Silêncio é o barulho baixinho: os Amigos de Alex (2)
Esqueci de referir que tentei deixar um comentário no blog do Alexandre J. Q., mas me foi difícil, e como não queria entrar Anónimo…
Ainda sobre O silêncio dos livros, George Steiner sublinha a fragilidade da escrita — e que ela-própria tinha inscrita a possibilidade do seu fim. Aliás, Jesus de Nazaré e Sócrates, nenhum deles foi autor (palavra com a mesma raiz de autoridade), nem fez questão de ser publicado, não fossem, respectivamente os discípulos S. Paulo, mestre em relações públicas avant la lettre, para além de grande escritor: e Platão…
Faz depois um percurso sobre os ratos de biblioteca, como Montaigne na sua torre, mandando afastar dela até os familiares mais próximos… para concluir que os vários momentos de tempo livre para uma leitura séria, silenciosa e responsável se tornaram hoje apanágio dos universitários e dos investigadores tão-só.
Mas, segundo Michel Crépu, citando o magnífico começo de Em busca do tempo perdido de Marcel Proust… À mesa não se lê? Não faz mal, o livro continua a ler-se na cabeça dele. Só mais um bocadinho de paciência e lá estará o quarto e o silêncio da luz coada pelas persianas… Como o paraíso de Combray, da leitura à sombra do castanheiro [nas minhas férias ao Pombal, havia um limoeiro do meu tio], onde se opera(va) a metamorfose, um tempo outro a nascer dentro do tempo, um mundo novo a surgir do nada, numa língua que não era a linguagem… Como o narrador (…) do tempo perdido, era grande a minha crença na riqueza filosófica, na beleza do livro que estava a ler e tão grande o meu desejo de apropriar delas. Mas hoje a imposição mudou — já não é o ir para o quarto, mas o dele fugir a 7 pés. Se o Figo está a falar, na televisão, ou o Cristiano Ronaldo dá autógrafos, no hipermercado, como é que um jovem pode optar por fechar-se com as Mil e uma Noites? Venha o castigo! Medicina! Psiquiatra! Angústia! Angústia!
E como acredito na Lição dos Mestres, penso que o poder mediático tem uma substância nula a transmitir… É mais democrática — e os deveres e os direitos são iguais, mas confunde igualdade com igualitarismo. A minha opinião sobre vinhos é nula (por isso, a não dou; e bem gosto de ouvir meus primos Luis Filipe, máximo vencedor dos prémios na feira de Pombal de Ansiães, e Luis Carlos, da marca Côrtes do Tua). Daí, que sinta, relativamente ao Alexandre J., a graça de uma troca, baseado num eros construído numa base de confiança recíproca. Aí a intensidade do diálogo gerou amizade no sentido mais elevado do termo, numa aprendizagem recíproca. Claro que
é muito bom, como defende Steiner, ‹‹despertar noutro ser humano poderes e sonhos além dos seus; induzir nos outros um amor por aquilo que amamos; e fazer do seu presente interior o seu futuro››.
Silêncio é o barulho baixinho… faz, para mim, um muito particular balão de ensaio para um novo e g r a n d e espaço de troca. Parabéns, Alexandre!
vitorino almeida ventura
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