Non Stop…
Há cerca de uma década, vi em Hamburgo uma instalação sua que me desarranjou profundamente. Uma voz dentro da televisão, comandava:
— WorK! WorK! WorK! WorK! WorK! WorK! WorK! WorK! WorK!
Antes de assistir ao fim-de-semana Non Stop, fui à Casa de Serralves ver a instalação de Bruce Nauman ''Fonte de 100 Peixes'', que igualmente me interpelou. 97 moldes de peixe-gato, robalo, salmão, e peixe branco, suspensos do tecto, jorrando arcos de água ininterrupta_
mente por múltiplos buracos (de bala?, de canivete?, de?), situados em seu corpo… Com um ruído de água, correndo, escorrendo… Água! Água! Para lá da citação à ''Fountaine'' de Duchamp e aos corpos-peixe de Magritte, remete-nos para a representação memorialística das suas idas à pesca, com seu pai, no lago Michigan. Tradicionalmente, a fonte é associada ao conhecimento… Nos peixes-fonte, vai na memória a longo prazo. levando igualmente a um desenho do autor, ''Myself as a Marble Moutain''…
Mas tudo se começa a resolver, caminhando em torno da instalação, como na citação a Diógenes. Não parando nunca… Non Stop, numa teia de sentidos, que prendem à sua obra, vida, tradição.
vitorino almeida ventura
8 comentários:
os das aldeias se vissem na Carazeda tal exposição o que diriam? e os cotas? veriam mais que os bois a olharem palheiros? procuro apenas porque o profe. vitorino fala em 97 moldes e o nome da exposição fala em 100 peixes. não há engano?
puto
Ulha e o administrador tem andado a remover mensagens. Serão de algum emplastro que quer entrar em todas as fotografias? Ass: Lord
Ulha e o administrador tem andado a remover mensagens. Serão de algum emplastro que quer entrar em todas as fotografias? Ass: Lord
Eu bem queria fazer comentários ao ilustre VAV mas ele,por vezes, é tão inacessível para mim!E fala de assuntos tão fora do meu âmbito!Mesmo o "solvitur ambulando" me pôs à rasca.Que não acontecerá aos meus caros conterrâneos?
Este "solvitur ambulando" tem alguma coisa a ver com os teripatéticos?
JLM
Não é teripatéticos mas PERIPATÉTICOS.
JLM
Peço desculpa por só agora responder, mas foi quando vi as questões. Quanto ao que diz o ‹‹puto››, discordo um pouco. Parece que ‹‹os das aldeias›› e ‹‹os seniores›› são todos incapazes de ver uma exposição contemporânea. Há gente com nível e experiência, nas aldeias, mesmo que não tenham um Curso, com Gosto capaz de ler uma instalação. Não é um-qualquer Curso nem, infelizmente, o que, em regra, se aprende na Escola, que nos fornecem ferramentas para aderir à arte hodierna. Também muitos docentes estão presos a textos e à arte do séc. XIX, princípio do séc. XX. Não saem daí. É mais cómodo: foi apenas o que na Faculdade estudaram. Não estão capazes de conhecer, apenas de reconhecer, como diria Alberto Pimenta, citando Adorno. Para desmistificar de vez essa, com a outra questão que me coloca,
direi que a resposta poder-lhe-ia ter sido dada por três miúdos que vi, em directo, na RTP1, do Serralves 40 horas Non Stop. Teriam entre 8-10 anos… Que explicaram haver 97 moldes de peixes, simbolicamente, somados ao artista e aos seus pais. 97 + 3 = 100. Esclarecido? Agora, pergunto eu: Como é que estas três crianças aderem a pensar a instalação? Serão sobredotados? Mera questão de atenção numa visita guiada por seus pais?
Se o ‹‹puto›› refere que os das aldeias não seriam capazes de acompanhar a (minha) exposição, que segue de perto (o catálogo d)a do Artista, o doutor Lopes de Matos refere os da Vila… Situando como ex-libris da Carrazeda a bicicleta do sr. Lages e o cavalo do sr. Pinto. Ou dito de outro modo: JLM, ironicamente, reconhece o atraso da nossa população, relativamente aos círculos motorizados da Europa: um enorme défice cultural, assim como de outras qualificações. Assim sendo,
fez bem JLM em convocar a escola peripatética de Aristóteles, o passeio e o caminho contemporâneo de Diógenes de Sinope. Mas
quero esclarecer que foi Bruce Nauman quem aludiu a Diógenes, o Cínico — eu limitei-me a citá-lo, de acordo com o que li no catálogo da exposição, visitada por centenas de milhares. (Carrazeda estará assim tão longe, doutor Lopes de Matos?). E não faria mal irrompermos como o filósofo cínico, em plena Cidade, mas com uma luz voltada a nós — e não aos Outros —, tentando conhecermos melhor e aprofundarmos, no sentido de descobrirmos em nós a humanidade.
vitorino almeida ventura
Post Scriptum: Recuso completamente que haja um público das Vilas e das Cidades, na aldeia global em que estamos… Todos podemos ser de todo o lado. E não fui eu, foi Óscar Faria, no Ípsilon, ao Público, quem escreveu que ‹‹a peça impõe a sua presença, agarra o espectador, facto não só devido à sua dimensão física, material, mas também relacionado com a produção de um contínuo sonoro, um intenso ‘drone’ aquático, líquido››… O que eu sinto, com Bruce Nauman, é a questão estética ela-mesma. Tudo se me desarranja, interiormente, me obrigando a viajar.
A questão do «Lord» dirige-se mais ao meu amigo Rui C. Martins, pelo que responderá ele se assim o entender.
Desculpe,
vitorino almeida ventura.
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