quinta-feira, 12 de junho de 2008

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

Bruce Nauman,

Non Stop…

Solvitur ambulando.

Nauman, citando o cínico

Diógenes de Sinope, na bienal

de Veneza, em 2007.

Há cerca de uma década, vi em Hamburgo uma instalação sua que me desarranjou profundamente. Uma voz dentro da televisão, comandava:

— WorK! WorK! WorK! WorK! WorK! WorK! WorK! WorK! WorK!

Antes de assistir ao fim-de-semana Non Stop, fui à Casa de Serralves ver a instalação de Bruce Nauman ''Fonte de 100 Peixes'', que igualmente me interpelou. 97 moldes de peixe-gato, robalo, salmão, e peixe branco, suspensos do tecto, jorrando arcos de água ininterrupta_

mente por múltiplos buracos (de bala?, de canivete?, de?), situados em seu corpo… Com um ruído de água, correndo, escorrendo… Água! Água! Para lá da citação à ''Fountaine'' de Duchamp e aos corpos-peixe de Magritte, remete-nos para a representação memorialística das suas idas à pesca, com seu pai, no lago Michigan. Tradicionalmente, a fonte é associada ao conhecimento… Nos peixes-fonte, vai na memória a longo prazo. levando igualmente a um desenho do autor, ''Myself as a Marble Moutain''…

Mas tudo se começa a resolver, caminhando em torno da instalação, como na citação a Diógenes. Não parando nunca… Non Stop, numa teia de sentidos, que prendem à sua obra, vida, tradição.

vitorino almeida ventura

8 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

os das aldeias se vissem na Carazeda tal exposição o que diriam? e os cotas? veriam mais que os bois a olharem palheiros? procuro apenas porque o profe. vitorino fala em 97 moldes e o nome da exposição fala em 100 peixes. não há engano?

puto

Anónimo disse...

Ulha e o administrador tem andado a remover mensagens. Serão de algum emplastro que quer entrar em todas as fotografias? Ass: Lord

Anónimo disse...

Ulha e o administrador tem andado a remover mensagens. Serão de algum emplastro que quer entrar em todas as fotografias? Ass: Lord

Unknown disse...

Eu bem queria fazer comentários ao ilustre VAV mas ele,por vezes, é tão inacessível para mim!E fala de assuntos tão fora do meu âmbito!Mesmo o "solvitur ambulando" me pôs à rasca.Que não acontecerá aos meus caros conterrâneos?
Este "solvitur ambulando" tem alguma coisa a ver com os teripatéticos?
JLM

Unknown disse...

Não é teripatéticos mas PERIPATÉTICOS.
JLM

vitorino almeida ventura disse...

Peço desculpa por só agora responder, mas foi quando vi as questões. Quanto ao que diz o ‹‹puto››, discordo um pouco. Parece que ‹‹os das aldeias›› e ‹‹os seniores›› são todos incapazes de ver uma exposição contemporânea. Há gente com nível e experiência, nas aldeias, mesmo que não tenham um Curso, com Gosto capaz de ler uma instalação. Não é um-qualquer Curso nem, infelizmente, o que, em regra, se aprende na Escola, que nos fornecem ferramentas para aderir à arte hodierna. Também muitos docentes estão presos a textos e à arte do séc. XIX, princípio do séc. XX. Não saem daí. É mais cómodo: foi apenas o que na Faculdade estudaram. Não estão capazes de conhecer, apenas de reconhecer, como diria Alberto Pimenta, citando Adorno. Para desmistificar de vez essa, com a outra questão que me coloca,
direi que a resposta poder-lhe-ia ter sido dada por três miúdos que vi, em directo, na RTP1, do Serralves 40 horas Non Stop. Teriam entre 8-10 anos… Que explicaram haver 97 moldes de peixes, simbolicamente, somados ao artista e aos seus pais. 97 + 3 = 100. Esclarecido? Agora, pergunto eu: Como é que estas três crianças aderem a pensar a instalação? Serão sobredotados? Mera questão de atenção numa visita guiada por seus pais?

Se o ‹‹puto›› refere que os das aldeias não seriam capazes de acompanhar a (minha) exposição, que segue de perto (o catálogo d)a do Artista, o doutor Lopes de Matos refere os da Vila… Situando como ex-libris da Carrazeda a bicicleta do sr. Lages e o cavalo do sr. Pinto. Ou dito de outro modo: JLM, ironicamente, reconhece o atraso da nossa população, relativamente aos círculos motorizados da Europa: um enorme défice cultural, assim como de outras qualificações. Assim sendo,
fez bem JLM em convocar a escola peripatética de Aristóteles, o passeio e o caminho contemporâneo de Diógenes de Sinope. Mas
quero esclarecer que foi Bruce Nauman quem aludiu a Diógenes, o Cínico — eu limitei-me a citá-lo, de acordo com o que li no catálogo da exposição, visitada por centenas de milhares. (Carrazeda estará assim tão longe, doutor Lopes de Matos?). E não faria mal irrompermos como o filósofo cínico, em plena Cidade, mas com uma luz voltada a nós — e não aos Outros —, tentando conhecermos melhor e aprofundarmos, no sentido de descobrirmos em nós a humanidade.

vitorino almeida ventura

Post Scriptum: Recuso completamente que haja um público das Vilas e das Cidades, na aldeia global em que estamos… Todos podemos ser de todo o lado. E não fui eu, foi Óscar Faria, no Ípsilon, ao Público, quem escreveu que ‹‹a peça impõe a sua presença, agarra o espectador, facto não só devido à sua dimensão física, material, mas também relacionado com a produção de um contínuo sonoro, um intenso ‘drone’ aquático, líquido››… O que eu sinto, com Bruce Nauman, é a questão estética ela-mesma. Tudo se me desarranja, interiormente, me obrigando a viajar.

vitorino almeida ventura disse...

A questão do «Lord» dirige-se mais ao meu amigo Rui C. Martins, pelo que responderá ele se assim o entender.

Desculpe,

vitorino almeida ventura.