quinta-feira, 17 de maio de 2007

O que falta fazer pelo azeite - Mário Abreu Lima

«É já frequente na nossa vida pública assistirmos a compromissos e a assunção de grandes linhas de política, por parte de sucessivos governantes, serem completamente ignorados ou esquecidos logo que os ventos da conveniência e oportunidade mudem de direcção ou de sentido.
Pois bem, estaremos por certo todos lembrados da grande afirmação de princípio do senhor ministro da Agricultura, elegendo o sector do azeite como importante e prioritário no panorama agrícola nacional. Ora, decorrida já metade do seu mandato, todos aguardamos um simples esboçar de atitude ou de política que conduza este importante sector ao lugar que merece e anseia, fazendo jus a tão peremptório compromisso.
Enquanto vamos assistindo ao sucessivo escorregar do Terreiro do Paço neste precioso e pouco valorizado óleo…, continuamos

- A não ter uma estrutura vertical na fileira do azeite, que lhe possibilite gerar valor acrescentado consentâneo com as potencialidades qualitativas do produto e o crescente reconhecimento dos consumidores;

- A não criar nenhum organismo que substitua a extinta ACACSA e que permita a monitorização e controlo da produção.

- A assistir a uma completa desregulação da produção, comercialização e introdução no consumo, por não existir nenhum sistema de traçabilidade que permita o controlo da origem do azeite introduzido no consumo, nem dos volumes e da sua qualidade (exceptuam-se aqui os DOP, mas que representam somente 3% da produção nacional);

- A constatar que o próprio sistema de gestão e certificação das DOP apresenta debilidades pela reduzida dimensão e falta de capacidade técnica e financeira das respectivas entidades gestoras e certificadoras, pese embora o seu sacrifício e enorme empenho;

- A tristemente observar o alheamento à necessidade urgente de fomentar uma cultura do azeite em Portugal e às vantagens do seu consumo, bem como a um sistema que garanta a genuinidade e a qualidade do produto.

Não se acuse, porém, o sector de nada fazer! Ultrapassando as suas divergências, concertou estratégias e organizou-se, constituindo uma estrutura associativa interprofissional (AIFO) que aguarda reconhecimento, vai para seis meses, no Gabinete de Planeamento do Ministério da Agricultura.
Aguardamos, ainda, esperançados em não desesperar… pela intervenção prometida e pela ajuda na organização e promoção de um sector e de um produto que por si se distingue e em que Portugal já foi um dos destacados líderes mundiais!
E pode permitir ainda distinguir quem, honrando um compromisso que livremente assumiu, venha a honrar a instituição em que milita… tão afastada por vezes deste nobre princípio.»

Mário Abreu Lima in JN

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