quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

José Cardoso Pires chamou provinciano a Eça
E sobre Pessoa disse que os vencedores trazem sempre as pulgas com eles…


Este ano, o meu tempo para ler (livros, leia-se, pois quanto a grelhas burocráticas absurdas aumentou exponencialmente) diminuiu consideravelmente. De todo o modo, vou aproveitando esse pouco para me apaziguar interiormente. Ou a ver documentários da Universidade Moderna…

Quando na RTP2 agarrei uma entrevista a Carlos Reis, lembrei da Balada da Praia dos Cães, do Dinossauro Excelentíssimo e de O Delfim. Lembrei
como Cardoso Pires achava Eça de Queirós um autor provinciano, apesar de ter estado fora. Como só com a sua geração, certamente falando de Abelaira, a literatura portuguesa se tornara mais cosmopolita… a pintar Lisboa.

Que também não entendia o Livro do Desassossego, na sua incompletude achando, no entanto, alguns flashes geniais. Que não queria pôr em causa Pessoa, mas que os vencedores trazem sempre as pulgas com eles.

(Esta é para o meu amigo JLM: que Cardoso Pires preferia ser acusado de defeito, nos seus romances, do que algum leitor o acusar alguma vez de que já tinha dito de mais e estava farto. Não vou falar no seu carácter perfeccionista… a escrever e a rasgar capítulos inteiros, só porque se deu conta a meio que a história devia ser contada sob o ponto de vista de outro personagem. Mais ele achava que a novelística da Presença e do neo-realismo tinha muita coisa menor: porque os personagens eram essencialmente mentais, tendo pouco de carne e osso).

Quanto à Política, sempre achou que os políticos eram agarrados ao passado, a ideias feitas, não confiando no carácter inventivo dos cidadãos. Como também estou com pouco tempo para ler, quanto mais participar neste blogue, quero dizer que só agora pude apreciar a instalação da escultura de João Nunes, o comerciante. Por trás, há a ideia pascal do Cordeiro de Deus, contra a qual JLM vem há muito pregando no Deserto…

Vitorino Almeida Ventura

7 comentários:

Unknown disse...

VAV refere neste seu texto o JLM duas vezes.
Primeiro-para me chamar a atenção para o facto de me repetir nos meus pensamentos.E tem razão: com medo de não chegar aos leitores,digo a mesma coisa diversas vezes.
-Vou procurar emendar-me,embora não tenha,nem de perto nem de longe,a pretensão de ser perfeccionista e muito menos literato como José Cardoso Pires o foi brilhantemente.
Segundo-Refere também que eu tenho lutado contra a ideia pascal do Cordeiro de Deus. - Não sei de que verdadeiramente me acusa.
Não será,com certeza,de ser contra a inocência,a pureza,a candura do"Agnus Dei"ou sequer contra o sentido de comunhão ou de confraternização inerentes ao "Cordeiro".Também não me poderá acusar de ser contra o "Messias",entendido quer como "o que há-de vir"judaico quer no sentido do "que já veio" cristão.
Talvez queira referir-se ao messianismo no sentido de sebastianismo,contra o qual luto na medida em que acredito que a solução dos problemas não está no encontrar de um D. Sebastião,que,sozinho, tudo resolva.
JLM

Anónimo disse...

Relativamente ao messianismo, JLM quis dizer D. Sebastião ou Virgem Santíssima? (precise o contexto, por favor). E VAV a que personagens mentais neo-realistas se refere? (precise o contexto, por favor).
Um velho socialista que não mete o socialismo na gaveta

Unknown disse...

Resposta ao socialista"autêntico":
Claro que me quero referir a um D.Sebastião e não à Virgem Santíssima.A intervenção da Virgem Santíssima é feita sem a sua presença"humana" no dia a dia e solicitada através de rezas.A intervenção de um D.Sebastião é feita com a sua actuação humana no meio de nós.Não acredito que um D. Sebastião,vivendo no meio de nós possa,sozinho,resolver todos os problemas , uma espécie de Virgem Santíssima vivendo tu cá tu lá connosco.
Aproveito para lhe fazer uma pergunta: O que é,para si,um "socialista que não mete o socialismo na gaveta" e o que é,para si,"o verdadeiro socialismo"?
JLM

Unknown disse...

O meu entendimento de personagens mentais é o de que os escritores neo-realistas punham os(as)personagens a pensar e falar pela cabeça dos autores e não pela cabeça dos retratados.
JLM

Anónimo disse...

ó douto JLM, não vê a Virgem que nos quer acorrer ou não está na Vila?! quanto ao socialismo quer que eu diga social democracia, contra o marxismo? mas você tem h grande. o VAV não, que me não responde!
Um velho socialista que nã0 mete o socialismo na gaveta

Unknown disse...

Socialista "autêntico":
Bem me queria parecer que a sua pergunta trazia água no bico.Pois se estava bem explícito que eu me referia ao D.Sebastião!
Não tenho estado,efectivamente, em Carrazeda.Mas confesso que há coisas que não me apetece entender e nas quais nem quero meter-me.
Quanto ao SOCIALISMO,o sr. que o invoca é que tem de se explicar.
Os meus cumprimentos.
JLM

vitorino almeida ventura disse...

Caro socialista,

as minhas desculpas pelo atraso. Mas já JLM disse tudo sobre as personagens mentais. Apenas acrescentarei que José Cardoso Pires modificava os seus planos iniciais, porque as personagens a certo ponto passavam a ditar-lhe a estória, como que se lhe impunham a sua perspectiva.

Ab.,

Vitorino Almeida Ventura