terça-feira, 8 de abril de 2008

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

O mérito da ‹‹Ministra da Avaliação››,

perdão, disse José Sócrates, corrigindo seu acto falhado: da Educação. Ao contrário de radicais, a favor ou contra, a Ministra goza, para mim, de um mérito indesmentível: ter unido uma classe (que o não era) contra si. É que, ‹‹antes›› da Ministra, havia uns ‹‹professorezecos››, a tempo integral, e outros, engenheiros, arquitectos, advogados, industriais, economistas, docentes que acumulavam no privado, etc., para os quais a Escola seria um gancho, um tacho, uma 2ª ocupação, bem inferior. Com isto não quero dizer que não houvesse, entre estes, alguns que se dedicavam e que funcionavam científica e pedagogicamente melhor do que alguns dos que estavam a tempo inteiro.

Agora, a Avaliação de Mª de Lourdes R. obriga a realizar e a registar por escrito cerca de 100 actos cognitivos!, como bem demonstra o blogue terrear, como fosse possível registar tudo!, sendo como se sabe, segundo as teorias do movimento Escola Moderna, a hiper-regulamentação fascizante, o que transforma a docência numa burocracia em espiral… Deixando pouco à tarefa da planificação de aulas e estratégias didácticas, apenas interessando os números de uma progressão automática dos alunos, quando se corta a dita automática dos professores, agora transformados amanuenses, de acordo com o verdadeiro autor das reformas da Educação e da Saúde: o Ministro das Finanças.

Não percebendo que o trabalho dos docentes deve ser em partilha — e não de uma competição selvagem… Se pensarmos bem, não vale a pena fazer a vontade à Ministra e olharmo-nos de lado, até porque

tal avaliação deixa tudo na mesma. Pior: coloca um tecto a meio das carreiras de professor e titular aos mais jovens, mesmo os melhores não sendo promovidos, dado o quadro de titulares estar de quotas preenchido... pelo concurso já efectuado pela senhora Ministra, digo, S. Ex.cia o Ministro das Finanças. Se não vejamos, um exemplo só: no 1º Ciclo, 2º, 3º, Secundário, escolham vocês o nível e a disciplina: História, Ed. Física, Ed. Musical…, na Escola x, temos um professor do quadro novo com 10 anos de serviço e 1000 euros de vencimento que, analisados os itens da avaliação, seja considerado pela Escola como Excelente. E outro, com 30 anos de serviço e mais de 2000 euros, com imensos problemas pedagógicos e científicos, que não planifica o trabalho e é classificado com regular ou bom. Dois anos depois, a mesma classificação…
No ano seguinte, há uma só vaga na Escola para a disciplina, dado o pouco número de alunos… — quem é que tem de fazer as malas? A Ministra já escolheu, antes da avaliação: vai embora aquele cujo (de)mérito é ser mais novo, de acordo com a Gerontocracia implantada por decreto. Logo, esta Avaliação não muda nada — impedindo quase todos-todos os mais jovens (até aos 17 anos de serviço) de ascenderem ao topo da carreira… Apenas servindo as suas possíveis menções de Excelente e Muito Bom como Menção Honrosa.
Desenganem-se os que assim julgam que vão ser afastados os menos competentes e capazes.

vitorino almeida ventura

Post Scriptum: Mas a Ministra teve mesmo um mérito — o das aulas de substituição, não por elas próprias, se a princípio foram feitas de actividades lúdicas apenas, mas porque forçou as Escolas a organizarem-se melhor e a proverem ou dentro do Departamento ou dentro do Conselho de Turma as ausências, com (planos de) aulas. Escusado era dar-lhe argumento para… Mas é indesmentível que assim há muito menos.

16 comentários:

Unknown disse...

O sistema de avaliação,aqui descrito e criticado, talvez seja demasiado burocrático e com ele talvez não se consiga o que é mais importante:uma avaliação independente,desformalizada,colocadora das peças(professores) nos lugares para que tenham mais aptidões,premiadora do mérito,provocadora de aperfeiçoamentos pedagógicos.
Um papel deste género seria,talvez,mais bem desempenhado por inspectores independentes e que trabalhassem a nível regional,que pudessem e devessem estar sempre em cima dos acontecimentos,que propulsionassem a resolução célere dos problemas:disciplinares(de professores e alunos), de substituição pronta de professores ,de conhecimento de características especiais (de professores e alunos)e de tomada de medidas mais graves (também de professores e alunos).
As escolas,em princípio ,devem funcionar por si.Os inspectores estão lá para ver se efectivamente funcionam ou não.
Os inspectores(chamemos-lhes directores)regionais estariam preparados para resolver todos os problemas com celeridade,coadjuvados por assessores e pelos gestores das escolas.
JLM

Anónimo disse...

Que me desculpe JLM mas ele mostra estar bem longe da realidade das escolas e da problemática do ensino. As coisas não são assim tão lineares, pode crer.

Unknown disse...

Acredito que as coisas não sejam tão lineares.A minha intervenção teve por fim provocar polémica.Só que a sua resposta,de tão lacónica,não acrescentou nada ao já dito.Se nos explicar os seus pontos de vista,acha que não seremos capazes de compreender a sua visão?
JLM

Anónimo disse...

Em primeiro lugar os meus parabéns ao autor do artigo, o meu distinto colega V.V.. Realmente, toca em pontos essenciais, dado que ninguém fala nisso que ele mostrou, que a classe dos professores não existe, foi criada pela Ministra, pois consegue ter contra ela todas as associações de professores. Depois, a Ministra escolheu os mais velhos como os melhores, antes de fazer a avaliação. Como mostra V. V., nem todos os professores são bem pagos. Os jovens andam de terra em terra, com menos de metade do dinheiro dos mais velhos e nem todos serão piores professores do que os mais velhos. Mas a Ministra já escolheu. E mesmo que sejam, na eventual avaliação, melhores, os jovens são os primeiros a ir para o olho da rua, já que os titulares não podem ir. Ora, essa do Ministro das Finanças ser o autor das reformas é da arqª Helena Roseta, não é?!
Quanto ao que disse o senhor JLM, acho que defende (sem o saber?) o sistema alemão de avaliação, que parece mais justo, pois se um par avalia o outro e, avaliador e avaliado, podem ter os dois muito bom e a escola só pode dar a um tal classificação, quantos avaliadores, parte interessada, juízes em causa própria, irão dar ao Outro a nota justa, e não eliminarem a concorrência com um bom, para que o muito lhes seja reservado? Também JLM propõe bem (sem o saber?) uma avaliação formativa, que leve os professores a serem melhores.

António Figueiredo

Unknown disse...

Realmente desconhecia que era o sistema alemão o por mim indicado.
Quanto ao outro"sem o saber",reconheço que não me baseei em nenhum sistema conhecido para fazer os meus alvitres.
JLM

Anónimo disse...

Está a ver, caro JLM como isto não é assim tão linear? O meu laconismo justifica-se porque nada tenho a acrescentar ao texto de VV, que me parece bem explícito e fundamentado e com o qual (por isso) concordo. O texto de A. Figueiredo vem, e muito bem, corroborar o primeiro. Já agora, deixe-me felicitá-lo, JLM, por ter a humildade de reconhecer que não estava bem preparado; é que este gesto já vai cada vez mais rareando...

um prof.

Unknown disse...

Mas o não estar plenamente preparado(quem o está?) não vai impedir-me de dizer o que me parece útil à minha aprendizagem e dos outros.É que nem toda a gente tem a sua preparação e nós que pouco sabemos queremos saber mais. Não é também para isso que servem os blogues? Quem poderia escrever se só pudessem fazê-lo os plenamente sabedores? Talvez só Deus mas Ele parece desinteressado destes assuntos porque nada diz.
Não gabe a minha humildade porque para mim, sendo eu um ser humano(por isso,limitado),o reconhecimento da minha ignorância é a demonstração do reconhecimento da minha natureza.
JLM

Anónimo disse...

Houla, os comentadores do pensar-ansiaes mudaram-se para cá? Qual a necessidade de dividir as pessoas pelas opiniões doutas e não doutas? Não será porque ninguém lhes reconhece a doutice? Ganda nóia. Neste caso, a pesquisa do anónimo Augusto do séc.I a.C., na net, foi mesmo ao lado. O quadro em baixo é do Da Vinci, como VAV refere, e não o tratado de Marco Vitrúvio. O círculo e o quadrado estão na imagem. É tudo tão nítido, mas porque será que mesmo assim o Augusto não vê?

J. C.

Anónimo disse...

O quê, João Carlos, então agora os blogues viraram coutadas? Este é daqueles e este é nosso? Sim senhor! Quanto ao quadro de Da Vinci, quem lhe disse a si que ele não se inspirou em Vitrúvio? Quanto ao tratado deste, creia que não houve necessidade de ir à net, mas se fosse, a net serve para isso mesmo, não é? Quanto a JLM, se antes lhe gabei a humildade, não o posso agora fazer quando usa a falsa modéstia e uma ironia que me parece barata de mais para a qualidade e isenção a que já nos habituou. Quanto ao douto ou não douto, todos o somos e ninguém o é...(e só isto dava "pano para mangas").

cumprimentos a todos.

Anónimo disse...

Ora, ora, divino Augusto: é sempre bem-vindo, por aqui. Mas não lhe fazia mal reconhecer o erro de não ver nenhum tratado de Vitrúvio, simplesmente porque estava perante a obra de Da Vinci. Só que agora está a tornar-se uma autêntica paranóia vir aqui a todo o tempo fazer considerações sobre a pessoa de JLM, sem argumentar sobre aquilo que vai estando em debate.

J. C.

Unknown disse...

O meu caríssimo anónimo,tal como eu, dá uma no cravo outra na ferradura.Como desconheço se há ou não sinceridade nas suas palavras,não posso deixar de jogar à defesa.
Mas agora passo ao ataque:já reparou que quer intimidar mais que convencer?Usa e abusa do argumento de autoridade para convencer como se eu fosse obrigado a conhecê-lo.Se é quem eu penso, vergo-me já à sua superioridade intelectual.
JLM

Anónimo disse...

Senhor JLM, o seu segundo parágrafo é de uma tremenda injustiça! Em que é que se fundamenta para afirmar tão levianamente que uso e abuso do argumento da autoridade para convencer quem quer que seja? Eu julgava que aqui tinha liberdade para tecer respeitosamente os meus comentários, mas parece que não é bem assim. E depois, quanto à sua última frase (insiste no tom irónico, jocoso, que aliás o caracteriza), enfim, tenho que o aceitar com a bonomia que qualquer respeitável ancião me merece.

Anónimo disse...

Caro J.C. qunto ao quadro de Da Vinci, parece que descobriu a pólvora. Se calhar, quem sabe, já o conheço há mais tempo do que você. Mas permita-me a sugestão amiga: era bom que aprendesse mais qualquer coisa sobre Vitrúvio...

Anónimo disse...

O exibicionimo vazio deste anónimo é de uma indelicadeza confrangedora!
Miguel

Anónimo disse...

Pois eu, que tenho acompanhado este interessante diálogo, não vejo onde haja qualquer exibicionismo de parte a parte. O que me parece é uma simples diversão entre pessoas amigas, com cultura acima da média para animar o blogue. Por isso Miguel, onde está o exibicionismo? Inda para mais vazio? Quando há qualquer coisa nunca pode ser vazio, pois o seu conteúdo prevalece.

Unknown disse...

Estive arredado por umas horas do blogue.Daí a minha indelicadeza de não lhe haver respondido de imediato.
Quando falei no argumento de autoridade(de superioridade?) foi porque não me respondia argumentando sobre o tema mas sim sugerindo que eu me deveria calar porque nada sabia.
Confesso que gosto de ironia,a que chamou de barata,embora eu não tenha estipulado qualquer preço.Não pretendo ofendê-lo mas apenas não levar as coisas demasiado a sério.
Também não quero coarctar-lhe a sua liberdade.Pelo contrário,quero que expanda com mais delonga as suas opiniões e que não se fique por apreciações vagas.Suspeito que tem mais e melhor a dar a todos nós.
Fico-lhe muito grato pelo respeito e consideração que demonstra pela minha provecta idade.Merece que quando chegar à minha idade tenha um tratamento tão delicado como o que usa para comigo.
JLM