Um artigo no "Público" de 17/02/08, da autoria de António Barreto, fez-me novamente pensar sobre o que fazer do interior. E cheguei à conclusão de que há três perspectivas fundamentais:
1 - A primeira e mais comum acha que é possível voltar ao povoamento de outrora, sendo necessário para isso apenas a vontade dos poderes políticos (central e local). Pretende que, num certo sentido, se forem dadas as condições que outrora existiam, se pode regressar aos bons velhos tempos.
2 - A segunda (defendida pelos ambientalistas e, agora, por António Barreto) considera que o destino do interior é ele permanecer uma reserva de beleza natural, apreciável de passagem (p.e., através dos comboios da linha do Douro, até Barca de Alva, e da linha do Tua, até Mirandela).
3 - A terceira hipótese será considerar o mundo rural, tal como existiu durante décadas ou séculos, definitivamente morto e arranjar uma divisão administrativa nova, com menos concelhos e menos freguesias, com a persistência de algumas cidades para viver de modo urbano, e tentar o desenvolvimento económico através da abertura de vias de comunicação e da criação de pontos de turismo, que atraiam gente a gozar a beleza natural e, p. e., a praticar desportos de vário jaez nas albufeiras das barragens e nos montes que as circundam, não esquecendo o pôr de pé uma agricultura moderna e a indústria possível.
João Lopes de Matos
7 comentários:
...mas estamos fartos de falar nisto e no entanto ao que chegamos?
Se quem, por obrigação e por dever tem algo a dizer nada diz, de que valerá sermos tão "masoquistas"?
Sobre António Barreto, acho que agora virou a homem cheio de virtudes! Só virtudes!
Sem ser retrogrado, deixem o interior em paz e sossego e as suas gentes, com os seus usos, costumes e tradi�es preservadas e intactas, que s�o um patrim�nio indescrit�vel e incomensur�vel, sobrevalorizem e fa�am ressaltar esses aspectos e deixem-se de certos modernismos, que podem sufocar e estiolar esse manancial cultural. Qual o conceito de moderno no interior? � t�o vago e relativo.. Mantenham o que o interior tem ou tinha de melhor porque, infelizmente, j� vimos no que deram certos modernismos... Querer-se implementar no nosso pa�s,mormente no interior, m�todos e pr�ticas importadas da Am�rica � perfeitamente descabido, sem nexo e sem senso algum. Qual o resultado? Uma verdadeira trag�dia.. S� gente como a nossa; tolerante e conformista a que n�o � alheio um certo desconhecimento das coisas e da verdadeira realidade, podia aceitar, despaut�rios iguais �queles a que temos assistido e de que temos sido objecto ultimamente.Basta. Caiamos na realidade e actuemos em conformidade. Como soe dizer-se, fidalguia sem comedoria � gaita que n�o assobia.
Este anónimo tem uma linguagem demasiado erudita: mas não será que assim só defende o atraso,e ainda por cima, chama-lhe paraíso?
É capaz de pormenorizar, nesta caso específico, o que entende por atraso e por paraíso? E qual o modernismo que preconiza para o interior, exemplificando?
Atraso é a permanência de formas antiquadas de resolver os problemas ligadas ao modo de viver antigo. Nitidamente, na sua intervenção,ao defender que os portugueses ,isolados da civilização,têm o direito de continuarem assim(sem tomar banho,só com rezas,com ladaínhas, com as suas bruxas e os seus preconceitos) está do lado do atraso e transforma este no ideal de vida para essas pessoas, não para si.
Caro anónimo, vai-me desculpar, mas reputo de absurdo o seu comentário. E sabe porquê? Porque eu não vivo nem quero que ninguém viva no período das Cavernas ou da Pedra Lascada (sabe bem que, felizmente, já ninguém vive assim, nem coisa que se pareça). Só alguém muito fantasioso pode imaginar que eu penso desse modo. O que eu pretendo, é que se respeite o modus vivendi das nossas gentes do interior, sem lhe impormos os nossos modernismos e ideias, o que é bem diferente. Para mim as suas tradições, usos, costumes, a sua prática religiosa são, sob o ponto de vista cultural, uma riqueza incomensurável. São a sua alma, a sua génese, percebeu? Por tal motivo, há que as preservar, respeitar, defender e não lhes enxertar, à força, algo que as possa descaracterizar e desvirtuar. E mantê-las, não é sinónimo de obscurantismo ou outros quejandos, pelo contrário. Também não vejo, na prática religiosa e cristã, de quem quer que seja, uma forma de involução, mas de evolução, na medida em que aquela se traduz num maior enriquecimento e nobilitação interior, para quem o faz com autenticidade e altruísmo.Veja que eu não penso isso de quem é ateu ou agnóstico, e podia perfeitamente fazê-lo, mas respeito.Sei que há muitos ateus e agnósticos com muito mérito aos olhos de Deus, pela maneira humana e generosa como tratam o seu semelhante.Tudo tem de ser interpretado cum grano salis, porque tudo é muito relativo. A minha verdade não tem que ser a sua e vice-versa. Eu não posso rotulá-lo disto ou daquilo, só porque a minha verdade não é coincidente com a sua.
E fico por aqui. Uma coisa é certa, não vou responder mais a provocações, isso não, caro anónimo.
Muito bem respondido. Fiquei convencido. Não vou voltar a importuná-lo. Nem eu quero nem a sua formação moral o permite.
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