais graves atentados ao património português.
A situação actual do Vale e da Linha do Tua é insustentável. De uma forma pouco clara, ilegal, e com uma celeridade nunca antes vista em processos deste tipo em nenhum outro país da União Europeia, aprova-se uma barragem sem referir os seus efeitos nefastos, e atribui-se um direito de preferência de construção à EDP. Defendem do Governo que é em prol das energias renováveis e limpas: todo o pacote de 10 novas barragens contribuirá para nada menos que 1% de redução de emissão de gases de efeito de estufa, e sendo que a retenção de grandes massas de água só vem contribuir para o seu aumento. E isto num país como Portugal, abençoado com vento e sol durante todo o ano; nem os parques eólicos nem os de painéis solares fotovoltaicos acarretam consigo os efeitos negativos das grandes barragens. Refira-se ainda a rápida e dramática erosão da nossa costa, que será agravada com a retenção de inertes a montante nos rios, presos pelas barragens.

Por seu lado, o Ministério do Ambiente gere as suas competências através da lógica do menos mal: Nunes Correia vem a público referir que uma barragem no Tua "não terá um impacto muito expressivo" já que "não estão em causa povoações com centenas de habitantes". Já Ana Paula Vitorino, Secretária de Estado dos Transportes, refere que "os benefícios sociais da construção de uma barragem serão superiores", inaugurando em 150 anos de História dos Caminhos-de-Ferro Portugueses a justificação da destruição de uma via-férrea como de "interesse público".
Perguntamos a estes governantes, pelo singular conteúdo das suas afirmações trazidas a público, se realmente conhecem algum aspecto sobre o que estão a falar, e que deveriam conhecer a fundo.
Ajudamos ainda a senhora Secretária de Estado Ana Paula Vitorino a enumerar os benefícios sociais que certamente queria referir:

· Destruição do último caminho-de-ferro do distrito de Bragança, o pior de todos em níveis de transportes públicos e mobilidade dos seus habitantes. Por conseguinte, acaba com o transporte de milhares de passageiros por ano, repartido pelas crianças em idade escolar e idosos que do comboio dependem para as suas deslocações, e de turistas que todos os anos vêm conhecer o Vale do Tua, vindos do Douro – com a reabertura da Linha do Douro à Espanha, o número de turistas irá aumentar de forma imprecedível, sendo um autêntico motor do turismo e comércio de cidades como Mirandela;

· Destruição de vinha de produção de Vinho do Douro directamente por submersão, e indirectamente por uma área mais vasta com o aumento dos níveis de humidade, calor e gases com efeito de estufa;
· Destruição das Caldas de Carlão e de São Lourenço;
· Criação nula de postos de trabalho. Enquanto durar a construção da barragem, esta será maioritariamente suportada por mão-de-obra que não é local, finda a qual desaparecerão da zona. A conservação e gestão da barragem é feita por uma equipa de técnicos que não são da zona, e em número reduzido, e controlada a partir da Barragem de Bagaúste;
· Serão construídas mais linhas de alta tensão, com todos os problemas de saúde a si associadas;
· Uma vez que as empresas que vão usufruir da construção e exploração da barragem não são sedeadas em nenhum dos concelhos atravessados pelo Tua, os impostos não ficarão na região, sendo que as margens que permanecem para as autarquias não revelam o verdadeiro lucro que se tira das barragens, que não será o da produção de energia, mas o da "venda" da água.

As grandes barragens em Portugal têm dois exemplos claros em situações antagónicas dos grandes "benefícios sociais" que acarretam: em Castelo de Bode as populações foram obrigadas a partir para Lisboa em busca de melhores condições de vida, depois de a barragem lhes ter tirado todo o sustento e qualidade de vida; em Foz Côa elevou-se um património à categoria de Património da Humanidade, e o PIB do concelho foi o único da sua zona a crescer.
O MCLT, no dobrar de um ano sobre uma tragédia, vem por este meio fazer-se ouvir para que se evite uma tragédia ainda maior. Nunca a curiosidade e vontade em se viajar e conhecer a Linha do Tua e o Vale do Tua foram tão grandes, e tanto REFER como CP estão a desenvolver esforços no sentido de capitalizar os seus investimentos neste conjunto singular entre a bravura da Natureza e a dos Homens. Urge desenvolver-se o Nordeste Trasmontano, e sem vias que suportem esse desenvolvimento está-se a condenar uma região já de si explorada à total desertificação. Para esse desenvolvimento se conta com um dos principais negócios do país, o Turismo, para além do qual o tráfego regional de pessoas e bens nunca poderá ser esquecido.
Defendemos o melhoramento das condições de operacionalidade da Linha do Tua, e a sua reabertura a Bragança e conclusão definitiva do seu traçado até à Puebla de Sanábria, onde a Alta Velocidade espanhola vai ter uma estação, no que deverá ser a implementação de uma lógica de rede de transportes integrada e sustentável.
Defendemos também o assumir de uma coragem política em se discutir todo este processo conduzido em bastidores CONTRA o povo e a favor de interesses por demais claros.
A Barragem do Tua NÃO faz falta aos trasmontanos, nem faz falta a Portugal; porque se insiste, e quem insiste na sua construção?

Movimento Cívico pela Linha do Tua, 12 de Fevereiro de 2008

3 comentários:

mario carvalho disse...

A REN - Redes Energéticas Nacionais recebeu luz verde da Secretaria de Estado do Ambiente para avançar com o reforço das ligações eléctricas no Douro Internacional num investimento no valor de 46 milhões de euros, revelou a empresa em comunicado. O projecto da REN inclui a construção de uma nova subestação, quatro novas linhas e a modificação das cinco linhas já existentes.
Este projecto vai permitir a extensão da rede nacional de transportes à zona nordeste de Trás-os-Montes de forma a criar melhores condições de alimentação dos consumos, facilitar o transporte de energia proveniente de parques eólicos e, no futuro, possibilitar o prolongamento da rede nacional de transporte à zona de Chaves.

A REN adianta que a construção da nova subestação vai iniciar-se no último trimestre deste ano e custará 27 milhões de euros.

Esta subestação vai permitir o reforço da capacidade de interligação a Espanha e a recolha da energia produzida proveniente do reforço de capacidade das barragens de Bemposta (foto) e Picote.

A construção e alteração das linhas eléctricas, cujo início das obras deve arrancar no primeiro semestre deste ano e terminar no primeiro semestre de 2011, vai custar 19 milhões de euros.

VãO começar os investimentos -- não vão faltar empregos nem cabos de alta tensão

mario carvalho disse...

in Correio da Manhã

Vamos ver quantos empregos vai proporcionar aos transmontanos



EDP, liderada por António Mexia, anunciou que será a Somague a empresa responsável pelos trabalhos de construção civil para o reforço da potência da barragem de Bemposta, num contrato de 42 milhões de euros.







A nova central hidroeléctrica de Bemposta II, que deverá estar em funcionamento em 2011, vai exigir um investimento total de 130 milhões de euros e representará um aumento de 80% face à potência da central existente.

mario carvalho disse...

in Correio da Manhã

Vamos ver de quem são os projectos .. quantos locais lá vão pocer entrar e quantos locais lá vão trabalhar



2008-02-12 - 00:30:00

Alqueva
Projectos turísticos avançam em Junho
















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José Roquette, António Mexia, Aprígio Santos e Ricardo Salgado são alguns dos magnatas que irão investir nas próximas décadas mais de 1,2 mil milhões de euros em projectos turísticos situados nas margens da albufeira de Alqueva.







São cinco os empreendimentos de luxo previstos para os concelhos de Reguengos de Monsaraz e Mourão, alguns dos quais com início de obra previsto para Junho. Apenas o do presidente do Naval 1.º de Maio, Aprígio Santos, não arranca nesta data por se encontrar em fase inicial. Os projectos foram conhecidos publicamente em Janeiro, numa cerimónia presidida pelo primeiro-ministro José Sócrates.

O maior projecto previsto para o grande lago artificial da Europa foi apresentado pelo próprio investidor. José Roquette convidou o chefe do Governo a estar presente, em 2010, na inauguração da primeira fase do projecto Parque Alqueva, que prevê, num horizonte de duas décadas, a construção em três herdades de diversos hotéis, aldeamentos, marina, campos de golfe num investimento de 940 milhões de euros, bem como a criação de 2103 postos de trabalho.

“Esperamos ter o licenciamento em Maio para iniciar a intervenção no terreno em Junho”, referiu José Roquette.

Ao nosso jornal José Calixto, vice-presidente da autarquia de Reguengos de Monsaraz – concelho onde ficará instalado este projecto, como também o da Herdade do Barrocal, do grupo Aquapura, de António Mexia, e o do Xerez e Gagos, de Aprígio Santos –, disse que os dois primeiros empreendimentos estão publicados em Diário da República e em condições legais para se iniciar o licenciamento. “Contamos no final do segundo trimestre de 2008 ter obra no Parque Alqueva e Herdade do Barrocal”, adiantou o autarca.

Anunciados foram também os dois projectos para o concelho de Mourão. Na Herdade do Mercador ficará instalado o projecto L’and Alqueva, promovido por Sousa Cunhal Turismo em parceria com o Grupo Espírito Santo, num investimento de 110 milhões de euros. Hotel, aldeamentos, golfe e centro náutico são algumas características do empreendimento, que criará 200 postos de trabalho.

A poucos quilómetros, na Herdade das Ferrarias, será construído o Guadiana Parque, do grupo Hotéis Real. O projecto prevê um investimento de 75 milhões e 200 empregos.

A cerimónia dos novos projectos turísticos de excelência para a região de Évora contava com a apresentação de 11 empreendimentos num investimento de 1,87 mil milhões de euros e a criação de 3754 postos de trabalho. Para além dos quatros projectos para Alqueva foram apresentados outros sete para os concelhos de Évora, Montemor-o-Novo, Redondo e Alandroal. De fora ficou o da Herdade dos Padres, de Fernando Barata. O empresário disse ao CM que houve “um retrocesso” no projecto devido aos atrasos da aprovação do PDM de Évora.

ROQUETTE APOSTA NA INOVAÇÃO

O Parque Alqueva, considerado um empreendimento de Potencial Interesse Nacional, é o que representa maior investimento, quase metade do total. José Roquette aposta em conceitos inovadores no âmbito da construção e arquitectura. A preservação do ambiente, com o aproveitamento de energias renováveis e reutilização da água para rega de jardins, zona desportiva e dos quatro campos de golfe previstos, é outra das apostas. O projecto, situado no concelho de Reguengos, terá hotéis e aldeamentos com 17 mil camas.

MEXIA JUNTA HOTÉIS COM AGRICULTURA

O presidente da administração da EDP, António Mexia, é um dos investidores do projecto da Herdade do Barrocal, situada em Reguengos de Monsaraz. Juntamente com Diogo Vaz Guedes e Miguel Simões de Almeida, que integram a empresa Aquapura, desenvolveu um projecto de parceira com a família de Maria do Carmo Martins Pereira, que engloba um hotel de cinco estrelas, 85 unidades de alojamentoe 600 hectares de agricultura biológica.

APRÍGIO QUER MANTER MONTE DO XEREZ

O projecto de Aprígio Santos é o mais recente de Alqueva. O empresário comprou em 2007 duas herdades nas margens de Alqueva na freguesia de Monsaraz ao ex-eurodeputado Rosado Fernandes por 12,5 milhões de euros.

Além de querer manter o monte do Xerez, onde vivia o político, Aprígio pretende criar hotéis de luxo de baixa volumetria divididos por dois aldeamentos e equipamentos desportivos de qualidade.

DISCURO DIRECTO

"CRIAR CURSOS DE TURISMO" José Calixto, vereador da Câmara de Reguengos

Correio da Manhã – O Alentejo, nomeadamente a região de Reguengos, está preparado para este aumento da oferta de emprego?

José Calixto – A análise tem de ser feita numa vertente temporal. Por exemplo, o Parque Alqueva cria dois mil postos de trabalho e é claro que neste preciso momento o Alentejo não está preparado para essa procura e ainda por cima com algum nível de especialização. São projectos de implementação de vinte anos. Temos de nos preparar para que possam ir surgindo um máximo de alentejanos preparados para aproveitarem estas oportunidades de emprego.

– Que preparação é essa?

– Estamos a trabalhar com o Instituto de Emprego, com a Fundação Alentejo, com escolas Profissionais e Secundárias da região no sentido de criar cursos de turismo que levem os jovens a optar por uma carreira neste sector. A valorização das pessoas e do território é para nós um desafio para as próximas décadas porque nada está ainda ganho. Temos muito trabalho pela frente.

NOTAS

OBRA

Na visita a Alqueva, José Sócrates anunciou a conclusão do projecto em 2012, 13 anos antes do previsto.

ABASTECIMENTO

Em 2009, segundo avançou o primeiro-ministro, estará concluído o abastecimento de água aos distritos de Évora e Beja.

REGADIO

Além da produção de energia e do abastecimento de água, Alqueva tem por objectivo regar 110 mil hectares.

ARMAZENAMENTO

O Alqueva, actualmente com uma cota de enchimento de 147,5, pode armazenar 4150 hectómetros cúbicos de água.

REMODELAÇÃO

Junto ao paredão da barragem vão nascer dois hotéis resultantes da recuperação das instalações da EDP e do monte dos Pardieiros.

OS MAGNATAS DO ALQUEVA

ÉVORA

Promotor: João Rufino

Projecto: Herdade dos Almendres

Investimento: 180 milhões

Área: 245 hectares

Postos de trabalho: 288

Características: Hotel / Aparthotel / Moradia e resort / Golfe

Promotor: Luís Rocha Brito

Projecto: M’Ar de Ar Aqueduto

Investimento: 12 milhões

Área: Não disponível

Postos de trabalho: 28

Características: Hotel

Promotor: Jaime Antunes

Projecto: Évora Resort

Investimento: 250 milhões

Área: 940 hectares

Postos de trabalho: 430

Características: Hotel / Golfe

Promotor: Fernando Barata

Projecto: Herdade dos Padres

Investimento: 30 milhões

Área: não disponível

Postos de trabalho: Não disponível

Promotor: Jorge Rebelo de Almeida

Projecto: Hotel Vila Galé Évora

Investimento: 22 milhões

Área: 1,5 hectares

Postos de trabalho: 85

Características: Hotel

MONTEMOR-O-NOVO

Promotor: Cunhal Sendim / Gp. Lágrimas

Projecto: L’And and Nineyards

Investimento: 40 milhões

Área: 66 hectares

Postos de trabalho: 41

Características: Aldeamento e habitação / Adega

REDONDO

Promotor: Pedro Farinha dos Santos

Projecto: Herdade da Palheta

Investimento: 87 milhões

Área: 302.5 hectares

Postos de trabalho: 79

Características: Hotel / Golfe

ALANDROAL

Promotor: Duarte Guimarães

Projecto: Fortaleza de Juromenha

Investimento: 20 milhões

Área: 224 hectares

Postos de trabalho: 100

Características: Hotel / Aldeamento e habitação

REGUENGOS DE MONSARAZ

Promotor: José Roquette

Projecto: Parque Alqueva

Investimento: 940 milhões

Área: 2064 hectares

Postos de trabalho: 2103

Características: Hotel / Aldeamento e habitação / Zona desportiva / Golfe

Promotor: Diogo Vaz Guedes

Projecto: Herdade do Barrocal

Investimento: 140 milhões

Área: 778 hectares

Postos de trabalho: 200

Características: Hotel / Aldeamento e habitação

Promotor: Aprígio Santos

Projecto: Herdade do Xerez e dos Gagos

Investimento: Não disponível

Área: 415 hectares

Postos de Trabalho: Não disponível

Características: Hotel / Aldeamento e habitação / Zona desportiva

MOURÃO

Promotor: José Gil Duarte

Projecto: Herdade das Ferrarias

Investimento: 75 milhões

Área: 213 hectares

Postos de trabalho: 200

Características: Hotel / Aldeamento e habitação / Golfe

Promotor: Cunhal Sendim / BES

Projecto: L’And Alqueva – Hd. Mercador

Investimento: 110 milhões

Área: 266 hectares

Postos de trabalho: 200

Características: Hotel / Aldeamento e habitação / Golfe
Alexandre M. Silva