Se o mar está a destruir as praias de Cascais e Caparica, também a terra abateu debaixo da linha-férrea. Esta cedeu e o comboio caiu ao Rio Tua.
São duas notícias de primeira linha na comunicação social nacional.
A primeira, menos badalada, mas teve a presença de um ministro que, acto imediato, disponibilizou milhões e, foi mais longe afirmando que, depois das obras, a praia de Cascais seria a melhor praia urbana da Europa.
Na segunda infelizmente houve mortes a lamentar, teve meios de busca à americana, não esteve presente nenhum ministro, mas sim o governador civil. Quanto ao mais, só dúvidas e reticências.
Ou seja, dois exemplos, um em Cascais, ao lado de Lisboa, outro no Tua, longe de quase tudo, e em ambas as situações a natureza resolveu contrariar a acção humana, mas com respostas diferentes: - Para as praias de Cascais e Caparica são anunciados milhões no dia seguinte, para a linha do Tua, encerra-se a via-férrea. Claro também com o pretexto da futura barragem da EDP no rio Tua.
Se a construção desta avançar inviabilizando definitivamente a via férrea, mesmo assim, se houver arte e engenho, poderão os concelhos ribeirinhos, retirar do futuro espelho de água criado pela barragem, algumas mais valias turísticas e até financeiras, se bem negociados com a EDP, promotora da obra. Poderão assim os concelhos de Carrazeda de Ansiães, Vila Flor, Murça e Alijó, ter uma palavra a dizer nesse sentido. Mas se a via-férrea do Tua, se mantiver com o actual traçado, inviabilizando assim a barragem, continuará em aberto a sua futura exploração, numa perspectiva de desenvolvimento turístico, aproveitando as belezas naturais do seu percurso. Se assim for e a acontecer tal desiderato, nenhum concelho fronteiriço da linha-férrea do Tua está preparado para, desse hipotético desenvolvimento turístico, colher dividendos. Está sim bem preparada para o efeito, a cidade de Mirandela, que sendo final de linha, significaria ocupação hoteleira, da restauração, e até a realização de excelentes negócios, na venda dos produtos regionais de todo o nordeste transmontano, nos comércios da cidade, abertos inteligentemente para o efeito, de segunda a segunda.
A terminar e em termos gerais, até concordo parcialmente com o ministro das obras públicas, em fechar o que não é rentável, embora esse não deva ser o único principio orientador dos deveres do estado em facultar, a melhor qualidade de vida possível, aos cidadãos. Mas com base nesse principio, pergunto-lhe então: qual a rentabilidade para os cofres do estado ou empresa pública sob sua tutela, resultante da manutenção mesmo que artificialmente e a custo de milhões, das praias de Cascais e Caparica? Para essas obras há milhões de imediato, assim evita-se o desagrado, de uns quantos portugueses figuras de capa de revista, podendo estes continuar a usufruir de praias à porta das suas mansões.
Afinal não é só João Jardim, que cria e mantém praias artificiais, Só que fica mais barato, não é necessário trazer areia de Marrocos.
Mas digo-lhe ainda Sr. Ministro, eu vi com estes olhos que Deus me deu, e durante quatro anos da minha vida, em que fui utente semanal da linha do Douro e Tua, esta ser completamente abandonada e desinvestida. O serviço prestado, era cada dia pior que o anterior, sabe-se lá, se resultado duma estratégia de debandada dos utentes, para à posteriori justificar o encerramento, por isso hoje mais que ontem, será difícil a sua recuperação. Se tomar banho diariamente, um simples duche resolve uma manhã mais apressada, mas se estiver quinze dias sem se lavar, já custa mais ficar limpo, só de escova e bem rija.
Razão tem o Presidente Eugénio, ao menos uma vez que seja, sejam solidários de coração aberto, e sem olharem a números e estatísticas, com este interior, que também é Portugal.
Rui Guerra
(Do programa Tribuna Livre, emitido semanalmente na Rádio Ansiães)
1 comentário:
Pergunto: - Porque é que um bloco de apartamentos custa 1 milhão de euros e um apartamento custa só 100 mil euros ? Daaahhh !....
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