Missiva«Eu, Génio, me confesso a Vós, Senhor de Selores:
Caro amigo (permita que o trate assim):
Caro amigo (permita que o trate assim):
Não sabe a angústia e o desespero em que tenho andado. Olho à minha volta e só vejo o deserto. Tenho meninas, é certo, mas não tenho sucessor.
Sinto-me velho e só os mal intencionados (ou ingénuos) é que podem pensar que eu passo a vida em determinadas brincadeiras. As meninas só servem para alegrar os corredores da burocracia. Para mais nada. Para que mais haviam de servir para mim?
Tenho qualquer dia que deixar o lugar que ocupo e, olhando à minha volta, só o consigo vislumbrar a si como meu sucessor. Sabe quanto me doeu esta conclusão. Mas, sempre que repetia o exercício de olhar, só o via a si.
Sei que tivemos dissenções, quezílias, arrufos.
Mas ainda existe muito de válido e profundo a ligar-nos: - as mesmas origens rurais, a mesma juventude passada no amanho das terras, os mesmos modos, e, sobretudo, as infindáveis conversas (discussões?) que tivemos os dois.
Depois de aceitar no meu íntimo a ideia de o escolher a si como meu sucessor (o que muito me custou, como deve calcular), não vai dizer-me que não.
É muito mais novo que eu e espero que diga que aceita. Sabe que me submeterei ao seu (igual ao meu) feitio truculento. Serei, nessa altura, um seu súbdito fiel e submisso e que nunca mas nunca o atraiçoará.
Aguardo ansiosamente resposta sua na volta do correio.
Não lhe telefonei porque tive medo de nos zangarmos só de ouvirmos a voz um do outro.
Responda, p. f..
Assinatura ilegível»
P.S. - Este texto deve ser entendido como uma piada e não como uma sátira.
João Lopes de Matos
P.S. - Este texto deve ser entendido como uma piada e não como uma sátira.
João Lopes de Matos
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2 comentários:
Recebi sua missiva e fiquei incrédulo só por saber da sua coragem!
Brincalhão, eu já sabia era!
Sabe, já nem meninas tenho. A minha idade apenas permite sonhar embora por vezes, não olhando à minha pré-velhice, fico mal na fotografia porque entretanto me esqueci dos comprimidos "azuis".
Vou andando por aí já consciente que me falta ânimo para muita coisa, nomeadamente para enfrentar a dura realidade, tanto política como social. Enfim vou-me encostando por aqui, ciente que, não me lembrando da idade e das insuficiências, é a melhor forma de ir andando a caminho, não da reforma que já tenho, mas sim a caminho de ainda poder fazer mais umas "coisitas" que vos animem a uma crítica em forma de sátira.
Mas não tenha pena. O mal distribuído por todos não custa nada.
Vocês são pacientes ajudando-me a passar o tempo!
Segundo parágrafo: " eu já sabia que era! "
Obrigado.
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