Começou cedo a percorrer as aldeias com o pai para ferrar animais e foi ganhando o gosto pela arte da família, que aperfeiçoou num curso ligado à veterinária que tirou na tropa. Hoje, Luís Mesquita, natural de Seixo de Ansiães, no concelho de Carrazeda de Ansiães, é o último ferrador da terra.
“Antigamente havia muitos animais. Eu e o meu pai encarregávamo-nos de ferrar na zona da Poça, que abrangia Lavandeira, Selores, Seixo e Beira Grande. Depois tinha um primo em Fontelonga. Havia ferradores divididos por todo o lado”, conta.
Na altura de entrar para a tropa, Luís Mesquita não teve dúvidas da área que queria seguir. “Fui para o Hospital Veterinário, em Lisboa, onde tirei o curso de Enfermagem Hípica. Era um curso de ferrador à moderna”, salienta o artista do Seixo.
Aos 77 anos, o ferrador guarda no currículo uma vida dedicada à arte de ferrar, que exerceu num périplo entre cidades e continentes. “Depois da tropa vim para cá, casei-me e continuei com o serviço, porque o meu pai já estava velhote. Mais tarde fui para África, onde voltei a agarrar-me aos martelos e às ferraduras. De regresso ainda estive 4 anos em Braga, onde exerci a profissão de auxiliar técnico de pecuária”, recorda Luís Mesquita.
É com orgulho que o artista guarda a sabedoria de uma profissão que marcou a família Mesquita. “O meu avô já era ferrador, depois passou a arte ao meu pai e eu aprendi com ele”, conta.
Os tempos mudaram e a azáfama dos artistas foi amainado com a substituição dos animais nas tarefas agrícolas. “Agora, os agricultores utilizam os tractores para cultivar a terra e já não gastam as ferraduras aos burros, cavalos ou bois”, justifica a perda de trabalho.
“Ferrar animais é mais complicado do que moldar as ferraduras que protegem os cascos”, garante Luís Mesquita
Com o declínio da profissão, Luís Mesquita ainda abriu um café na aldeia, que acabou por fechar, mas faz questão de guardar recordações desses tempos. “Ainda tenho ali a máquina de café”, mostra.
O ferrador afirma que durante o tempo em que teve a casa aberta, ainda havia alguns clientes que lhe pediam para ferrar os “burritos” ou os cavalos. “Ia fazendo, não era que tivesse necessidade de trabalhar, mas nasci nisto e gosto daquilo que faço”, enaltece.
Luís Mesquita afirma que ferrar não é uma arte difícil, mas realça que é preciso força de vontade. O trabalho começa com o molde do ferro quente para as ferraduras na safra, depois são feitos os orifícios onde entram os cravos com ponteiros e, por fim, os ajustes finais já em frio à medida do casco do animal.
“Ferrar é mais difícil do que fazer as ferraduras, porque estamos a trabalhar em sangue e se enterramos demais um cravo é como uma pedra no sapato”, realça.
Agora o volume de trabalho diminuiu, mas Luís Mesquita continua a ser requisitado para ferrar ou acudir aos animais em caso de emergência. “Algumas pessoas quando têm animais com problemas pedem-me para os ver enquanto o veterinário não chega ou então ao fim-de-semana. Como tenho alguns conhecimentos, às vezes vou buscar medicamentos e aplico-os”, salienta o artista.
No livro de registos onde guarda memórias e recordações, Luís Mesquita já anotou os poucos animais que ferrou este ano, que diz terem sido, apenas, dois ou três. “Antes havia aqui 5 ou 6 juntas de bois. Agora não há nada. Mas a arte, essa nunca se esquece”, conclui o último ferrador do Seixo. Jornal Nordeste
2 comentários:
O Seixo é a melhor aldeia do concelho...
Viva o Seixo...verdade é das aldeias mais bonitas e tem a Nossa Senhora da Costa que é um dos Santuários mais bonitos com a paisagem mais magnifica que se pode imaginar...visitem e vejam com os vossos próprios olhos...
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