Ser agricultor neste país é actividade que cada vez menos alicia. Porém, restam ainda alguns tenazes lutadores contra a agrura do infértil rincão em que as suas raízes mergulham. Resistem enterrando na pobreza a paixão que este desafio não apaga e que o seu espírito heróico e pertinaz alimenta.
Recorrem às novas tecnologias que amenizam e potenciam o seu esforço e que ajudam a transmitir-lhes a transbordante alegria, que só quem lavra conhece, de verem ainda florescer os seus campos, juntamente com a ilusão de neles assim arregimentar o sustento suficiente para o resto do ano, nesta luta que vão dominando.
Porém, é nesta altura do ano, em que as expectativas com as culturas crescem, que as grandes desilusões acontecem… E a madrasta natureza, como que aceitando o desafio de quem lhe faz \"peito\", arrasa de uma penada a \"verde\" esperança, apedrejando violentamente, entre forte ribombar, a pujante vida… , destruindo assim a doce ilusão de também outras vidas poder vir a alimentar.
Tudo isto seria uma romântica e bela saga de uma qualquer obra, não fora o realismo recorrentemente vivido por quantos, de ano a ano, vêem suas vidas agonizar.
No desespero, os agricultores reclamam do Estado o apoio que a natureza lhes nega. Este, insensível, declara já despender 10 milhões de euros por ano no financiamento do sistema de seguros, suficiente para todos os que prudentemente utilizem aquele instrumento à sua disposição e bastante para servir de bálsamo à sua desgraça. Complementarmente e dando gáudio à sua prodigalidade, faz distribuir \"cálcio\"!!! para aplicarem como cicatrizante nas culturas atingidas… e porque não… na alma e na réstia de orgulho feridos dos agricultores, servindo-lhes também para robustecer os \"ossos\" por mais um ano, enquanto aguardam a repetição do ciclo…!
Instadas, as seguradoras afirmam não ganhar (!!) e que estes seguros constituem um enorme risco sempre difícil de calcular…
Ora, se o Estado gasta, as seguradoras não ganham e os agricultores sofrem e não aderem, algo está muito errado neste sistema, que estranhamente se persiste em manter e que a ninguém serve, mas que a todos continua a iludir.
Não será tempo de repensar todo este instrumento, evoluindo, por exemplo, para um seguro ao rendimento não posto em causa por uma qualquer intempérie, em substituição do actual e ineficaz seguro de colheitas? Solução que me parece mais segura, justa, transparente e eficaz!!!... É pelo menos esse o exemplo bem sucedido e mais equilibrado que nos dão os nossos vizinhos espanhóis.
Aguardamos expectantes que esta ou outra solução seja encontrada e se garanta de vez àqueles que com sacrifício nos alimentam e que ajardinam com o seu suor a nossa paisagem, a dignidade de vida e a segurança económica igual à de qualquer outra actividade.
Mais não se exige!!! Se não, que nos salvem também dos terramotos que ultimamente vamos sentindo, sempre que um ministro da República abre a boca!!!... Mas para isso, pelo menos, já há seguro!!!... - A indiferença.
Mário Abreu Lima in JN
Mário Abreu Lima in JN
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