Mais do que nunca é o comércio que regula a música, assim como outras formas de arte, mas hoje vou-me “limitar” à música.
É com profunda tristeza que vejo multinacionais discográficas dispensar grandes nomes (veja-se o caso da EMI com Sérgio Godinho) para apostar em bandas “plásticas”, de sucesso fugaz, mas que movem multidões durante um ou dois álbuns, normalmente separados por um curto espaço de tempo. Não vão as pessoas esquecer-se deles.
É assim que se vive hoje. Desprezamos o “certo e bom” e corremos atrás da moda: as empresas discográficas vendem discos, as empresas do têxtil vendem roupas, calçado e acessórios, a imprensa vende revistas e posters… E nós temos de ouvir e ver tudo isso, queiramos ou não. São as crianças, alegremente vestidas com roupas iguais às da menina que “dança tão bem”, são os adolescentes que carregam orgulhosamente correntes e pulseiras de picos, sem sequer saber o significado de tais adereços ou o nome das bandas que originaram o movimento Punk, quanto mais a sua história. E o que mais me confunde é ouvi-los dizer que gostam mesmo é de hip-hop e que o rock não passa de barulho. Mas quem olha para eles…
Já lá vai o tempo em que, associado a um género musical, não havia um estilo, mas uma atitude. A nossa sociedade precisa de encontrar isso mesmo: uma ATITUDE.
Para outra altura ficarão os fãs que só o são porque o líder de determinada banda se suicidou ou morreu de overdose, mas, tal como já referi, isso ficará para outro dia.
Também nas rádios se verifica uma corrida ao que está na moda, às bandas de novela, às bandas em que as editoras apostam forte, para deitar fora pouco depois. Não sei se é problema meu, mas tenho a sensação de que grande parte das rádios mais ouvidas em Portugal têm “listas de reprodução” muito idênticas, que são repetidas, dia após dia, até que surge um novo “fenómenos” musical que ocupa os emissores nos dois a três meses seguintes. Mas, “é disto que o meu povo gosta”, como diria o saudoso Jorge Perestrelo.
Salvam-se algumas rádios locais e as emissoras estatais, com especial destaque para a Antena3, no que ao que se vai fazendo por cá diz respeito. Antena esta que esteve recentemente em risco de cessar funções, exactamente porque não lhe era reconhecido o tão importante “cariz de interesse público”.
Ao tempo que não ouço Pink Floyd na rádio… E Ornatos Violeta?... (Suspiro)
São os lobbies do comércio mundial que nos alimentam os ouvidos, o nariz, os olhos e a boca. São eles que escolhem o que vestimos. São eles o nosso “Big Brother”…
Vamos fugir!
Para onde?!
Alexandre Quinteiro
2 comentários:
Uma Visão critica notável. Parabéns.
Não contra ti, mas contra o catastrofismo apocalíptico sou a pronunciar-me:
Quando inventaram a escrita, os filósofos de então, alertaram para a perda de memória. Mas o que se verificou foi um aumento da capacidade de memória para além do cérebro humano em repositórios bibliotecários.
Com a surgimento da Televisão e a sua rádio difusão às massas, os críticos vieram dizes que se iam perder hábitos de leitura. Mas as vendas de livros explodiam cada vez que se lançava um livro na TV.
Com a world wide web, vieram alertar para o perigo da perca da socialização. E pelo contrário, a rede ajuda-nos a falar on-line com os primos lá no Brasil. E os livros continuaram-se a vender. Cada vez melhor também com a ajuda da web.
Em suma:
A escrita aumentou a capacidade de guardar memória;
A Televisão ajudou na implementação da leitura;
A WWW está-nos a unir.
E está a crescer uma outra coisa:
- a capacidade crítica - porque ao termos conhecimento do que se passa no mundo inteiro, permite a comparação e ao mesmo tempo a afirmação da nossa realidade perante a sociedade global.
A questão de fundo que tu excelentemente levantas é: Perder-se-à qualidade com a efemeridade?
Ao que eu respondo: - Não sei. É verdade que o efémero é um produto do consumismo porque o mercado precisa da efemeridade para fazer movimentar capital- Economia estúpida, diria Bill Clinton. Mas ao avaliar pelos exemplos anteriores é plausível que não.
Jorge Palma
Sérgio Godinho
David Bowie
Continuam a ser (bem) ouvidos.
Jim Morrison
Mozart
Vivaldi
São sistematicamente
(re-)reproduzidos.
Paradoxalmente, parece-me que a globalização consumista está a enriquecer a capacidade critica que se reflecte na capacidade de filtrar o que realmente nos importa.
E por isso enquanto não houver na nossa sociedade capitalizada, monopolização de capital (outro assunto), podemos estar descansados.
cumprimentos
Sobre a arte da fuga ao Big Brother, relativamente à pertença a um colectivo que nos dissolve, em alteridade,
só me apetece responder como Groucho Marx, que nunca pertenceria a um clube que o aceitasse como membro.
Ab.,
vitorino almeida ventura
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