sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Daqui e dali... Jorge Laiginhas

Paz à alma da linha do Tua!
Caro amigo,a chuva já veio lamber a pele das terras que andavam com os lábios gretados pelo cieiro. Pelos olhos da janela da sala onde pico as teclas do computador vejo um rego de água a correr, sorridente, pela berma da rua. Penso: num futuro próximo a água será a maior riqueza dos povos.
A barragem que a EDP pretende construir nas proximidades da foz do rio Tua irá submergir o cadáver daquilo que, em tempos de antanho, foi a linha de caminho-de-ferro do Tua. Sempre os homens enterraram os seus mortos. Com dignidade. Paz à alma da linha do Tua!
Em tempos idos escrevi que os autarcas dos concelhos de Alijó, Murça, Mirandela, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães devem ser capazes de ver, de uma vez por todas, a eira comunitária em vez de se gastarem, inutilmente, procurando cada qual amealhar o seu grão. Eles, os autarcas, são a voz, ainda (?) altissonante, dos teimosos que por cá resistem. E somos já tão poucos! Que exijam da EDP contrapartidas à construção da barragem. Sim, senhor. Contrapartidas e não esmolas. Que a EDP, e o país, paguem o preço justo pela exploração dos nossos recursos.
E, já agora, porque não apresentar ao Governo da Nação um projecto, assumido pelas cinco câmaras municipais, para transformar o vale do rio Tua num espaço turístico único na grande Península Ibérica? Que comecem por patrocinar um concurso de ideias – ideias para o aproveitamento turístico do vale do rio Tua – ao nível da União Europeia. Sim. Ao nível da União Europeia. É que o vale está virgem. Virgem mas casadoiro, algo raro. Tão raro que só acredita quem o conhece!
Jorge Laiginhas, Diário de Trás os Montes

7 comentários:

mario carvalho disse...

Caros amigos

Pelo conhecemos do Jorge Laginhas e dos seus escritos polémicos.. pretendem alertar, responsabilizar os transmontanos; ele não é a favor da pena de morte por asfixia debaixo de água .. pretende é chamar à atenção. para o sacrifício pois é contra a pena de morte e contra os carrascos que
ele bem identifica... se não forem capazes por deleixo ou incompetencia de apresentarem alternativas... então .. vamos ao funeral.. da linha e de todos os que se atolarem na lama e dos quais os vindouros não irão recordar com saudade

Dario Silva disse...

É caso para perguntar ao ilustre Jorge Laginhas se realmente conhece(u) a Linha do Tua.
A viagem de comboio que ali fez (crendo que sim) foi igual à que fez noutras linhas de caminho de ferro?

Eu acho a Linha do Tua muito igual à linha vermelha do metro de lisboa, ou até muito parecida com o odor periférico da Linha de Sintra (também já virou 120 anos).
Mas a linha de que eu gosto mais é dos quatro quilómetros a construir da CRIL e dos seus quase 120 milhões de euros.

Bom preço, é pra transmontano pagar!

Dario Silva.
(passageiro do ramal de braga e de outras linhas também)

mario carvalho disse...

Um vale virgem é um vale que não foi mexido por nenhum mexia nem perfurado.. nem esventrado.. e muito menos cedido pelo seu responsável porque se o for o seu nome é muito feio...

Anónimo disse...

Já nos avisaram vai tempo que somos uns sonhadores; que isto de «abrir e reabrir» linhas de caminho-de-ferro só pode ser um exercício de masoquismo. É que as linhas estão mortas, cadáveres, como lemos, e só há uma réstea de esperança para os serviços a 300 à hora, tipo fast-food!...

Como imagino os risos e sorrisos dos decisores das barragens perante o apoio bacoco dos que acham que sim que barragens é que é bom, esquecendo que já há quem esteja a projectar demolir exemplares antigos, mas isso é «lá fora», num momento em que a Europa (ah, «lá fora») já percebeu que tem que retirar os camiões (e os automóveis) das estradas e transportá-los em cima de navios («auto-estradas marítimas») e de comboios («plataformas logísticas», soarão a algo?)...

Respeitamos, entenda-se bem, quem opina contra linhas de caminho-de-ferro e a favor do desenvolvimento provindo das ditas barragens.

Se calhar estamos errados. Mas como estamos prontos para aprender, digam-nos onde quando e porquê algum dia uma barragem trouxe mais vantagens que um caminho-de-ferro.

Barragem é morte, caminho-de-ferro é desenvolvimento, atenuação de assimetrias regionais, mobilidade e oportunidade.

Confundir uma gestão de uma linha que precisa melhorar com a sua condenação à morte por afogamento parece-me «justiça a mais» para um país de tão brandos costumes.

Só esperamos que Trás-os-Montes nas pessoas dos seus cidadãos saibam mostrar ao «poder» que tem opinião...e força!

Com eles contamos!

Anónimo disse...

O que mais me admira no meio de tanta barafunda e independentemente das boas vontades, (que as há) é que todos aqueles que fazem parte do poder político por dentro e meios por fora, não venham dizer o que se lhe oferece sobre servirem-se legitimamente da sua posição (política) para chamarem à atenção dos governantes no que respeita à continuidade, ou não da linha do Tua, qual monumentalidade até agora escondida e amanhã, quiçá, debaixo de água.
Estou deveras convencido que se fosse para pugnar por emprego para cada um ou para os seus, correriam céleres aonde fosse preciso para conseguir essa prenda, nomeadamente estariam bem à frente das objetivas fotográficas e de filmar nos eventos principalmente próximos de casa.
Assim como assim, querem lá eles saber da linha, das Caldas de Carlão ou de S. Lourenço.
E os autarcas que daqui a dois anos vão a votos?
E os que de novo se vão propor?
Qué deles?
Toda esta gente, meus caros, têm uma lata!

Anónimo disse...

É espantoso como se fala das coisas com tanto deconhecimento e ingenuidade. O Vale do Tua, se algum dia vier a ter uma barragem, perderá muito do seu encanto e valor que neste momento o individualizam. Muito do seu património (ambiental, paisagístico, histórico, etc) ficará destruído e debaixo de água. Só com muita ingenuidade se pode acreditar que, sendo construida a barragem, haverá interesse e investimento turístico. Como é que alguém pode acreditar que haverá investimento na região, quando uma ponte modesta que ruiu há uns bons anos (Amieiro) com a força das cheias, ainda não foi reconstruida... O investimento na barragem será apenas isso: investimento na barragem. E quanto ao turismo, quero ver quem gostará de ver aquilo que muita gente não gosta que se divulgue: os imensoa cabos de alta-tensão e postes de apoio, a água eutrofizada e mal cheirosa de verão, uma margem com uns bons metros de lodo e sem nenhuma vegetação... enfim, tudo coisas que não são nada atractivas nem individualizam este vale pela positiva. E quando me falam que pelo menos o canhão fluvial e as fragas ficarão a afirmar este vale como único, eu não sei se hei-de rir ou chorar, é que realmente ficam, mas é debaixo de água (basta comparar cotas...). Enfim, talvez venhamos a ter o pujante turismo que o mundialmente conhecido Pocinho tem, e tenhamos também parte dos milhares dos turistas que lá vão pela barragem. E sim, estou mesmo a ser irónico!

Bruno Alves, Trás-os-Montes

Luís Manuel da Silva Lameiras disse...

De facto só numa república das bananas como é a nossa é que se pode acometer tamanha barbaridade, com é aquela que o nosso governo liderado pelo Sr. Eng.º (?) José Sócrates perpetrara ao Vale do Tua e à linha com o mesmo nome. Só num país de "iluminados" é que se pode desrespeitar a natureza em estado de pura virgindade, como é o caso, e, por outro lado deitar para o caixote do lixo, aquela que é uma das linhas mais bonitas e sublimes, por razão da sua paisagem que existem no mundo. Esta linha é centenária e faz parte da memória cultural do país, especialmente dos transmontanos. Ora, não é Portugal em dos Estados mais antigos da Europa e do mundo? Portugal no que à História diz respeito não é um dos mais nobres por via dessa mesma história? Não foram os lusitanos que deram novos mundos ao mundo? Levantadas estas indagações, do meu ponto de vista, esta é talvez a maior atrocidade que um país pode engendrar para com a sua própria história, isto é, para com a sua própria memória cultural. Pois, as pessoas não são só presente e futuro, elas são acima de tudo aquilo que é passado, por meio dos legados deixados pelos nossos predecessores. Desta forma suicida-se aquilo que de mais importante tem o ser humano, as suas memórias culturais. Memórias essas que são a espinha dorsal da nossa identidade como povo. Ora, se nós perdemos a identidade como povo, perdemos também a razão de existir e, assim caminhamos em divagação sem sabermos por onde seguir.
Pelas razões avocadas reitero inequivocamente o meu mais alto grito de revolta contra aquele que é o maior atentado que alguma vez se cometeu contra a natureza no seu significado mais amplo que se possa imaginar.