sexta-feira, 18 de maio de 2007

Daqui e dali... Mário Cardoso

Portugal a duas velocidades
A propósito de desertificação e do abandono do interior, lembro-me de a minha professora de História de 12º ano dizer que todos os políticos deveriam ter uma formação em história para que hoje não se cometessem os mesmos erros do passado. Nos sec. XIV, XV, XVI, não são raras as vezes que os historiadores da época falavam do abandono das terras em busca de melhores condições de vida nas cidades do litoral. As consequências são exactamente as mesmas, cidades sobrelotadas, precariedade de vida, problemas e conflitos sociais, etc, etc.
Nos nossos dias acentuam-se as diferenças entre um interior subpovoado com tendência a decrescer e o litoral da faixa que liga Setúbal a Braga hiperpovoado.
Já há muitos anos que se verifica esta tendência e também há muito tempo é de conhecimento dos vários governos que por nós passaram. Fazem-se colóquios e mais colóquios, fala-se e debate-se em programas televisivos, realizam-se palestras nos auditórios de universidades, no entanto o problema continua e nada se faz em concreto.
Compreende-se porque não se investe no interior, e são vários os factores:
-População envelhecida, pouca escolaridade e com ela associada falta de formação e mão-de-obra qualificada, maus acessos e poucas estruturas viárias, por ex. Bragança é o único distrito do país que não tem um km de auto-estrada, nem terá nos próximos anos.
É no interior que se registam os mais baixos valores de poder de compra.
Se não há investimento também não há emprego, e as pessoas procuram-no onde existe. É no litoral desenvolvido que existe mais ofertas de emprego e também maiores garantias de progressão e realização profissional. Ora, este facto tem o “reverso da medalha”, crescimento desordenado, costa litoral deteriorada, problemas sociais, poluição, aumento da criminalidade, etc.
É necessário resolver esta dicotomia e desenvolver uma maior equidade entre regiões e é ao Estado que compete ter a iniciativa de promover investimentos estruturais para o interior do país. É também competência do governo definir políticas de coesão económica, social e territorial. Também tem que definir programas de ordenamento do território.
Na minha opinião o governo deveria pôr de novo na sua agenda, a regionalização.
Uma das prioridades do QREN (quadro de referencia de estratégia nacional 2007-2013) para além da educação como foi referido, será a qualificação do território, a promoção do seu melhor ordenamento e a redução das assimetrias regionais, sendo assim o governo fica comprometido com o interior. O QREN apresenta-se como a ultima grande oportunidade para que todas as regiões atinjam as metas de desenvolvimento traçados para a União Europeia, e todos os cidadãos disponham de idênticas oportunidades independentemente do local onde se encontrem. Durão Barroso disse que Portugal vai receber mais de 21,5 mil milhões de euros até 2013. É muito dinheiro que tem de ser bem gerido…
Terá o governo alguma estratégia de desenvolvimento e planeamento do território? Eu penso que tem, mas está a fazer tudo errado como os outros tem feito até aqui. (Enfim são todos maus alunos!...) O Estado está em debandada no interior do país. Com esta política de encerramento do País, sendo claramente o interior mais prejudicado, vemos a serem canalizados para a Grande Lisboa grande parte dos Recursos, quer humanos quer financeiros. Tudo em nome de uma estratégia que visa diminuir o deficit público, mas será esta a forma mais correcta? Veremos os resultados em 2013, esperando que não continue tudo na mesma ou ainda pior, sendo este o cenário mais provável.
Em vez de termos um Portugal a duas velocidades antagónicas, deveríamos ter um país uno, equilibrado no seu ordenamento e oferta de oportunidades. Os autarcas do Interior deveriam unir-se e, em unanimidade, com uma força coesa, levantarem a voz contra uma politica que só prejudica gravemente os nossos interesses…

Mário Cardoso

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