quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Daqui e dali... João Lopes de Matos

ESPECTRO POLÍTICO ACTUAL
(Uma perspectiva)

Em Portugal existem cinco partidos importantes: CDS, PSD, PS, PCP, BE.
Como todos sabemos, os de maior representatividade são o PSD e o PS. Os outros representam as franjas à direita e à esquerda.
O CDS é um partido de direita mas as suas ideias têm pequena autonomia em relação ao PSD. Afirma alternativas que, quando aproveitáveis, são logo apropriadas pelo PSD. O BE é um partido (diria um movimento) que procura trazer à colação assuntos e problemas um tanto de vanguarda, que podem ser resolvidos mais tarde, depois de resolvidos os mais prioritários. O PCP, após a queda do muro, ficou desnorteado e procura agora apoio no funcionalismo público e não no operariado, o que estaria mais de acordo com as teses marxistas. É, actualmente, um defensor da não mudança, do status quo, dos direitos adquiridos. Quando tem algumas ideias aproveitáveis, elas podem bem ser postas em prática pelo PS.
Ficamos, portanto, reduzidos a dois partidos: PSD e PS.
O que é que os distingue? - Muito pouco.
Talvez um maior conservadorismo do PSD e um espírito mais liberal do PS.
A sociedade, tal como existe, ninguém a contesta: - ninguém põe em causa a primazia da iniciativa e da propriedade privadas, o cariz complementar e regulador do Estado, a economia de mercado.
O que fica em causa nas disputas eleitorais? - A capacidade dos principais elementos de um e outro partido para a condução do país.
Os eleitores votam no PSD ou no PS, conforme a ideia que têm da capacidade de cada uma das respectivas equipas.
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João Lopes de Matos

14 comentários:

Anónimo disse...

Não sei se reduzir as coisas nem a preto e branco, mas a dois cinzentos, resolveria alguma coisa...

Bastava mudar o sistema de representação proporcional para representação maioritária, nas legislativas. E pum!

Mas essa do espírito mais liberal do PS é boa! De que PS? Do de Guterres, sim. De Manuel Alegre, sem dúvida. Está bem, de Mário Soares. Mas de Sócrates... Perdão, senhor engenheiro... Perdão, senhor Primeiro Ministro. Claro, claro, Sua Excelência. Eu calo-me já!

Um seu criado, sem nome.

Anónimo disse...

Não fique calado homem!
Desembuche para que o oiçam dizer que não quer ser "criado" de ninguém, nem sequer de Sócrates, esse teimoso, esse (pre)potente idiotificado pelo poder de ser 1º ministro!
A si, valha-lhe o anonimato para "amanhã" não ser ouvido a dizer que o Sócrates afinal, foi o único pós 25 de Abril que foi capaz de implementar reformas que muitos "cobardolas" por lá passaram sem serem capazes de as fazer, o que nos transporta ao actual momento e às dificuldades que não mereceríamos passar!

Anónimo disse...

Pois sim, meu bom amigo. Mas foi você quem disse que Sócrates era um «prepotente idiotificado pelo poder». Idiotificado, nem me passaria. Nunca pensaria tal de Sua Ex.cia. Não sei se sabe, mas na voz dos boys essa auto-citação é perigosa. Mas por que será que Sua Senhoria também se não identifica? Será que tem medo de que os desempregados que aumentam dia-a-dia se reconheçam na sua profecia? Será que as dificuldades justificam todas as mentiras no futuro prolongamento da A4, com portagens? E as mentiras sobre a concessão das Estradas de Portugal?
Identifique-se. Talvez consiga um lugar num futuro casting dos Gato Fedorento.

Anónimo disse...

Em primeiro lugar dispenso os gato fedorento, que nem aprecio;
Em segundo, não concordo com as prtagens pese embora a boa justificação apresentada pelo deputado já em "desuso" Mota Andrade;
Em terceiro, quando digo "idiotificado" entre aspas é apenas para o ver (a si) tão zangado, ou mesmo irado, pois eu aprecio, efectivamente, as superiores qualidades do nosso primeiro!
Sobre o anonimato e porque você é mais antigo no blog desafio-o a primeiramente colocar o seu nome. O meu vai a seguir!

Anónimo disse...

qualquer pessoa de visao media imagina quem serao estes senhores; o primeiro/terceiro èum advogado do diabo, comunista, assim o dizem na praça; o segundo/quarto pelos qualificativos com que abona todos os outros, tao inferiores sempre a si proprio, desde o presidente mario soares ate ao deputado mota andrade, desde cobardolas a em desuso, já toda a gente percebeu quem é este prof. dr.; o dito cujo nao deixou d escrever, depois de mimguem o compreender; è por este e por outros que o ps deixou de ser socialista e agora è o partido de socrates; acabe este de governar e venha um sousa qualquer e logo se mudarà para sousa.
l.b.

Anónimo disse...

Não vou responder a essa de advogado do diabo ou de comunista. Apenas agradeço o epíteto.

Já quanto ao 2º comentarista é mais grave, porque diz que me vali do anonimato: mas pelo menos nunca insultei ninguém. E como é interessante sugerir que são cobardolas os outros anónimos, quando também se usa e abusa do anonimato! E essa infantilidade do diz primeiro que eu digo depois... De resto, lembra mesmo o sketch do RAP dos Gato Fedorento, em que fazia de polícia. E numa aula de Filosofia falava-se de Platão e de Sócrates e o polícia invadia a aula, chegava ao quadro e riscava Platão e punha à frente do nome Sócrates: engº. Depois, dois miúdos numa escola de 1º ciclo falavam do sapo Cocas dos Marretas. E o professor, perdão, o polícia aparecia a dizer que estava de olho neles...
O 2º comentarista ao ouvir a palavra criado e uma voz que se cala, retirou daí que se estava a chamar prepotente idiotificado pelo poder ao nosso 1º M. É assim que começa um polícia... político. E ninguém falou da voz de falsete, de verdadeiro ventríloquo da rádio do nosso 1º M... Ou o que diria tal polícia político sobre o que estavam a insinuar... Sei lá, da sua orientação sexual? Que a imaginação destes polícias (como quem via comunistas e advogados do diabo), é sabido, é mesmo prodigiosa!

Anónimo disse...

Peco desculpa ao 1º comentador pelo advogado do diabo; reconheco que exagerei; quanto ao 2º, ainda na~o disse tudo: normalmente, os que defendem tais reformas sao aqueles que se reformaram à pressa ou as respectivas consortes, para naõ serem atingidos por elas; fora, falam à vontade; mas por que não permaneceram aí, para as enfrentarem?!!!!!!!! Ah, cobardolas como o Mário Soares na~o sa~o, ve-se que naõ... Gandas valentoes!!!!!!!!!!!!
L.B.

Anónimo disse...

Aceito as suas desculpas caro(a) L. B.. Tenho pena que não se reflicta sobre a questão, para mim, de redução a dois cinzentos que o dr. Lopes de Matos avançou e sobre a mudança (de que falei) do sistema eleitoral, nas legislativas, para maioritário. Saber quem é quem não deveria interessar, até todos deveriam ser anónimos... para que as ideias só ficassem. E eu até me deixei levar por me calar, anular, face à situação actual... Que repito: como é interessante sugerir que são cobardolas os outros anónimos, quando também se usa e abusa do anonimato!
(D)o 1º «comentador», sim, um vosso criado.

Anónimo disse...

A ditadura dos inspectores por
João César das Neves, In Diário de Notícias, 20 de Novembro de 2006:

O nosso tempo é desconfiado. Um dos traços de carácter mais influentes e ocultos da nossa era é a
suspeita latente dos cidadãos. Ao mesmo tempo, porém, a nossa sociedade céptica tem uma fé
ingénua na lei. O resultado desta insólita combinação é que a vida hoje é regida, estatuída e restringida
de uma forma que não tem paralelo em qualquer outro tempo e lugar.
Existem regulamentos, decretos, portarias para todos os temas e assuntos. De vez em quando os
jornais denunciam indignadamente a falta de regulamentação de uma qualquer actividade, manifestando
assim esta patética exigência: os detalhes mais ínfimos da nossa vida têm de estar sujeitos
ao minucioso controlo da legislação.
Para que essas cláusulas sejam cumpridas existe um enorme exército de fiscais, inspectores e vigilantes
que, em variados sectores, se dedicam a acompanhar, denunciar e punir a violação dos tais
regulamentos.
Tudo isto é feito, obviamente, em nome de princípios elevados: a saúde pública, qualidade alimentar,
educação responsável, segurança nas estradas, combate ao crime, eliminação da corrupção,
defesa do ambiente e mil outros objectivos louváveis.
Mas o Estado democrático suporta aí um poder mais totalitário e minucioso que as piores ditaduras.
O problema é que a lei é um instrumento grosseiro e brutal. Ela não consegue, de facto, substituir a
adesão livre, a cooperação social, a honorabilidade pessoal. Assim, as leis têm muita dificuldade em
promover os objectivos proclamados nos seus articulados.
Quando chega um inspector a uma escola, não lhe interessa se os alunos são bem ensinados ou se
aquela é uma comunidade educativa saudável e funcional. Ele tem é de medir as janelas, contar as
sanitas, calcular os metros quadrados por criança. Se algum dos miríades de indicadores prescritos
estiver fora do nível fixado pela lei da Nação, a escola é multada, obrigada a obras incomportáveis
ou até fechada. Que os principais prejudicados por isso sejam os alunos é absolutamente irrelevante
para os fiscais.
Uma visita de inspecção a um restaurante ou loja alimentar não se ocupa da qualidade da comida ou
da satisfação dos clientes. Tem é de registar os prazos nominais dos alimentos, observar as condições
de exaustão de fumos, exterminar galheteiros, colheres de pau e outros instrumentos nocivos.
Normalmente, a presença da Inspecção implica a destruição de toneladas de comida em excelentes
condições, cometendo os fiscais um desperdício muito mais criminoso do que os que tentam evitar.
Entretanto, os comerciantes são multados ou até presos, não por venderem produtos avariados,
mas por terem nas instalações "condições de embalagem e refrigeração desadequadas".
Naturalmente que os casos de sucesso atraem mais as fiscalizações. Uma empresa lucrativa, uma
escola procurada, um festival gastronómico são presas apetecidas. E há sempre algum parágrafo
por cumprir, o que alegra o estéril fiscal, satisfeito por revelar a fútil aparência do tal sucesso. Toda
a criatividade, inovação, originalidade é contra os regulamentos. Só a mediocridade apática passa
na inspecção.
Já a Antiguidade dizia que a lei tem de ser aplicada com equidade. Esta virtude resume o bom senso
do juiz na análise das circunstâncias concretas do caso. Quem viole a letra da lei com razões poderosas,
justificáveis e até legítimas, deve ser absolvido. Mas como se pode exigir esta elevação a uma
multidão de inspectores, em múltiplas visitas diárias? Aliás, mesmo que um fiscal seja sensato e
compreenda as razões do incumprimento, o mais provável é que venha a ser denunciado como
negligente ou corrupto por um colega zeloso. Os regulamentos são sagrados. A severidade, mesmo
injusta e destruidora, é o sinal que consola a sociedade nos seus propósitos elevados.
Devido à obsessão moderna pela saúde, educação, ambiente e outras abstracções, e sobretudo à
enorme desconfiança em que vivemos, os inspectores têm uma autoridade que nenhuma outra classe
possui. Eles são, ao mesmo tempo, detectives, acusadores, juízes e executores. Quanto mais
elevado é o valor em causa, mais graves os efeitos. Hoje é concedido a funcionários o poder supremo
de tirar filhos a seus pais.
Os poderes regulamentar e inspectivo são muito mais eficazes que os poderes legislativo e judicial.
Exagerados, ficam asfixiantes. A sociedade que substitui a confiança nos cidadãos pela letra da lei
acaba na ditadura, por mais elevados que sejam os seus propósitos.

Anónimo disse...

Eles estão doidos!
António Barreto, Retrato da semana, in Publico, 25.11.2007:

A meia dúzia de lavradores que comercializam directamente os seus produtos e que sobreviveram aos
centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora ser eliminada sumariamente. Os proprietários de
restaurantes caseiros que sobram, e vivem no mesmo prédio em que trabalham, preparam-se, depois da
chegada da fastfood, para fechar portas e mudar de vida.
Os cozinheiros que faziam no domicílio pratos e “petiscos”, a fim de os vender no café ao lado e que
resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os
que cozinhavam em casa e forneciam diariamente aos cafés e restaurantes do bairro sopas, doces,
compotas, rissóis e croquetes podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializam produtos
confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
A solução final vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a
televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não
usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas,
quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda
a gente está condenado.
Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas
directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo
nacional, sob tutela carismática do ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através
pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas
multinacionais da gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
Em frente à faculdade onde dou aulas, há dois ou três cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns
copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao dominó. Acabou! É proibido jogar!
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas,
refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas-de-berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e
embalados? Proibido. Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz,
os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto
é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira
produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Acabou. É proibido.
Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas
especialmente preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos,
acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. E proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre para servir uma refeição
ligeira a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência:
só em arcas especiais e com fomos de descongelação especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira
que faz isto há 30 anos? Proibido.
As regras, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas
que centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola
e vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma mesa em que
se fazem tostas mistas.
No frigorífico, tem de haver sempre uma caixa com uma etiqueta “produto não válido”, mesmo que vazia.
Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem de se colar uma etiqueta
e inscrever a data e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram? Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser
de abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia e devidamente registadas.
As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas
especiais e assinadas pelo funcionário certificado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de
aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser. Desde que seja com facas de cores
diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta
com a data e a hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o seu próprio carro para
transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos? Proibido. Tem de ser em carros refrigerados.
Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia.
Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as
brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.

Anónimo disse...

Para uns, nada. Para outros, tudo
Santana Castilho - 20071204:

É legítima a revolta: então temos funcionalismo público em excesso e depois vamos contratar serviços no exterior?
O refúgio dos políticos censurados na praça pública é correntemente a legalidade dos actos censurados. Como se a moral não existisse e não devesse preceder a invocação da capa asséptica da lei.
Nuno Guedes, jornalista do Rádio Clube Português, investigou, mas a notícia esvaiu-se no ruído dos escândalos a que nos habituámos. Certamente que a situação descrita está coberta pelo manto diáfano da legalidade. Mas sob o holofote da moral causa-nos repulsa e merece que recordemos os factos denunciados: João Pedroso, advogado ilustre e irmão do ex-deputado Paulo Pedroso, do PS, foi contratado pela ministra da Educação para fazer o levantamento da legislação existente sobre Educação e elaborar um manual de direito da Educação. Os trabalhos deveriam ter decorrido entre Junho de 2005 e Maio de 2006, com uma remuneração mensal de 1500 euros. Findo o prazo, não havia levantamento nem manual. Mas nada aconteceu. Ou, melhor, a mandante concluiu que o mandado estava a ser explorado e celebrou com ele novo contrato (despacho de Fevereiro de 2007) para fazer a mesma coisa. Mais um ano para a execução da tarefa, desta feita com 20 mil euros por mês. São inevitáveis as perguntas: é preciso mandar levantar (a ouro, em outsorcing) o que se levanta com um clique em n sítios da Net? Se assim não fosse, que é, não teria a ministra, no seu ministério, dezenas de funcionários competentes para levantar o que está de pé? E o que é isso de manual de direito de Educação, sendo certo que os diplomas vigentes estão sobejamente tratados e comentados por especialistas em múltiplas obras publicadas?
Seria vazio de sentido, face ao anterior, questionar a competência de João Pedroso para executar a encomenda de tão generoso contrato. Mas percorrendo a vastidão do seu curriculum e não lhe encontrando qualquer ligação ao particular ambiente da legislação educacional, sobra a questão: porquê ele e não outro, de tantos que têm o que ele não tem?
O conhecimento deste deplorável acontecimento surge quando ainda está vivo o desconforto da função pública face a um Orçamento Geral do Estado que fixa em 2,1 por cento o aumento dos salários, insuficiente para cobrir a inflação esperada e depois de uma perda do poder de compra próxima dos 10 por cento, desde 2000 (estatísticas oficiais). Mas, mais que isto, coexiste com realidades menos conhecidas desse orçamento. Com efeito, o valor previsto para "remunerações certas e permanentes" volta a descer (tenha-se em vista que a descida desta rubrica, durante a governação de Sócrates se cifra já em valores que rondam os 500 milhões de euros). Como corolário desta nova descida resultarão, obviamente, despedimentos, reformas compulsivas e mobilidades especiais. E que verificamos, do mesmo passo, no orçamento para 2008? Que sobe exponencialmente a verba prevista para a compra de serviços a privados. São nada mais nada menos que 1200 milhões de euros para pareceres, aquisições em outsorcing, estudos e projectos. É legítima a revolta dos funcionários e lógica a interrogação: então temos funcionalismo público em excesso e depois vamos contratar serviços no exterior?
Sob a rosa murcha do PS bem pode Sócrates inscrever a máxima que o ilumina: para uns, nada. Para outros, tudo. Professor do ensino superior

Anónimo disse...

O advogado do diabo é quem zurze ou quem defende o Socrates??????? Vivemnos no país uma tal situaçao de instabilidade de empregos!!!!! Até nas Camaras, na nossa e na de Lisboa, o Governo se mete, com as restriçoes de endividamento!!!! E se for verdadeira a identidade do segundo comentador sendo o prof. dr. ou profª d.raª, queria mesmo perguntar-lhe porque não ficou na escola até aos 65, já que as reformas do Socrates sao tao boas!!!! Que cinico, men!!!!!!
Rita

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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