"A linha está intacta, a energia falhou antes de chegarmos ao solo e até o telefone de socorro (GSM) deixou de funcionar. Não foi acidente." Fernando Pires, maquinista da locomotiva sinistrada, anteontem, na linha do Tua, não acredita em coincidências. Depois de também ter conduzido a máquina que caiu em Junho deste ano, o homem de 47 anos crê na tese de sabotagem.
"Viajámos a uma velocidade muito lenta e a máquina tinha vindo da oficina há poucos dias. Se o culpado fosse eu, já o tinha admitido, mas não fui. Não se pode brincar com a vida das pessoas", continuou o operador de sistemas de transporte na linha do Tua há 13 anos, que ouviu um estrondo segundos antes do descarrilamento.
No mesmo tom, alinha José Alves, de 37 anos, que desempenhava a função de revisor na fatídica viagem. "O meu pai também foi ferroviário e o que se passou não é normal. Não tenho provas materiais porque, se tivesse, apontava o dedo à EDP", afirmou ao CM.
Já o responsável da associação Coordenadora de Afectados pelas Grandes Barragens e Transvases (COAGRET), Pedro Couteiro, não hesita em atribuir responsabilidades. "A EDP deve ser investigada. Trata-se de mais uma sabotagem de máfias hidráulicas. A inactivação da linha é necessária para a construção da barragem do Tua e temos a certeza de que isso está ligado a estes homicídios", afirma Couteiro, que aponta baterias também ao governador civil de Bragança, Jorge Gomes: "Pelas suas declarações, tem de se demitir e espero até que a PJ o considere suspeito desta sabotagem."
LOCOMOTIVA SEM VIGILÂNCIA
A automotora que anteontem caiu em Brunheda, Carrazeda de Ansiães, continua imóvel no fundo da ravina e sem qualquer vigilância policial. Muitos curiosos quiseram ver de perto o sítio onde se deu o descarrilamento que provocou a morte de Olema Alves, de 47 anos.
Binóculos e máquinas fotográficas foram utensílios indispensáveis para as dezenas de pessoas que procuraram obter uma recordação do acidente. Aliás, face à ausência de vigilância policial, alguns ousaram entrar na automotora sinistrada.
Longe do local, o maquinista José Alves recordou ao CM o que se sucedeu à queda: "Após momentos de pânico, formou-se uma organização espontânea bestial. A entreajuda foi notável. Eu e o revisor preocupámo-nos primeiro com as crianças e depois em evitar que as pessoas vissem a vítima mortal. Já nada havia a fazer pela senhora."
"FECHO DA LINHA SERIA ERRO CRASSO"
Pedro Couteiro, responsável da associação Coordenadora de Afectados pelas Grandes Barragens e Transvases (COAGRET), é vincadamente contra o fecho da linha do Tua, quer pelo turismo que acarreta, quer pela ligação que faz entre as diferentes localidades. "O fecho seria um erro crasso. A COAGRET entregou na Câmara de Mirandela um estudo que defende a melhoria e maior utilização da linha", diz Couteiro, antes de defender a extensão da linha até à cidade espanhola de Puebla de Sanábria, que terá ligação por TGV até Madrid.
JORNALISTAS DO CM AMEAÇADOS
Já a equipa do CM se encontrava junto à locomotiva sinistrada quando dois homens se aproximaram, exibindo uma fita métrica. Face à ausência de trabalhos no local, o CM decidiu fotografar a dupla de supostos peritos. Contudo, a reacção foi a pior. Desde palavras a gestos intimidatórios, passando por ameaças de morte, foi-nos dito que "nunca sairíamos dali" se não fossem eliminadas as fotografias. Os homens não se identificaram e recusaram-se a que a questão fosse resolvida com as autoridades.
PORMENORES
COINCIDÊNCIAS
Maquinista e revisor da viagem de anteontem enumeraram algumas coincidências entre os acidentes do Tua: aconteceram à sexta-feira de manhã, antes ou depois da visita de alguém importante e em local com ravina de ambos os lados.
DOIS INTERNADOS
Uma mulher de 42 anos e uma criança de nove são os únicos feridos que continuam hospitalizados. Contudo, ambos devem receber alta nos próximos dias.
TROÇO ENCERRADO
Ao contrário do que estava previsto, o troço Mirandela-Cachão da linha do Tua também foi provisoriamente encerrado.
RÁDIO E TELEMÓVEL
O rádio do comboio só tem autonomia para uma hora, apesar da viagem durar 75 minutos. Só há rede de telemóvel nos primeiros 25 quilómetros.
Sérgio Pereira Cardoso, Correio da Manhã
"Viajámos a uma velocidade muito lenta e a máquina tinha vindo da oficina há poucos dias. Se o culpado fosse eu, já o tinha admitido, mas não fui. Não se pode brincar com a vida das pessoas", continuou o operador de sistemas de transporte na linha do Tua há 13 anos, que ouviu um estrondo segundos antes do descarrilamento.
No mesmo tom, alinha José Alves, de 37 anos, que desempenhava a função de revisor na fatídica viagem. "O meu pai também foi ferroviário e o que se passou não é normal. Não tenho provas materiais porque, se tivesse, apontava o dedo à EDP", afirmou ao CM.
Já o responsável da associação Coordenadora de Afectados pelas Grandes Barragens e Transvases (COAGRET), Pedro Couteiro, não hesita em atribuir responsabilidades. "A EDP deve ser investigada. Trata-se de mais uma sabotagem de máfias hidráulicas. A inactivação da linha é necessária para a construção da barragem do Tua e temos a certeza de que isso está ligado a estes homicídios", afirma Couteiro, que aponta baterias também ao governador civil de Bragança, Jorge Gomes: "Pelas suas declarações, tem de se demitir e espero até que a PJ o considere suspeito desta sabotagem."
LOCOMOTIVA SEM VIGILÂNCIA
A automotora que anteontem caiu em Brunheda, Carrazeda de Ansiães, continua imóvel no fundo da ravina e sem qualquer vigilância policial. Muitos curiosos quiseram ver de perto o sítio onde se deu o descarrilamento que provocou a morte de Olema Alves, de 47 anos.
Binóculos e máquinas fotográficas foram utensílios indispensáveis para as dezenas de pessoas que procuraram obter uma recordação do acidente. Aliás, face à ausência de vigilância policial, alguns ousaram entrar na automotora sinistrada.
Longe do local, o maquinista José Alves recordou ao CM o que se sucedeu à queda: "Após momentos de pânico, formou-se uma organização espontânea bestial. A entreajuda foi notável. Eu e o revisor preocupámo-nos primeiro com as crianças e depois em evitar que as pessoas vissem a vítima mortal. Já nada havia a fazer pela senhora."
"FECHO DA LINHA SERIA ERRO CRASSO"
Pedro Couteiro, responsável da associação Coordenadora de Afectados pelas Grandes Barragens e Transvases (COAGRET), é vincadamente contra o fecho da linha do Tua, quer pelo turismo que acarreta, quer pela ligação que faz entre as diferentes localidades. "O fecho seria um erro crasso. A COAGRET entregou na Câmara de Mirandela um estudo que defende a melhoria e maior utilização da linha", diz Couteiro, antes de defender a extensão da linha até à cidade espanhola de Puebla de Sanábria, que terá ligação por TGV até Madrid.
JORNALISTAS DO CM AMEAÇADOS
Já a equipa do CM se encontrava junto à locomotiva sinistrada quando dois homens se aproximaram, exibindo uma fita métrica. Face à ausência de trabalhos no local, o CM decidiu fotografar a dupla de supostos peritos. Contudo, a reacção foi a pior. Desde palavras a gestos intimidatórios, passando por ameaças de morte, foi-nos dito que "nunca sairíamos dali" se não fossem eliminadas as fotografias. Os homens não se identificaram e recusaram-se a que a questão fosse resolvida com as autoridades.
PORMENORES
COINCIDÊNCIAS
Maquinista e revisor da viagem de anteontem enumeraram algumas coincidências entre os acidentes do Tua: aconteceram à sexta-feira de manhã, antes ou depois da visita de alguém importante e em local com ravina de ambos os lados.
DOIS INTERNADOS
Uma mulher de 42 anos e uma criança de nove são os únicos feridos que continuam hospitalizados. Contudo, ambos devem receber alta nos próximos dias.
TROÇO ENCERRADO
Ao contrário do que estava previsto, o troço Mirandela-Cachão da linha do Tua também foi provisoriamente encerrado.
RÁDIO E TELEMÓVEL
O rádio do comboio só tem autonomia para uma hora, apesar da viagem durar 75 minutos. Só há rede de telemóvel nos primeiros 25 quilómetros.
Sérgio Pereira Cardoso, Correio da Manhã
Foto Aníbal Gonçalves, http://alinhaetua.blogspot.com/
15 comentários:
Maquinista admite sabotagem.Também eu a admito.Como hipótese.Não como evidência.
Porque é que em todos os casos duvidosos muita gente propende logo a pensar que tenham sido as "forças do mal" os causadores?
Porque é que não se estudam e aprofundam todas as hipóteses e se conclui com serenidade?
Infelizmente parece estar aqui subjacente uma mentalidade inquisitorial ou,no mínimo, a necessidade urgente de arranjar um bode expiatório,o que pode levar a injustiças terríveis.
Acontece em tudo:acidentes ferroviários,incêndios,etc..
Não haverá outras causas para os factos? Só haverá a acção humana?Não há causas físicas,químicas,eléctricas?
Noutros tempos dir-se-ia que seria castigo de Deus.Porque já não se põe essa hipótese?
Convinha que fosse sabotagem?
Conclua-se,para os espíritos que desejam a sabotagem descansarem,que foi sabotagem.Mesmo sem termos chegado a essa conclusão.Só porque é evidente.
JLM
sim este jõao defendee qualquer ponto de vista desde que lhe
Os Jornalistas do Correio da Manhã dizem que foram ameaçados de morte por dois individuos
ou eles são mentirosos ou estão possuidos pelo demónio na versão João ou são conhecidos do jõao
Para os anónimos:explanem as vossas ideias.
JLM
Entretanto surgiu o último comentário.Sei lá se os jornalistas foram ameaçados de morte!
Adiantou algumas hipóteses de explicação mas há mais.É só puxar um pouco pela cabeça.Hipóteses.Não conclusões seguras.
JLM
Afinal o que é que sabe?
defende o ponto de vista que lhe interessa sem se preocupar com o dos outros portanto é igual aos outros defende o que lhe interessa
Este Joao manda bocas do sofá enquanto os outros mandam bocas do local
este joao é virtual só deve ver filmes
se este Joõa está a espera de conclusões nunca mais as tem onde estão as dos acidentes anteriores
é o que dá falar de cor
Que diferença faz o meu falar de cor do dos outros?
Sabe que há imensos processos em que nunca se chega a conclusão nenhuma?
Só os que foram ao local podem mandar bocas?Então porque é que toda a gente,no país,manda bocas?
E quem vai ao local tem sempre olhos de ver?Não pode ver mal?
Não me importa nada ser virtual.Graças ao mundo virtual é que estamos aqui a dialogar.Ou a tentar.
JLM
os jornalistas do cm não eram virtuais portanto as ameaças também não foram virtuais de individuos virtuais
o joao não quer dialogar nem convencer quer é ganhar a discussão
e por isso em continuidade não é coerente hoje diz uma coisa amanhã outra e isso não seve os objectivos deste blogue ser livre
mas também responsável
a culpa é de quem os lê pois quem as diz bem aliviado fica
É mais que evidente e notório que há alguém, não sabemos quem estará por detrás disto, interessado em espalhar a tese de atentado, que houve uma explosão, etc, etc. senão vejamos: - Pouco tempo depois do acidente, surgiu a notícia de que o maquinista da composição terá afirmado que "ouviu uma explosão...antes do descarrilamento".Ontem, ao Público, o mesmo maquinista afirmou que "não ouviu qualquer barulho estranho, muito menos uma explosão". Perante isto vá lá a gente perceber... Despois há uma organização denominada "Instituto da Democracia Portuguesa" que no ponto b) do seu comunicado cita o mesmo maquinista dizendo que houve explosão. Portanto é caso para perguntar, quem está interessado em defender a tese de atentado e qual a finalidade?
ao sr ajs
sugiro uma leitura "atenta "
in JN de hoje
Linha do Tua: "Não foi um acidente normal"
Maquinista que tripulava composição acidentada estranha a ocorrência de tantos acidentes nos últimos tempos. Mas afasta a tese de explosão.
00h30m
FERNANDO PIRES
Pela segunda vez, em dois meses e meio, Fernando José Ferreira Pires viveu momentos dramáticos com o descarrilamento das composições do Metro de Mirandela que dirigia. O maquinista, de 47 anos, já não fala em explosão, como causa do acidente de sexta-feira, na linha do Tua, mas não acredita ter sido um acidente" normal". Apesar destes acidentes, o maquinista, funcionário do Metro de Mirandela há 13 anos, continua convicto que a linha do Tua é segura.
Como aconteceu o acidente?
Tínhamos acabado de passar por Brunheda e vinha a explicar a algumas pessoas, que estavam a tirar fotos e a filmar, que a partir daquele local até à estação de Santa Luzia estava a paisagem mais bonita desta viagem. Apesar de estar a conversar, não estava distraído e até seguia numa velocidade inferior a 35 quilómetros, o máximo permitido no local. Algumas centenas de metros depois de ter passado por baixo da ponte de Brunheda, numa ligeira curva à esquerda, a máquina pura e simplesmente saltou e caiu. Não tive hipótese de fazer mais nada. Já no primeiro acidente foi a mesma coisa, estava a cumprir as normas de limite de velocidade e ainda não sei o que terá acontecido.
Chegou a explicar ao presidente da administração do Metro de Mirandela que tinha havido uma explosão anterior ao descarrilamento. É verdade?
Na altura estava muito confuso e falei na possibilidade de ter havido uma explosão, mas poderá ter sido o barulho da máquina a descarrilar, a pisar a brita e as travessas. Mas continuo a dizer que estes acidentes não são normais. Tem de haver alguma coisa, porque a linha está constantemente em manutenção, a composição do Metro foi inspeccionada no dia anterior ao acidente. Alguma coisa de anormal se passou. É mesmo muito estranho. Tenho a plena convicção que se não houvesse contestação à construção da barragem do Tua, estes acidentes não teriam acontecido.
Mas isso quer dizer que coloca a possibilidade de ter havido sabotagem?
Não posso afirmar uma coisa dessas, mas que é tudo muito confuso, lá isso é. Já andamos a fazer este percurso, para a CP, desde 2001 e nunca houve qualquer acidente até 2007, com condições climatéricas bem mais adversas. Como é possível acontecerem quatro acidentes no último ano e meio, com tanto investimento feito na linha na sua manutenção e segurança?
Houve dificuldade em pedir socorro?
Não foi possível pedir socorro de imediato, porque, ao contrário do que aconteceu no acidente anterior, o nosso sistema de GSM não funcionou porque fiquei sem bateria. Um facto que também é muito estranho. Alguns minutos depois, o meu colega (revisor) e outras pessoas caminharam cerca de 500 metros até à ponte de Brunheda, onde havia rede de telemóvel, para avisarem as autoridades. Também tenho de elogiar o trabalho de socorro das autoridades envolvidas, que não demoraram muito tempo a chegar desde que foi comunicado o descarrilamento. Infelizmente, não foi possível salvar a senhora que ficou debaixo da composição.
Tem medo de voltar a operar na linha?
Não. Estou algo abatido emocionalmente, mas estou pronto para voltar ao serviço quando a administração assim o entender.
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