Recentemente li “Os Retornados” de Júlio Magalhães. Embora tivesse vindo ainda muito criança de Angola, esta terra está muito enraizada em mim, não só pelo facto de ter lá nascido mas também porque cresci a ouvir falar dela e ainda hoje é um tema discutido e lembrado no meu núcleo familiar.
O livro retrata muito bem os momentos de angústia vividos por todos aqueles que deixaram para trás uma vida e um país cheio de cor, desenvolvimento, prosperidade, fraternidade e um sem fim de adjectivos que qualificavam estas terras (Angola e Moçambique), como magníficas. “Aterrámos” todos num país que para muitos era desconhecido e que para a maior parte iria ser difícil a construção de uma nova vida.
A opinião era unânime, Portugal era um país cinzento, atrasado em todos os níveis devido a herança pesada de um regime que “tolheu” o país. Era dos países mais atrasados da Europa. Angola “fervilhava” num ritmo de crescimento económico nunca visto. Não havia assimetrias regionais. Todas as cidades tinham um ritmo de crescimento igual quer estivessem no litoral ou no interior. Rasgavam-se novas estradas e novos troços de caminho de ferro por todo o território.
Todos os sectores estavam modernizados, o primário (agricultura), secundário, (industria) e terciário (serviços), e não pensem que este desenvolvimento era realizado à custa do trabalho escravizado. Pode sim ter sido em tempos remotos mas naquela altura a escravidão já tinha passado à história.
Ali todos trabalhavam em torno de um projecto comum: o desenvolvimento de Angola. Esse objectivo estava a ser alcançado, não fosse a guerra, este país seria hoje, sem dúvida, um dos mais desenvolvidos do mundo. Moçambique não era tão rica como Angola, mas também era uma colónia próspera e em crescimento.
Compreendo que estas terras tinham muitos recursos e que por isso se justificava a sua prosperidade. Mas há aqui um facto que merece ser discutido.
Angola, Moçambique e Macau, eram governados por portugueses. Como se viu e isso era um facto, o modelo económico era eficaz e reflectia-se, como já referi no desenvolvimento e progresso das ex colónias. Nessa altura Portugal Continental vivia atrasado em relação aos outros países europeus vinte ou trinta anos.
Hoje infelizmente esse problema persiste. Continuamos na cauda da Europa. No relatório de 2003 sobre o desenvolvimento humano das Nações Unidas ocupávamos a 23ª posição, em
Hoje Angola poderia ser uma das maiores potências mundiais. Portugal dificilmente poderá ser uma grande potência uma vez que temos poucos recursos, mas poderíamos inverter as estatísticas que nos colocam quase sempre em último lugar com políticas mais assertivas.
Mário Cardoso
4 comentários:
Dá o sopro,a aragem- ou desgraça ânsia-
Com que chama do esforço remoça,e outra vez conquistaremos à distância-
Do mar ou outra, mas que seja nossa.
Esta ultima parte do poema de F. Pessoa, convida-nos a olhar e caminhar para o futuro... passado é passado, é verdade. Mas é com a experiencia do passado que se constroi o futuro...
Concordo consigo, caro Mário. Pois não poderá haver amanhã postergando-se o ontem.
A descolonização não foi modelar.Teria sido bom que os portugueses tivessem permanecido lá.Bom para quem veio e bom para todos os que ficaram entregues à sua sorte.Uma sociedade multirracial teria sido o ideal.Mas hoje as coisas estão como estão e há que tentar com os dados actuais fazer alguma coisa no sentido da livre circulação das pessoas que para África queiram ir já que nós temos mostrado que não somos racistas em relação aos africanos que aqui vivem.
Quanto a sermos mais eficientes no estrangeiro do que aqui, julgo que no estrangeiro beneficiamos de uma muito melhor organização do trabalho. Em África, os portugueses tinham pelo menos à sua disposição muitos espaços livres para poderem trabalhar, espaços que ficavam a custo zero.
JLM
Enviar um comentário