Passado, presente e futuro da vila de Ansiães
A vila de Ansiães nasceu no início da nacionalidade e situava-se, como quase todas as vilas nessa altura, dentro das muralhas de um castelo (o castelo de Ansiães).

Nessa altura, as necessidades primordiais das populações eram as de defesa e segurança em relação aos inimigos (os mouros, primeiro, os castelhanos, depois, e, em geral, também os bandos de ladrões). Daí a a situação dentro das muralhas.
Não é difícil concluir que isso trazia enormes inconvenientes: no abastecimento de água e de alimentos e na limpeza. Esta, no entanto, teve pouca importância durante séculos e séculos.
Mas, com o rodar dos tempos, tudo se foi alterando, de tal modo que (para encurtar etapas) as vantagens de viver dentro de um castelo se transformaram em inconvenientes e começou a pensar-se em mudar a vila e, consequentemente, a sede do concelho, para outro sítio.
Daí a deslocação (com maiores ou menores atribulações) para o lugar de Carrazeda, que seria o mais central em relação a todas as freguesias. Só que o lugar de Carrazeda era mesmo muito pequeno e pobre e não tinha a mais pequena aparência de dignidade própria de uma vila e de uma sede de concelho.
Para lhe dar a importância que lhe faltava, construíram-se os edifícios públicos indispensáveis ao funcionamento da administração.
Pouco a pouco e porque havia interesse em morar na vila, as construções começaram a aparecer mas a um ritmo demasiadamente lento e ainda com edifícios de grande pobreza arquitectónica.
Surgiram mais umas ruelas, uma pequena igreja, e uma rua principal, que poucas casas tem dignas de fazerem parte do núcleo central da vila.
Este caminhar lento rumo ao futuro durou até aos anos 60/70 do século passado.
De um momento para o outro, nessas décadas, começou a construir-se muito, mas não se cuidou de melhorar a zona representativa da urbe, a hoje denominada Rua Luís de Camões.

Era uma vila com moradias modernas à volta, mas que mantinha, no seu núcleo central, uma urbanização de uma aldeia fraca.
O actual presidente da câmara achou que alguma coisa tinha que ser feito para alterar esta situação. E tratou de mandar empedrar e iluminar de novo toda a zona central.
E hoje o que temos são ruas com piso e iluminação novos (não quer dizer em bom estado) mas ladeadas por edifícios antigos sem qualquer espécie de arquitectura que mereça (e possa) ser preservada e, pior ainda, com estabelecimentos comerciais degradados e nada consentâneos com as obras feitas.
Os edifícios, um dia, hão-de ruir (muitos deles), os comércios hão-de fechar (a grande maioria).
Duas perguntas se colocam:
Será que serão construídos prédios novos no lugar dos velhos, com outra arquitectura?
Será que a zona central ficará abandonada como zona principal e que será criado um novo centro que substitua o actual?
Aqui, na Marinha Grande, onde agora me encontro, o que aconteceu à zona central, que também foi beneficiada com novo piso e nova iluminação, foi que ficou abandonada, as casas a ameaçar derrocada e as lojas comerciais fechadas, tendo o centro, que se julgava eterno no sítio em que estava, mudado para outra zona.
João Lopes de Matos