terça-feira, 9 de outubro de 2007

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

Low Budget Research Kitchen
ou A nova Vida de Frank Zappa


No Palácio de Cristal, deliciei com o melhor concerto a que assisti este ano. Fechava um ciclo azul/jazzístico em que também passaram Maria João e o Sextexto de Mário Barreiros. Era a vez da Low Budget Research Kitchen
[palavra-mala, cuja tradução, separada, dá: a) Baixo Orçamento... De uma peça de orquestra, Music for violin and low budget orchestra, encomendada a Zappa, ele-mesmo, que houve de ser recomposta porque a editora Warner Bros não concordou com a gravação do original que o compositor desejou incluir em Läther, projecto musical de 4 Lps; tal facto gerou um conflito com a Warner, o qual levou à criação da própria editora de Zappa, sendo a peça editada pela vez 1ª, em 1970; b) Cozinha de Pesquisa, essa, fazia o nome civil do estúdio caseiro do compositor], cujo laboratório aquele grupo re_
toma pesquisa ao Porto, como outras bandas pela Europa/América, ao rigoroso exclusivo de o recriar por novas leituras — residindo nessa liberdade, dentro do espírito da obra, a continuidade da ‹‹dangerous kitchen›› — de Frank Zappa... Um dos compositores maiores do século XX, avesso a escolas e academismos e movimentos artísticos, que eu devorei tanto na minha adolescência quanto à idade adulta
— tudo, até bootlegs autorizadas pela família —
o qual cruzou com uma originalidade inigualável a música contemporânea, o jazz, o country, o rock..., para um guião que nós imaginamos, contaminando os géneros, implodindo _ seu som de uma poética virgem, no sentido de que nunca antes ouvi, claramente ouvido(s), um compositor de rara intervenção a (fazer) entoar, ironicamente, gospels com versículos anti-religiosos ou a um capitalismo selvagem, épicos country onde o sonho americano se revisitava numa série de Apanhados, tudo lhe servindo para agitar (politicamente ­­— se o político se faz tendencialmente total) a todas _ _ consciências... Esperimentando mesmo à boca de personagens do 'bel-canto' libretos de escárnio e mal-dizer que poderiam ser tidos como musa para Manuel João Vieira dos Ena Pá 2000, esse Quim Barreiros do rock! Mas,
nem tanto casamento de (in)conveniência, por aqui. A Low Budget Research Kitchen é um octeto (apenas) instrumental, sem perda, no entanto, do referencial mínimo do mestre. Cada concerto — um evento de humores musicais... a folhear comics! Soube do que deram em Paredes de Coura, por um momento fixado no you tube ou no my space... A nova vida de Frank Zappa, tão divertida como se fosse a sua própria banda, cozinhada à moda destes músicos do Porto. Com nomes adoptivos do universo zappiano — para lá do alienígena mongol Kubilai Khan — que vão dos mafiosos históricos a que remete, em meu imaginário, o do proto-padrinho Carbone, aos da série Soprano, como aos da sua própria banda, Mothers of Invention,
assim Dexter Greenberg e Jonhy Egar Zim, assim os dos latinos Frankie Figueroa e do meu amigo, grande pianista inter pares, Lou Serdozza — o Luís Serdoura, que comigo privou em U Nu. Como eu gosto quando os meus amigos sobem aos céus... E sei que Frank Zappa, se acordasse daí, também gostaria de _ _ escutar!

vitorino almeida ventura

post scriptum 1: Esqueci de referir que foi com o baterista e líder do grupo, Tó Torres, melhor: Tony Carbone, que tive a minha primeira experiência de garagem.

post scriptum 2: O melhor elogio que se lhes pode fazer é que a plateia (até certo momento) julga que são mesmo americanos! — Músicos portugueses a tocar assim?! Claro que isso diz (tam)bém o quanto somos provincianos... neste país.

1 comentário:

Anónimo disse...

para mais informações sobre os LBRK consulte:

http://www.myspace.com/zappalowbudgetresearchkitchen

http://unitedsoundsofmusicportugal.blogspot.com

dia 31 não faltem, no Hot Five no Porto.
concerto de halloween.