terça-feira, 15 de abril de 2008

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

You are welcome to Elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
hélices que andam e podem dar-nos morte
violar-nos tirar do mais fundo de nós
o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
(…)
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny, in Pena Capital

Sem pretender intervir na disputa entre dois imperadores (da Última Palavra), hetero-intitulados Césares, Augusto e Nero, dadas _ _ minhas origens plebeias, mas porque toda a polémica se instalou por ter eu achado adequada uma ilustração de Da Vinci, convocada por Rui Martins para as linhas justas de um texto de JLM, venho aqui publicamente considerar mui-muito positiva

a eventual participação de residentes do pensar-ansiaes neste blogue. Sabe-se o meu apreço pela obra de Hélder de Carvalho e pela opinião de José Mesquita, o qual me teceu dos mais rasgados elogios, aquando da minha participação nesse blogue, memória que conservo religiosamente em papel.

Tenho de confessar, porque não tenho a idade dos dois imperadores, que apenas soube do quadro quando tinha já 14 anos e através de uma réplica, na capa de um disco dos Van der Graaf Generator, a qual me foi mostrada pelo Miguel Calvário, em casa do Paulo de Carvalho, ao Pombal, ponto de partida para uma relação de profunda admiração pela lírica de Peter Hammill… E tenho pena de os não poder rever ao Fundão, que aí são Cabeça de Cartaz.

Mas obrigado ao J. C., digo, Nero, porque tem outro peso o argumento de autoridade, vindo de Si.

Também gostaria de agradecer ao cognominado Augusto, as palavras com que se identificou a meu texto sobre a ' Ministra da Avaliação': tão explicitamente… Por isso, mais pena tenho de não poder retribuir do modo mesmo, uma vez que não vejo que sejam diferentes das de JLM, as quais acha completamente infundadas. Aliás,

tanto as minhas quanto as do meu colega António Figueiredo, neste ponto, nada diferem das de JLM, com quem outras vezes tenho o enorme prazer de discordar, admirando a sua diferença. Mas, esclareça-me, pois posso eu estar a interpretá-lo mal, não estando em meu poder julgar o alcance da compulsão obsessiva pela fina ironia de JLM, em ordem de a — como dizer?, Silenciar e Apagar são palavras fortes… Ah, chegou-me agora mesmo um eufemismo: pois bem, Limpar… O que afasta, desde logo a hipótese de César Augusto encaixar no perfil de José Mesquita, dado o seu grande amor pela Sátira, para o qual o humor de JLM, a pecar, seria por defeito. Juntando os des_
conhecimentos que esse Augusto tem da obra de Vitrúvio, não se apresentasse como um homem de cultura, mas de política enviesada, e diria que ab
usa da mais profunda demagogia (no sentido aristotélico do termo, claro, para contextualizar em sua Antiguidade), uma vez que, no lugar dos traços indecifráveis que diz caracterizarem a obra do fundador da clássica arquitectura, em todas as Histórias de Arte elas são em proporção e simetria, a não ser em próprio espelho de seu desígnio in_
decifrável… Mas claro que o defeito será meu, que não tenho olhos, nem tacto para. E os seus assentimentos, com as melhores das intenções, suponho, são assim em meu corpo recebidos na pele de galinha, com um cala_
frio a percorrer-me a espinha, sob o fio do maior cinismo, como se estivesse servindo no reino da Dinamarca, ao drama de Hamlet, para o qual remete o poema de Mário Cesariny, ou na corte de Ricardo III, _ _ pleno Shakespeare.

vitorino almeida ventura

P.S. Mas, repito— serei eu quem ouve de mais o clássico Motorhead e o seu bíblico Kiss of Death! Mea culpa. Agora, se tudo isto contribuiu para que se conhecesse o quadro, além do filme Código da Vinci, saímos todos daqui, imperadores e seus clientes (romanos), bem mais informados

9 comentários:

Unknown disse...

Cada um à sua maneira( um ligado ao torrão natal como Torga,outro teimando em manter a ligação às origens maternas,como alguém que se gosta de sentir,por vezes,o oposto de si próprio),têm contribuido para o engrandecimento da palavra e do concelho que amam.
Na sua diversidade ,são ambos indispensáveis ao continuar da alma carrazedense,que cada vez mais se alarga e se afirma.
Por isso, Carrazeda precisa de todos os pensares na refrega de argumentações que a todos engrandece.
JLM

Anónimo disse...

Mas qual disputa? Quais imperadores? Afinal, o que vale a metáfora? O "rendilhado" poético de Mallarmé?
E depois, esclarecer "o alcance da compulsão obsessiva..."?!
Não queira fazer de Caronte, que ainda é muito novo para isso, e abandone de vez as sombras das margens de Estige... Afinal, quem é que pode transportar alguém para o "inferno"? Quo vadis, VV ?
O homem é menos ele próprio quando fala em seu próprio nome, como sugeria o "maroto" (há quem lhe chame pérfido e certeiro) do Óscar Wilde...
Assim, prefiro, porque aceito como provável a sua contextualização, o oportuníssimo comentário que me precede, do respeitável e caro JLM, a quem saúdo.

Cumprimentos (sem "kiss of death, please!).

vitorino almeida ventura disse...

Em primeiro lugar,

cumprimento-o pela forma elevada com que se me dirigiu e retribuo, sem Kiss of death, embora as minhas referências sejam mais as bíblicas do Evangelho de São João, cuja trama dramática é sublime - alguém que trai com um beijo!, do que as da «luta greco-romana» clássica... E o que seria de muita da lírica do cena de metal sem os textos bíblicos?

Já quanto a Mallarmé, atrai-me profundamente a utopia do Livro, para lá de retomas musicais como as de Pierre Boulez...

Bom, mas nunca me atraiu de todo Caronte, nem via Gil Vicente, pelas barcas. Velho ainda não sou (assim o diz) e esquálido (assim o espero: que não). Quanto a transportar as almas dos mortos, prefiro fazê-lo para este lado, ao contrário de Penélope, e relembrar com quem muito aprendi: não me canso de citar a Mário Almeida, Filipe Lobo e a Joaquim Morais, como exemplos. Aliás, se coisa há de que me não podem acusar, é de não reparar no trabalho dos outros para a Comunidade. E começo também a gostar muito de polemizar consigo, mesmo sem o conhecer. A diferença e o mistério agradam-me. Obrigado.

vitorino almeida ventura

vitorino almeida ventura disse...

Errata: da cena de metal, claro.

Anónimo disse...

O nível parece aumentado muito nos últimos tempos e isso deve-se a uma aposta de qualidade do administrador deste blog. Já que aqui se fala no pensar-ansiaes, poderiam comentar o artigo urinar na democracia de hélder de carvalho, em que entram cães grandes e tudo!
Aguardo.

vitorino almeida ventura disse...

Peço desculpa,

mas não vou comentar texto algum do meu amigo Hélder de Carvalho, de quem admiro imenso a obra, porque não sou cientista político, nem opinion maker generalista. Acresce, desejo as melhores felicidades ao blog pensar-ansiaes, onde colaborei e tive sempre do Administrador um devido reconhecimento pelas minhas iniciativas para a Comunidade. De todo o modo, acho bem, muito bem haver dois tipos de linguagens, por aqui e por ali. No entanto, sempre vou dizendo que a palavra urina pode ser usada poeticamente. Como Álvaro de Campos usou a MERDA! e as novas correntes escatológicas, de Quintais a Valter Hugo Mãe usam as vísceras...

Esperando não o ter desapontado,

VAV

Anónimo disse...

João - " Carrazeda precisa de todos os pensares na refrega de argumentações que a todos engrandece "- JLM
Mas, no entanto e como sempre, uns pensam e argumentam, outros apenas lêm, nem que a responsabilidade de argumentar ou de contradizer, lhe caiba por inteiro.
Cobardemente não o fazem porque têm um umbigo demasiado saído o que lhe entope a visão.
Guardar-se-ão para a campanha eleitoral de 2009?

Anónimo disse...

Não é lêm, é lêem. A isto se poderá chamar de visão entupida...

Anónimo disse...

VV:
a diferença e o mistério também me agradam e isso é uma feliz convergência, como o são quase todas, pois será muito mais o que nos une do que o que nos separa, se quisermos referir-nos ao intelecto e até mesmo às reminiscências telúricas mas, por favor, não diga que não me conhece, com essa notável perspicácia que o caracteriza (tal como JLM).
Saúde (tal como cumprimentam os alentejanos).