terça-feira, 3 de julho de 2007

Daqui e dali... João Lopes de Matos

Amor
Seguem-se algumas perspectivas que me ocorrem sobre este tema. - Não pretendo dizer tudo seja sobre o que for. Todos nós temos uma parte da razão, conhecemos alguns ângulos de visão mas não todos.
A natureza humana é, todos concordam, limitada: - pela inteligência e pela vivência de cada um, pelo "modus operandi" de cada cérebro.
O absoluto, a totalidade, só é acessível a quem tenha essa natureza: - Deus.
O amor, prima facie, é o sentimento ou atracção que une dois seres de sexo diferente. Esta ligação pode e deve tornar-se mais racional, talvez também espiritual, e, sem dúvida, mais profunda.
Se da união entre os dois seres referidos resultam filhos, então não só o amor passa também a ser amor paternal mas igualmente se altera o sentimento primeiro, tornando-se mais sólido e mais responsável.
Uma unidade fundamental da sociedade - a família - aparece aqui a alargar o afecto ao seu seio.
-Entre os elementos dela há uma ligação mais consistente porque os laços de sangue são algo muito importante nas relações humanas.
Deve o amor, no entanto, cingir-se a estas fronteiras? - É evidente que não. - Existe ainda o amor ao próximo, isto é, a todos aqueles a quem calhou viverem connosco ao mesmo tempo à superfície da terra.
Quem ousará negar a beleza que transmite o riso de uma qualquer criança ou o sorriso de um qualquer velho? E, para além disso, deve ou não haver um impulso para os outros?
À propensão para amar os outros poderemos chamar solidariedade.
E o amor ao próximo ou a solidariedade para com os outros será, com certeza, a essência de qualquer religião ou moral.
E Deus quererá outra espécie de amor para com Ele ou ficará contente com este, dado aos outros? - Interessar-lhe-ão apenas as rezas ou interessar-lhe-á, sobretudo, a capacidade de dádiva?
Ele está lá longe, é inacessível, ao que parece, e será através do sentimento de união com os outros que chegaremos a Ele?
Amarmo-nos uns aos outros - residirá nisto a felicidade?
O amor, independentemente da ideia de Deus, impõe-se, mesmo assim, ao homem?
.
João Lopes de Matos

13 comentários:

Hélder Rodrigues disse...

Desculpe, mas o AMOR não se diz... DÁ-SE!


cumprimentos.

Anónimo disse...

Diz-se o amor durante séculos de literatura,porque haviamos agora de remeter-nos ao silêncio?

Anónimo disse...

Prof.Helder:
Obrigado pela participação.
"Dou-lhe" a resposta de Caracol.

Anónimo disse...

O problema está,sobretudo,em saber
o que o amor é,a que impulsos obedece(morais,religiosos,dons divinos,biológicos,humanistas)e gostava que me "dessem" a vossa opinião,que eu depois darei a minha. Por enquanto ponho mais perguntas que"dou" respostas.

vitorino almeida ventura disse...

Em primeiro lugar, caro João Lopes de Matos, acho que as melhores respostas são as suas perguntas...

Que melhor resposta encontrará de Amores do que as dúvidas, as interpelações, perante todas _ _ impossibilidades de verbalizar tão completamente os maiores sentimentos?

E mesmo esses sentimentos sofrem depois todo um jogo de antinomias que Camões leu melhor do que ninguém, dada impossibilidade de racionalmente o entendermos.

A que causas frias obedece? Que suores quentes desperta? Não sei, mas o que é, em ilegibilidade, entre a causa e a consequência, faz-me mais camoniano ou, com Rui Reininho, leitor de uma lírica come on & Ana, do que de uma revista científica, já que a poesia mais nos aproxima da sua transcendência.

vitorino almeida ventura

Zaratustra disse...

caro João Helder Caracol Vitorino,


O amor pode não implica necessariamente uma dualidade entre partes.

Pelo contrário, o amor é quase sempre unidireccional.

Para mim,

o amor, reside numa esperança insuportável de sentir e partilhar
e fica-se apenas por um gesto muito longe da verdade.

e sabeis porquê?

porque o amar é uma estratégia para viver.

Talvez um dia postarei sobre isso.


Caro João,
Sobre presente passado futuro, tenho uma opinião bastante diferente da sua. Ficará para uma próxima.

É um prazer tertuliar convosco.

Hélder Rodrigues disse...

Tem razão "Caracol" quando afirma que o amor se diz durante séculos de literatura... porém, não se trata de definições (dizer não é necessariamente definir). Na verdade, O amor não é concreto, objecto,substantivo, mas sim um "estado de alma", um sentir, que o artista (escritor, pintor, músico...) procura, de algum modo, exprimir com a beleza, a harmonia, a "força" semântica que puder... Estou assim, de acordo com V.V., no que concerne ao "jogo de antinomias"... basta (re)v(l)er um dos célebres versos de índole petrarquista do nosso Camões: "amor é fogo que arde sem se ver..." e estou igualmente de acordo, pelos mesmos motivos, quanto à "impossibilidade de verbalizar" tal sentimento. Ora, em meu entender, o prezado dr. João L. Matos, o que nos mostra são meras definições "compartimentadas", contextualizadas de uma "coisa" que, por si só, não tem definição. Daí, o meu primeiro (inofensivo) comentário, que é, de resto, um verso (excluindo, naturalmente, o "desculpe, mas") de um poema que faz parte do meu livro de poesia "A Palavra na Boca". E só nesta perspectiva de DÁDIVA, no sentido poético (artístico) é que entendo o amor.

Cordiais saudações.

Hélder

Anónimo disse...

Continuo com uma postura um tanto diferente:Claro que com qualquer tipo de amor uma pessoa vibra,escorrem-lhe as lágrimas,sorri-se,escreve,fala.
Mas porquê as reacções? Que mal há
em tentar compreendê-las? Não é isso uma atitude digna do homem: -
tentar compreender-se?
Conhece-te a ti mesmo - dizia Sócrates.
Mais uma vez, obrigado a todos.

Anónimo disse...

Amor constante para além da morte

(...)
Alma a que todo um deus prisão tem sido,
veias que a tanto fogo humor têm dado,
medulas que na glória têm ardido,

seu corpo deixará, não seu cuidado;
hão-de ser cinza, sim, mas com sentido;
pó hão-de ser, mas pó enamorado.

(Francisco de Quevedo)

Anónimo disse...

Diz-se do indizível.
Deixa-nos, como sempre, surpreendidos. Pelo inesperado do tema, pela provocação latente nas suas tão interessantes questões.
Reagimos, disso não há dúvida.
Eu andei vários dias às voltas com a secura do meu comentário.
E quantos dias depois me atrevo a dizer algo mais? Será hoje? E porque me fico em tão grande bloqueio de palavras?Acabarei por dar razão aos que dizem do amor que se não diz?
Diz-se. Diz-se. Diz-se.Forcemos a protecção dos poetas e continuemos a dizê-lo, ainda que não tenhamos as palavras.Digamo-lo como quem o faz,digamos tudo, que de mais nada falamos toda a vida.

Anónimo disse...

AMOR: EXACTIDÃO ABSOLUTA QUE NOS CONDICIONA

Amor? Dizer o amor?
Tantas e tantas maneiras!
Falar, calar, olhar, sentir, rir, chorar…….
Amor? - Uma atitude!
Atitude? – Trono.
Trono? – Mundo.
Mundo? – Nós.

(AMOR AO MEU MARIDO)

ANTI ANTI-MOVIMENTO
Quando me progrido na aura do teu sentimento,
E desperto de cabelos entrelaçados, molhados com teu suor
Repito que ser tua, é a minha majestade.
E celebro-te!

Senhor!
Reino!
Detentor dos meus gemidos!

Nobreza perene insensatamente mergulhando
No mar do teu curso…
Anti anti-movimento entre um espaço que não deixamos existir…
Inscrição perpétua.

(AMOR AOS MEUS FILHOS)

PLENITUDE
A ti, Lara,
Feto, criança, mulher!
Espaço que nunca ninguém conseguirá preencher!
A ti Rui,
Feto, criança, homem!
Espaço que nunca ninguém conseguirá preencher!

AINDA A PLENITUDE
A minha dividiu-se
E de mim, sairam Aqueles que eu amo
Que me Preenchem e me Completam
Mesmo eu sabendo que cada um é ele próprio…

AINDA MAIS A PLENITUDE
Nascemos!!
De tão desejados que fomos, aparecemos no Mundo para mudar o Mundo… , …
Perto de nós, todas as flores se escondem!!
O sol dar-nos-á chama em todos os caminhos que idearmos!!

(AMOR PERDIDO)

QUESTÃO

O fardo de me quedar a deixar-me a ti
Que me recheaste inteira os espaços
Extinguiu todas as minhas forças
E fez-me sentir escrava do mundo que descobri.

Que amor é este,
Que de tão forte
Me fez cair?

(AMOR UNIVERSAL)

METADES
Sou metade do que sinto
Metade do que dou
Metade do que eu me sinto eu te dou…

Escrevo a minha metade
E espero a outra

(AMOR AOS IRMÃOS)

INTENÇÃO
Mano,
Vida, Luz, Brilho,
Atalho a cores…
Viagem. Opção.
Nuvem que desmaia a lua.
Dia. Curva.
Volta ao mundo
(todo, o instante).
Ver. Rir.
Querer chorar, continuando a ser.

(AMOR À MÃE)

MÃOS DE MÃE
Os meus cabelos vivam mãos suaves:
- Dorme…Sonha
(Quando eu era criança…)
Ventre que me gerou
Olhos que me olharam
Nasci,
Para ser parte de ti…
Dia da Mãe em 1979

(AMOR AOS AMIGOS)

BEM-QUERER
Se me pedirem para sorrir,
Chorarei…
Não posso ser alheia à alegria de constatar que o meu sorriso afortuna Alguém!

(AMOR DESAMOR)

ACASO
Já dissemos tantas vezes a palavra
Amor
Que ele consumiu-se, finalmente
Sim, porque todas as palavras se acabam
Morrem por não existir

E fica, assim, uma pessoa
Procurando nos ombros algum resto da palavra
Que por acaso
- Só por acaso -
Tivesse ficado esquecida…

(OU SIMPLESMENTE O QUE EU PENSAVA AOS 14 ANOS)

OMNIPOTENTE
Conhecer o amor É não saber defini-lo.

Alzira Lima de Jesus Castro Pinto

Anónimo disse...

Estava eu entretido a fazer um
comentário quando, dada a minha pouca habilidade,o texto desapareceu no computador.
E eis que volto e dou com a maravilha de um novo comentário-
texto. E apetece-me calar-me por
estar tudo dito.
E diz-se ou não o amor?- Já não sei.
Mas queria pôr outras questões:
Porque não falaram no amor a Deus
relacionado com o amor ao próximo,
problema por mim posto?- Tantos
crentes e nada?
E o amor puramente humanista como
se fundamenta?
Porquê não "tentar definições"?
Estuda-se literatura ou lê-se apenas literatura?
Para quê falar de correntes literárias? - Classicismo,romantismo, realismo,
neo-realismo,etc., tudo desnecessário? Para quê estudar?
Porque não apenas sentir? Tentar
explicar para quê?

Anónimo disse...

Ao ler Alzira Castro Pinto, senti afundar-me.

Senti que ainda há pessoas com uma sensibilidade que fazem os outros descer à terra.

Senti que há muito a aprender,
Senti um exemplo.


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Eu não me digo... mas acrescentei-me ao lê-la.