“O conflito é o processo que começa quando uma parte percepciona que frustrou a outra ou está prestes a frustrar algo que lhe diz respeito.” Kenneth Thomas
O conceito de CONFLITO relativamente às CAUSAS modificou: da impossibilidade de consenso, passou, actualmente, para a dificuldade em se lidar com a diferença.
Podemos citar algumas significações para o Conflito:
Ø Actividades, condutas, posições, propósitos percebidos como divergentes ou incompatíveis
Ø Incompatibilidade com os desejos do outro
Ø Quando a busca das coisas se traduz numa luta pelo poder
Ø Duas individualidades confusas pelas próprias limitações intra psíquicas (…), (…)
Tendencialmente, observamos o «conflito» como algo negativo,
Ø Desvia o interesse dos objectivos
Ø Gera ressentimentos entre as partes
Ø Provoca insatisfação,
Esquecendo as vantagens a ele intrínsecas:
Ø Ressalta os problemas existentes;
Ø Proporciona novas ideias, potenciando o desenvolvimento pessoal e social
Ø Provoca a redistribuição do poder e da influência propiciando a melhoria e evolução da relação...
Uma comunidade humana só se perpetua com base na comunicação, numa rede comunicacional (verbal, não verbal, adaptada a cada grupo, a cada quadro de referência…).
Se essa comunicação falha, os alicerces da organização estremecem, muitas vezes até ruir.
Para a resolução de um conflito temos como pano de fundo a comunicação: refaz os laços emocionais, racionais e relacionais que estremeceram em fissuras até aí (aí = eclosão do conflito), quer o efeito tenha sido de implosão quer de explosão (certamente que de modo diferenciado em cada um).
O compromisso tem que ser assumido, irrompendo da razão e das emoções de ambas as partes, ou seja, dos seus interesses que devem ser conciliados e negociados com base em concessões mútuas, após o desnudar das suas posições. E tudo com o fim último do restabelecimento dos laços comunicacionais.
A grande qualidade da Comunicação para a resolução dos conflitos deve ser: redundância q.b., baseada na:
Ø Identificação dos interesses comuns
Ø Centralização nos temas, evitando os ataques pessoais
Ø Procurar entender o ponto de vista da outra parte; tentar sentir como seria estar do outro lado
Ø Trabalhar a partir das ideias do outro reconhecendo o seu valor
Ø Ressaltar os aspectos positivos da outra parte
É essencial que haja:
Ø Mútuo reconhecimento no sentido de preservar a partilha de valores
Ø Compreensão de que o nosso julgamento tal como o da outra parte é falível
Ø Abolição da Violência
Sempre tendo em conta os Valores da:
Ø Reciprocidade (tratar a outra parte com honestidade)
Ø Igualdade Humana (todos devem ter um tratamento justo e respeitoso com consideração pelas suas necessidades e liberdade de consciência, pensamento e expressão)
A procura das Soluções que satisfaçam ambas as partes, impõe a observância de que foram resolvidos os sequentes requisitos:
Ø As distorções de percepção ou os estereótipos, pois impedem trocas produtivas
Ø Ainda existe condutas negativas repetitivas que criam barreiras?
Ø Ainda existe interesses incompatíveis (imaginários ou reais) que as partes têm dificuldade em conciliar?
Ø Há diferenças de valores (imaginários ou reais) que dividem as partes?
"É importante para a meta da individuação, isto é, da realização de si-mesmo, que o indivíduo aprenda a distinguir entre o que parece ser para si mesmo e o que é para os outros. É igualmente necessário que consciencialize seu invisível sistema de relações com o inconsciente... a fim de poder diferenciar-se..."
Carl Gustav Jung (1875-1961)
Como lidar com conflitos?
Um índio ancião norte-americano descreveu os seus conflitos internos conforme: "Dentro de mim há dois cachorros. Um deles é cruel e mau. O outro é muito bom. Os dois estão sempre brigando.
Quando lhe perguntaram que cachorro ganhava a briga, o ancião parou, reflectiu e respondeu: "Aquele que eu alimento mais frequentemente". (Autor desconhecido)
Alzira Lima de Jesus Castro Pinto
4 comentários:
Os administradores deste blogue, têm de fazer, muitas vezes, gestão de conflitos... No último dos quais em consequência de uma previsão apocalíptica, mas perfeitamente expectável pela História, de João Lopes de Matos, Rui C. Martins teve de vir a lume dizer que, tão poucos, todos são necessários. E que deveriam habituar-se a argumentar, com total respeito pelo Outro: e pelo do Outro do Outro, arquétipo comum.
Sem juízos de valor, senão o das suas próprias ideias. É que
por vezes torna-se muito difícil, se não há fios de Ariadne, para manter pontos de contacto: entre alguns que politicamente dizem 100% bem e outros 100% mal do governo, como? E, o que é perfeitamente insano, são os mesmos que, respectivamente, dizem 100% mal da Câmara e 100% bem, funcionando de acordo com os seus impulsos mais primários, ao nível do inconsciente. Que não conseguem passar do «eu creio» para o «eu penso». Que não conseguem ver nunca que o Outro pode ter razão, aqui e ali, e possibilitar o seu crescimento, a sua evolução. No exemplo índio dos cachorros interiores que Alzira Lima deu, têm sempre um comportamento ou extremamente dócil ou de os soltar, tão acerrimamente contra.
E nesse espaço de tudo ou nada, entre 0 e 100%, fica mesmo impossível dizer... «eu penso».
vitorino almeida ventura
Quero participar no tema levantado e não sei bem o que hei-de dizer. Não só diz tudo ou quase tudo sobre o tema como o diz de modo compacto e profundo.
Ainda assim ,quero salientar alguns pontos:
- Centralização nos temas , não nas pessoas;
- Procurar entender o ponto de vista da outra parte;
- Compreensão de que o nosso julgamento, tal como o da outra parte, é falível;
- Abolição da violência física ou apenas verbal ou escrita;
- Reciprocidade e igualdade.
Quer-me parecer, no entanto, que o conflito deve ser entendido como algo inerente à convivência e que tem aspectos positivos e negativos, como afirmado.
Faltou, talvez, falar nos tiques, impulsos,”modus operandi” dos cérebros de cada um e ter sempre isso em conta.
Pormo-nos na posição do outro não é apenas tentar ter o seu pensamento mas também o modo de pensar e de sentir.
O nosso comportamento é fagmentado, agirmos como unidade é factor de conflito, exactamente porque não nos vemos interdependentes e sim independentes dentro daquilo que fazemos.
O conflito é necessáriamente propulsor de todo o grupo que vive, convive e sobrevive, juntos, para buscar o campo dinâmico de produção. Assim, ele deve estar centrado nas ideias e este deve ser incentivado. Ele é a base do progresso humano e não o conflito de pessoas.
É preciso que os incomodados vençam os acomodados e a força surja de quem não tem medo dos acontecimentos.
Caro VAV,
Não são apenas os administradores do blogue que têm (ou devem) gerir os conflitos: estes são espontaneamente geridos quando aqui comentados. A ATITUDE é que nem sempre será a mais harmonizada. Não será por isso que ficaremos no «0» … já que o «100» é um tanto ou quanto ambicioso. O conflito também origina a harmonia; a desarmonia também desenvolve (desde que coerente).
É isso: uma questão de atitude… E a do VAV foi fielmente de encontro ao meu pensamento quando escrevi…a diferença está em que eu refiro os pensamentos/comportamentos no geral, sem particularizar situações. Intento, no texto, abolir o Preconceito = presença, verdadeiramente enraizado na memória, de associações negativas. Não podemos trabalhar sobre as posições (levam ao impasse), mas sim sobre os interesses, sob pena de conduzir ao Conflito Polarizado = inflamado, acesso, galvanizado (excitado), limitando o avanço para o diálogo (já nem refiro para as soluções).
Conflito Manifesto = As posições: superfície do conflito; os verdadeiros interesses estão ocultos nas posições: são actos da mente racional versus /actos da mente emocional.
Conflito Latente = Parte oculta, dissimulado.
Caro JLM, os «tiques, impulsos,”modus operandi” dos cérebros de cada um» definem a sua atitude. Pormo-nos na posição do outro não é tentar ter o seu pensamento, esse, é particular: é encarar aquela ideia dentro do contexto do outro, e o contexto, esse sim, encerra «o modo de pensar e de sentir». Mas…o pensamento e o sentimento não são algo estático: muito embora a sua base esteja no carácter, como humanos temos momentos de tudo, ou momentos de apenas algumas coisas, mas nunca momentos de nada ( « = 0% » )…
Caro Anónimo, os portais de relacionamentos omitem um aspecto importante na compreensão/apreensão das ideias: a linguagem não verbal, o modo como se diz (porque nem sempre o modo como se lê é lido da mesma forma por todos), o olhar, o movimento do corpo…abrindo a nossa imaginação `a interpretação que QUEREMOS dar (o nosso contexto, a nossa atitude). Será que realmente construímos redes efectivas de relacionamento?
Fica a questão no ar…
«Ter medo» é lícito, pois o medo promove a acção: se sinto medo de ser atacada, a minha mente envia ao meu corpo os meios de defesa…e preparo-me para a defesa. O medo é uma das Emoções Primárias (Daniel Goleman), as emoções são um agregado psico-fisiológico que se expressam por súbitas e breves brechas no equilíbrio afectiva, com repercussões sobre a rectidão da consciência e sobre a acção de vários órgãos. São os sentimentos que cunham: são vividos com intensidade mais branda, mas são mais duradouros, mais abundantes e variados do que os estados afectivos básicos que os origina (emoção). Envoltos em factores intelectuais e morais, não são acompanhados, obrigatoriamente, de sintomas. Podem resultar das emoções com as quais mantêm conexão quanto aos conteúdos respectivos. Quem nunca sentiu medo… «que atire a 1ª pedra».
Além de que a acomodação também é uma estratégia de resolução do conflito. E volta a aparecer o respeito: de como cada um sente.
Mas alguma coisa acontece nos portais de relacionamentos …confirmada que se vê a reacção à acção (da escrita) como real.
O conflito assume-se, então, como uma reacção à acção…Mas não o é todo o nosso comportamento?
Atitude – disposição de espírito exteriorizada de um certo modo, postura, expressividade negativa ou (preferencialmente) positiva: temos propensão para julgar os factos sem averiguar o que de facto aconteceu. Quantas vezes concluímos de maneira errada sobre as situações e nos vemos como donos da verdade?
Não se preocupar com a NECESSIDADE do outro é o típico e fugaz relacionamento: eu (que vendo) e o outro (que compra). Claro que fazer contratos é parte do jogo, contudo NÃO É O JOGO. Que diferencial oferecemos em relação àquele que nos quer vender o seu produto?
(Produto = ideia, percepção)
O Jogo é a VIDA!
Vida = Existência = Subsistência
«Nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo…» (John Donne, poeta/pensador inglês; 1572 – 1631). E a frase subsiste até aos dias de hoje…e assim perdurará! Porque coabitamos em redes de RELACIONAMENTO! E como perduram? Habitando com!
É assim que o Mundo continua o seu movimento de rotação...e nós vamos rodando com ele, vivendo, aprendendo e ensinando!
Abraços,
Alzira Lima de Jesus Castro Pinto
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