quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

O dr. Morais em Pedro Mexia

Na apresentação do livro Crónicas de Sancho Pança, associei o que de melhor escreveu o dr. Morais ao padrão vulgarmente associado ao haiku, composições breves, oscilantes entre os três e os seis versos — e comparei o Fogo (...) ao Senhor Fantasma de Pedro Mexia. Os paralelismos

podiam não acabar por aqui. Ambos se cumprem numa "poetry of diminished expectations", na máxima de Philip Larkin. Em ambos, (sobre)vive uma certa direita, culta... De ambos uma certa reacção individual às pessoas. Nunca um clubismo, pese embora a militância do dr. Morais que votaria ainda Salazar no concurso televisivo... Toda a gente sabe como

o dr. Morais ganhou ódios de estimação, pela sua individualidade, como Pedro Mexia, que não pertence aos círculos da universidade... O que muito aprecio neste, farto que estou de academismos bafientos. Como diz Francisco José Viegas, com bem mais competências, usou de bravura suficiente para pôr em causa consagrados e regressar ao texto como território de análise. (São conhecidas as suas preferências pelo diário de Torga, no avesso colocando a José Gomes Ferreira). Mas a Pedro Mexia

leio-o sempre com gosto. Neste país do respeitinho, permito-me, no entanto, discordar deste alguém mais alto na escala da opinião — como é o caso da sua análise supostamente pragmática aplicada a Rui Reininho, quando afirmou que em sua lírica Come On & Ana não produz textos com coerência. Nem com sentido de humor que professa, o britânico "understatement", como resposta aos jogos criativos de Reininho, tal seta acerta aqui no alvo. Os textos de Reininho não são de uma clássica coerência, mas possuem-na intrinsecamente, viciados de uma combinatória múltipla que em espiral vai testando ao máximo ‹‹a elasticidade da língua››, como bem referiu João Gobern.

vitorino almeida ventura

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