Houve tempos em que os serviços públicos eram mínimos. E eram mínimos porque não havia da parte do Estado sentido de responsabilidade pelo bem-estar das pessoas e porque o número destas era diminuto, não justificando a existência de repartições do Estado próximas dos cidadãos.
O tempo passou, o Estado assumiu papéis que antes julgava não lhe pertencerem e a população aumentou imenso. Houve, em consequência, necessidade de criar vários serviços públicos para atender às necessidades dos cidadãos e até do próprio Estado na cobrança dos impostos.
Durante muito tempo, este alastramento estatal esteve num crescendo constante. Claro que quem fala em Estado fala em câmaras municipais e Juntas de Freguesia.
As pessoas viveram durante décadas numa economia de subsistência e com pouco se contentavam. A pouco e pouco tornaram-se, porém, mais exigentes; como não havia empregos privados, as pessoas procuraram encaixar-se nos serviços do Estado.
Mas, com a emigração para o estrangeiro e para as cidades, a população foi-se reduzindo mais e mais.
De tal modo que hoje nitidamente os funcionários públicos são em número excessivo em relação às pessoas que servem.
Há que criar mais empregos privados para que volte a existir uma proporção razoável entre os que servem e os que são servidos.
A não ser que queiramos aceitar que os que servem se servem a si próprios.
E então chegaríamos a uma sociedade perfeita em que os servidores seriam exactamente os mesmos que os servidos.
Talvez então, para aumentar a concorrência, pudesse ainda ser criada outra Câmara com outros tantos funcionários e houvesse depois uma disputa sã entre os funcionários das duas câmaras.
E então não sei, sr. Presidente, se a sua Câmara ganharia, se não seria ultrapassada pela outra, a não ser que se desse o milagre de aumentar enormemente a eficiência da sua máquina.
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João Lopes de Matos
2 comentários:
Esta ideia das duas Câmaras é de uma mente verdadeiramente luminosa... de luzes de sombra. - Deverei chamar-lhe poeta?
Pergunta-se: 2: por razões de mercado? por que leis da concorrência?
2: E isso vem de quem defende há muito a extinção de muitas juntas de freguesia, dado o contexto...
Como se sente o meu amigo João Lopes de Matos: como tantos, um profeta que prega no deserto? (Espero que não, pois os profetas não liam, nem podiam escrever - e tinham horror aos livros, 2º George Steiner).
Protesto também a minha grande admiração por si. Mas seja bem-vindo à literatura!
vitorino almeida ventura
Espero que vos seja claro a referência ao horror aos livros, pelos profetas: pela abstinência,pelo misticismo, pelo sulco do sofrimento na carne...
Espero que.
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