Refuga de Abi Morgan
pelo grupo do Teatro Viriato, Viseu,
com Joana B., no excepcional elenco
de adolescentes, encenado por Graeme Pulleyn
Integrado no Festival PANOS — Palcos Novos Palavras Novas, que alia o teatro escolar/juvenil às novas dramaturgias, inspirando-se no programa Connections do National Theatre de Londres, promovido pela Culturgest e no qual o Teatro Viriato participa desde a sua primeira edição, fui ver a peça Refuga de Abi Morgan.
O convite fora-me formulado pela neta de José Joaquim Barbosa, o saudoso gaiteiro-de-foles, contramestre dos Zíngaros, Joana B. Santos. Fui,
não esperando muito daí. E então fui tocado por uma peça de vanguarda, em que o encenador Graeme Pulleyn fez dos actores adolescentes, autênticos profissionais. O espanto não foi só meu — foi dos outros encenadores dos outros grupos participantes no PANOS, respectivamente, de Gaia, Montemor-o-Velho e Santarém. Foi também dos outros jovens actores destes grupos, que não criam que era a primeira que os jovens de Viseu representavam. Foi de todo o público, que ao fim bateu palmas e palmas e palmas, sentadamente de pé no palco.
E a peça não era nada-nada fácil. Aliás, quando o público entrou, para se ir acomodando em volta do palco, já os actores corriam, pontapeando todo o tipo de brinquedos partidos e se disparando balas, palavras, gritos, como num cenário de guerra, ‹‹indesejáveis imagens de crianças que vasculham lixeiras à procura de alimento›› (lê-se no folheto do Teatro Viriato). Num rodopio frenético,
a vertigem subia-nos à cabeça. Kodjo, um refugiado iraniano, é interpretado por todos, quase-todos os actores, despindo, vestindo-lhe as roupas, e não poderíamos ser todos esse e os outros menores desacompanhados, refugiados à solta, pelo mundo inteiro? De uma violência verbal e física inusitada,
arremessando-se ao chão, onde os esperavam os brinquedos da sua infância perdida, as nódoas negras no corpo, o calão lançado na face… O mundo estava aí, a realidade crua, a
desumanidade, que o teatro sempre nos lembra, quando nos tentamos esquecer, no sofá de casa, em plena Lua.
Vitorino Almeida Ventura
pelo grupo do Teatro Viriato, Viseu,
com Joana B., no excepcional elenco
de adolescentes, encenado por Graeme Pulleyn
Integrado no Festival PANOS — Palcos Novos Palavras Novas, que alia o teatro escolar/juvenil às novas dramaturgias, inspirando-se no programa Connections do National Theatre de Londres, promovido pela Culturgest e no qual o Teatro Viriato participa desde a sua primeira edição, fui ver a peça Refuga de Abi Morgan.
O convite fora-me formulado pela neta de José Joaquim Barbosa, o saudoso gaiteiro-de-foles, contramestre dos Zíngaros, Joana B. Santos. Fui,
não esperando muito daí. E então fui tocado por uma peça de vanguarda, em que o encenador Graeme Pulleyn fez dos actores adolescentes, autênticos profissionais. O espanto não foi só meu — foi dos outros encenadores dos outros grupos participantes no PANOS, respectivamente, de Gaia, Montemor-o-Velho e Santarém. Foi também dos outros jovens actores destes grupos, que não criam que era a primeira que os jovens de Viseu representavam. Foi de todo o público, que ao fim bateu palmas e palmas e palmas, sentadamente de pé no palco.
E a peça não era nada-nada fácil. Aliás, quando o público entrou, para se ir acomodando em volta do palco, já os actores corriam, pontapeando todo o tipo de brinquedos partidos e se disparando balas, palavras, gritos, como num cenário de guerra, ‹‹indesejáveis imagens de crianças que vasculham lixeiras à procura de alimento›› (lê-se no folheto do Teatro Viriato). Num rodopio frenético,
a vertigem subia-nos à cabeça. Kodjo, um refugiado iraniano, é interpretado por todos, quase-todos os actores, despindo, vestindo-lhe as roupas, e não poderíamos ser todos esse e os outros menores desacompanhados, refugiados à solta, pelo mundo inteiro? De uma violência verbal e física inusitada,
arremessando-se ao chão, onde os esperavam os brinquedos da sua infância perdida, as nódoas negras no corpo, o calão lançado na face… O mundo estava aí, a realidade crua, a
desumanidade, que o teatro sempre nos lembra, quando nos tentamos esquecer, no sofá de casa, em plena Lua.
Vitorino Almeida Ventura
5 comentários:
No meio de tanta política, algo de muito diferente: e, vendo bem, é o único programa cultural que vi: de alguém que promove os jovens do concelho e não a si próprio.
Pombalense
a rapariga não é prima do zé tó? é o sangue dos artistas que lhe corre nas veias e na voz.
Carrazedense
Foi pena o Zé Tó na Feira Livro ter a concorrência da fadista Olimpia Candeias. Era o Zeca Afonso contra o choradinho beijinho beijinho.
Gostaria a Candeias de ter as qualidades e capacidade do Zé Tó, mas a O. Candeias, fica muito aquém!...
Carrazedense
um artigo muito bem escrito sobre uma actividade que sem qualquer tipo de duvida é muito interessante de se ver e ainda mais interessante de se praticar.
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