Pai: Meu filho, sinto-me velho e ainda gostava de ter alguma da glória passada. E não só a glória mas gostava mesmo de fazer regressar o meu tempo e as gentes desse tempo.
Filho: Não sei se isso será possível. Mas olhe que faço tudo por seguir o seu exemplo em vários domínios. Veja como gosto dos zíngaros, como gostaria de fazer renascer os velhos dramas representados em escolas primárias.
Pai: Eu sei. Mas vê tu como o nosso presidente (com minúscula, claro) desfeia a nossa querida terra. Olha só os mamarrachos que semeou por tudo quanto é sítio: - pedras a fazer de livros junto à antiga cadeia (se, por acaso, ainda houvesse lá presos), - carantonhas no parque central (já foi uma heresia ter tirado de lá a feira), - aquele pico ao alto, junto ao centro cívico (que mais parece um enorme falo), - a ponte incompleta em frente às Finanças (ainda se passasse lá algum rio).
Filho: Também exagera um pouco, meu pai. Embora eu não vá muito com os atrevimentos artísticos dos autores, reconheço que eles têm algum merecimento.
Pai: Não digas isso, filho, que me envergonhas. Tu fazes muito melhor. Mas, agora, aquele diabo deu-lhe para se virar contra mim e ti. A mim nunca me enganou.
Filho: Estamos em democracia. Ele ganhou as eleições.
Pai: Eleições - eu também organizei muitas e ganhei-as todas. Só não sei como ele aprendeu tão depressa. Eu acho que aprendeu connosco e com os do reviralho. Antes do 25/4, connosco. Depois, com os vermelhos.
Filho: Bom. Na verdade, mesmo o António Ferro aprendeu muito numa visita que fez a Moscovo.
Pai: Mas esse era de confiança. Agora este aliou-se com os comunas, que passaram a ser apelidados de comunas laranjas. Mas no fundo sempre foram vermelhos por dentro como as melancias. Disfarçam.
Filho: As pessoas mudam. Olhe aquele indivíduo calvo (tão simpático, tão discreto, tão íntegro) está todo modificado.
Pai: Não me fales mal desse homem. Eu bem sei que nunca foi de confiança mas, quando veste aquele sobretudo, calça aquelas botas e põe aquele chapéu parece mesmo o meu, único e verdadeiro presidente do conselho de ministros. Tu percebes?
Filho: Sim, entendo. Mas alegre-se, meu pai. Se não conseguir que tudo volte ao que o senhor pretende, lhe garanto que quando o senhor morrer, daqui a dez anos, irá morrer, mas irá morrer com o concelho, como Camões morreu mas morreu com a Pátria.
Pai: Meu filho, se tu me conseguires isso, morrerei feliz. Fico à espera que cumpras o prometido.
João Lopes de Matos
7 comentários:
Pois é!
Os calhaus, caro JLM, (como gosta que lhe chamem, por isso lhe subtraio o sempre famoso Dr)são a parte visível, do possível que é realizar-se na nossa Carrazeda.
Bembem-se uns copos com uns amigos, que por acaso até são artistas, amigos de outros artistas e, sabe como é, obra puxa obra, sítio chama sítio e porque não em Carrazeda, (terra que nos pagou a merenda) terra de calhaus, homenagear o calhau!?
Uns deitados, outros de pé, outros de lado, outros isolados, outros em grupo, todos eles servem para preencher espaços...
Espaços que a douta inteligência de quem de direito, não conseguiu saber preencher de outra forma, com outras vontades...
Os pais, (os nossos mais velhos)sabem também olhar para estes vazios e torcem o nariz, interrogam-se:" Que mexordice é esta? Em vez de criarem empregos, andam-me nesta de calhaus e até dizem que uns são livros outros são meias pontes sem rios, ribeiros ou regatos, outros botam-se lá p\ró alto que uma ventania ainda há-de criar desgraça. Ainda se trouxessem o que a Graça Morais foi "pôr" a Bragança..."
Realmente os nossos velhos, pacientes com tudo o que lhe metem pelos olhos dentro, já não têm pachorra para pensarem que daqui amanhã é bem possível que venham meia dúzia de Italianos, Belgas ou Franceses, ver uns calhaus que estes "calhaus" de hoje implantaram por aqui!
Na falta de desenvolvimento correcto e necessário, enganem-se os "comedores de bolota"...
Peço a este Senhor anónimo o favor de se identificar, Já!
Porra, estou farto de ler as suas poucas intervenções e não saber quem é!
Sr. JLM faça alguma coisa!
Tenha paciência,caro 2ºanónimo.
O 1º anónimo é,nitidamente,a "vox populi"(a voz do povo). Como vou eu conseguir identificar o povo?
JLM
Só gostava que esta "voz do povo" se não calasse e sempre colaborasse connosco, pode ser?
Como posso eu responder pelo povo,se é que esse "pode ser?"se dirige a mim?
JLM
Não. Desta vez dirigi-me ao anónimo.
Espero muito que ele tenha em conta a utilidade da sua prestação.
Desculpe Senhor Dr.JLM.
Mais uma vez não disse mal de nada nem de ninguém.Eu lavo daí as mãos,como Pilatos.
Através de duas pessoas(pai e filho)quis apresentar somente algo do que se diz em Carrazeda,para que todos possam formar o seu juízo.Não só o que se diz mas também o que era vulgar ouvir-se noutros tempos,apresentando ainda futurologia com alguma probabilidade de concretização.
Não faço juízos definitivos.
JLM
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