O Senhor Pinto
É natural que já antes nos tivéssemos encontrado. Mas verdadeiramente foi há cerca de dois anos que nos conhecemos.
Estava eu no "Planalto" quando ele entrou e se me dirigiu em tom animado, a falar como se fôssemos velhos amigos.
Filosofou, falou em alemão e em inglês e até discursou. Era um senhor peculiar, frontal, falador, muito comunicativo.
Posteriormente, quando me encontrava, metia sempre conversa. Era exuberante e cortês.
Isto até que comecei a notar nele uma mudança: - Estava mais sóbrio, muito concentrado, modos controlados.
Até aí era ele que tomava a iniciativa de se me dirigir. A partir daí, passei eu a interpelá-lo: - "Sr. Pinto, está diferente, que se passa consigo?" - "É preciso mudar".- respondia ele.
Mas continuava a andar imponentemente montado num cavalo enorme e elegante.
E habituei-me a considerá-lo uma pessoa imprescindível à vivência própria de Carrazeda. O progresso fora capaz de preservar a permanência dessa figura ímpar e mais o seu cavalo.
Agora soube que o sr. Pinto morreu.
Doeu-me. É como se uma parte de Carrazeda tivesse desaparecido com ele.
Sr. Pinto, gostava de o ver mais vezes por aqui.
Apareça-me nas ruas de Carrazeda, pelo menos em lembrança. Não se esqueça.
E obrigado, Senhor Pinto, por ter entrado na minha vida.
João Lopes de Matos
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