terça-feira, 25 de novembro de 2008

Daqui e dali... João Lopes de Matos

AVALIAÇÕES (uma perspectiva)

Vivemos actualmente um clima algo agitado nas escolas por causa das avaliações.
Ultimamente, tem-se tido o sentimento de que as escolas existem para que os professores tenham direito a uma boa, muito boa ou excelente classificação. E, como se tem pensado tanto na hipótese de todos poderem ter a classificação máxima, parece que tudo se resume à postergação ou não do direito sagrado de todos à classificação máxima de excelente.
Ora como a mim me parece que a escola está, inequivocamente, ao serviço dos alunos e da sociedade, tudo o resto terá que ser visto como aperfeiçoamento das técnicas que visam aquele desiderato.

Limitemo-nos a olhar as avaliações.
Será bom que haja distinções tão pormenorizadas (insuficiente, suficiente, bom, muito bom, excelente - não sei se é isto, mas é mais ou menos isto) entre professores?
Penso que não, que isto é mais factor de perturbação da vida escolar do que factor de melhor funcionamento - gera rivalidades entre professores de todo em todo desnecessárias e perturbadoras dum são relacionamento. Além disso, existe, subjacente a esta classificação, a ideia de que a grande maioria das pessoas pode facilmente atingir, se quiser, o bom, o muito bom e o excelente. Não vejo as coisas assim: acho que à grande maioria dos humanos é possível atingir o suficiente (o normal) e que só uma pequena percentagem pode chegar a níveis superiores, sendo ainda certo que aqueles que para uns se situam num patamar, para outros situam-se em patamar diferente.
O que é preciso é que todos cumpram de modo a que se consiga entre professores um bom espírito de entre - ajuda e uma realização que consiste no sentirem-se bem numa escola que todos conseguem que cumpra, dadas as circunstâncias de cada uma, o papel que lhe cabe na sociedade.
Os professores não precisam de ser classificados. Todos subirão na vida normalmente, sem necessidade de formalidades burocráticas.

Mas perguntar-me-ão: então não há controle nenhum? Há. Ele é feito dia a dia pela direcção e, periodicamente, pelos inspectores, pertencentes aos escalões superiores da administração escolar.
O tempo é todo aproveitado para o aperfeiçoamento do trabalho , resolução das dificuldades e vigilância da acção concreta dos docentes. Todos eles serão ajudados e todos vigiados. Ficarão mais que conhecidos (nos defeitos e nas virtudes) pela direcção e pelos inspectores - sem necessidade de grande burocracia.
E não haverá distinções? Claro que sim. Aqueles que não atinjam o patamar da satisfação serão especialmente inspeccionados e, se não subirem ao nível desejado, serão (em último recurso) punidos (ou encontrada outra solução). Os que se salientarem serão, no momento próprio , chamados a desempenhar missões específicas, remuneradas de modo especial.
Qual será melhor: todos serem classificados de excelente (ou parecido), com a burocracia que isso acarreta, ou reduzir a burocracia ao mínimo e optar por um critério prático que tenha como preocupação, de longe primordial, o bom funcionamento das escolas?
Sei que o problema é difícil. Apenas quis fazer um exercício mental para dar uma achega à discussão construtiva do problema.

João Lopes de Matos

8 comentários:

Anónimo disse...

*AVALIAÇÕES*
JLM fala numa perspectiva de avaliação que contradiz em tudo, o significado da própria avaliação, que "todos" dizem pretender seja feita.
Diz também JLM que a escola está - INEQUIVOCAMENTE - ao serviço dos alunos e da sociedade.
Claro que sim, e se não está, deveria estar!
Quanto a mim, aperfeiçoamento das Técnicas que visam um bom serviço à Escola, não se encontrará num "resto" além avaliação.
As técnicas hão-de encontrar-se em plenitude dentro da própria avaliação.
Só assim se compreenderá a excelência de ser PROFESSOR!
Ou será errada a ideia de que pela Escola passa uma Nação qualificada?
Depois, os próprios professores, dizem querer e não se importar de ser classificados pela avaliação.
Ora se assim é, retire-se a carga de trabalho extra que aos mesmos é imposta pelo formalismo, o que lhe retira, afinal tempo e espaço para preparar e dar aulas e aceite-se um "simplex" ou seja lá o que for, honroso para todas as partes...
Senhor JLM:
A grande maioria dos humanos não é professor!
Esta "classe" de humanos, querendo, como parece ver-se, ser excepcional na média de vencimentos que cobrem o País, não podem preterir uma avaliação concludente à sua maneira de estar na Escola e até fora dela.
Como os pais dos alunos, os Perofessores podem e devem ser os "heróis" dos alunos na certeza de termos uma sociedade, além de mais qualificada, também mais justa.
Se à avaliação se retira o insuficiente e o suficiente, é apenas uma questão de estudo científico, porque o que era desejável era que todos fossem bons, muito bons ou excelentes.
Claramente que em termos de qualificação, os professores insuficientes e suficientes na sua admissão, careceriam de formação para entrar no ensino e ponto final!
Isso de subir na vida, "NORMALMENTE" como diz, para a classe dos professores não deveria existir!
A excelência do seu trabalho não pode deixar dúvidas porque para isso são PROFESSORES!
O problema afinal, é difícil, mas então deixemo-lo aos Senhores Professores na esperança que eles, como classe excepcional que deve ser, consigam olhar o País, os alunos, os pais e o resolvam com todo o bom senso e não se mostrem ao País e ao mundo como uma classe mal paga de simples mineiros Alantejanos ou de fiandeiros do Vale do Ave.
Para mim começa a ser aflitivo ver esta classe profissional dizer o que diz e depois comportar-se de forma pouco mais que campesina, mas no seu pior!

M. Lameiras

Unknown disse...

Suspeitava que este momento havia de chegar e queria mesmo que ele chegasse: nós estarmos(eu e M. Lameiras) em dessintonia um com o outro. Parece-me que é respirar fundo a liberdade quando concluímos que não temos de pensar em consonância seja com quem for.
Sei que a minha perspectiva é diferente do que tem sido mais comum: - toda a gente entende que é necessária a avaliação e que esta está intimamente ligada à classificação, pressupondo ainda que, neste caso, todos os professores podem e devem atingir a excelência.
Não me parece assim.
Para mim, os professores são seres humanos como quaisquer outros(e é bom que o sejam - que tenham sentimentos como o comum dos mortais) e, dentre eles, uns têm umas características, outros outras.
Por exemplo, uns são mais inteligentes, outros menos; uns têm inteligência abstracta, outros concreta; uns têm memória de elefante, outros esquecem tudo; uns vieram fadados para a acção, outros para a meditação; uns têm dificuldade em lidar com os alunos, outros lidam com eles com a maior das facilidades.
Onde está a excelência? - A excelência está no resultado do trabalho conjunto das pessoas de diferentes matizes. Daí a necessidade da entre -ajuda , a aprendizagem de técnicas pedagógicas, a crença de que o espírito de corpo é que nos aproxima do máximo rendimento possível, atendendo ao somatório das características referidas e das características dos alunos que constituem um determinado agregado discente.
As classificações(do meu ponto de vista) só têm interesse quando se traduzem no insuficiente ou no bom. Mas elas não têm que constar, quantificadas ou qualificadas, nos registos biográficos. Nestes basta que constem os elementos que definam a personalidade, o saber, o método, a assiduidade de cada professor.
Se as características forem especialmente negativas, então há que salientá-las para uma mais funda análise e tomada das medidas necessárias. Se forem particularmente positivas, há que anotá -las para serem aproveitadas em cargos específicos(que podem requerer especiais características de acção, de saber, de equilíbrio).
Os professores são, portanto, avaliados pela direcção da escola(para mim, de preferência, não eleita) e pelos inspectores - avaliadores, devendo uma e outros ditar, ouvidos os professores, as linhas de actuação.
Os docentes devem ser ajudados, orientados, incentivados, no seu trabalho.
Terão, como recompensa, o prestígio conseguido pela escola e o salário a que têm direito.
Custa-me, confesso, descortinar o que é excelente ou muito bom. Já entendo melhor o bom ou o suficiente e, claro, o que não satisfaz.
Até porque, ao longo da vida, já vi critérios muito diferentes na avaliação. Pela minha experiência, os avaliados como melhores eram , muitas vezes, maus, para mim, porque perfeccionistas no mau sentido, no sentido burocrático, miudinho, fastidioso, nada prático.
E o tempo que se perde a avaliar e classificar toda a gente?
JLM

Anónimo disse...

Respeito muito a sua opinião, mas continuo crente numa avaliação correspondente às necessidades que o País tem na qualificação de educadores e educandos.
O maior problema é que grande parte dos Senhores Profesores, parecem ser, do alto da sua "magistratura", qualificadamente intocáveis.
E isso não é verdade!
M. Lameiras

vitorino almeida ventura disse...

Caro JLM,

estou plenamente de acordo consigo. Qualquer modelo de avaliação tem, em primeiro lugar, de ser formativo e não penalizador... O actual modelo de avaliação é um fim em si mesmo, labiríntico. Jorge Luis Borges disse que a maneira de sair dele é voltar sempre à Esquerda...

Sabe o que me parece o modelo, metaforicamente? Uma espécie de terminologia linguística do ensino básico e secundário... criada pela Senhora Ministra e abandonada (e bem). Quando aplicamos esta Nova Gramática, perdemo-nos tanto na terminologia, dada a sua complexidade, que em vez de com ela iluminarmos o texto, dele nos esquecemos para sempre...

Ora aqui o texto são as aulas e as formações. O professor deve preparar-se para ser o melhor, nesse contexto - jamais a preencher papelada para mostrar que o faz. E por que não usarmos um dos modelos dos países europeus onde o Ensino é melhor?

Vitorino Almeida Ventura

Post Scriptum: A divisão entre titulares e professores, quando as tarefas são as mesmas, baseadas na Gerontocracia é que despoletou esta revolta. A Senhora Ministra achou que os mais velhos (sejam competentes, ou não), como têm mais experiência devem avaliar os Outros. - Provavelmente, muitos desses é que os Pais quereriam não ter como professores para os seus filhos... Mas são esses que a Senhora Ministra decidiu valorizar.

Anónimo disse...

Haverá em todos os casos avaliadores bons e maus.
O proposto pelo M.E. é um critério - mais velho - mais experiente o que concordo nem sempre corresponde a mais competente.
Mas,
partindo do princípio que os professores devem ser avaliados por professores o que eu acho correcto e não concordando eles com este pressuposto deviam avançar com uma alternativa.
Acto eleitoral para decidir os titulares??? é um ex.
Contudo seja de que forma for haverá sempre uns melhores que outros. É incontornável.
Mas o principio dos professores é outro e é este que é escondido na capa da avaliação.
A progressão nas carreiras (mais dinheirinho)é dependente do resultado da avaliação.
É aqui que está o doi, doi...
E outra questão que faço. Porque é que hà professores que não têm mêdo ao projecto de avaliação inicial?

Aluno

Anónimo disse...

Qundo não se tem medo de ser avliado, isso significa competência e responsabilidade Nacional, ponto, parágrafo.

Unknown disse...

Eu,em qualquer problema,opto sempre pela solução que julgo mais simples e menos burocrática. Daí a minha posição acima exposta.Num acto de registo predial,que acho que simplificou a vida das pessoas,por exemplo, penso que ainda se poderia ter ido mais longe na simplificação( o registo predial foi o sector em que eu trabalhei).
Isso não quer dizer que concorde com muitas das atitudes dos professores.Estes deviam lutar,sem manifestações nem greves,por aquilo que entendem mais correcto.Discordo,em especial, de atitudes como as do dirigente sindical Mário Nogueira.
JLM
PS - Com tantas lutas ainda tornam a educação ingovernável e haverá então que tomar posições que talvez agradem muito menos aos professores.

Anónimo disse...

O que de facto os professores querem é não ser avaliados, pois isso é-lhes prejudicial, tanto que, se não é do modelo de avaliação é da fórmula de avaliação, ou de quem avalia... enfim sempre se há-de arranjar uma desculpa para adiar o que que não deve ser adiado.
Por muito que custe, sou funcionário do estado e já sou avaliado há muitos anos e até agora não vejo qualquer mudança, mas enfim não tenho direito á greve como os Senhores Professores!
Para que não houvesse dúvidas algumas, ponham os Senhores Professores a fazer testes tal como os alunos e avaliem-nos consoante a nota, pode ser que quem sabe, sabe, quem não sabe, arruma pró lado, só assim podem perceber que avaliar é bom mas não querem ser avaliados porque pode ser mau!