quinta-feira, 30 de abril de 2009

Daqui e dali... Vitorino Almeida Ventura

Refuga de Abi Morgan
pelo grupo do Teatro Viriato, Viseu,
com Joana B., no excepcional elenco
de adolescentes, encenado por Graeme Pulleyn

Integrado no Festival PANOS — Palcos Novos Palavras Novas, que alia o teatro escolar/juvenil às novas dramaturgias, inspirando-se no programa Connections do National Theatre de Londres, promovido pela Culturgest e no qual o Teatro Viriato participa desde a sua primeira edição, fui ver a peça Refuga de Abi Morgan.

O convite fora-me formulado pela neta de José Joaquim Barbosa, o saudoso gaiteiro-de-foles, contramestre dos Zíngaros, Joana B. Santos. Fui,

não esperando muito daí. E então fui tocado por uma peça de vanguarda, em que o encenador Graeme Pulleyn fez dos actores adolescentes, autênticos profissionais. O espanto não foi só meu — foi dos outros encenadores dos outros grupos participantes no PANOS, respectivamente, de Gaia, Montemor-o-Velho e Santarém. Foi também dos outros jovens actores destes grupos, que não criam que era a primeira que os jovens de Viseu representavam. Foi de todo o público, que ao fim bateu palmas e palmas e palmas, sentadamente de pé no palco.

E a peça não era nada-nada fácil. Aliás, quando o público entrou, para se ir acomodando em volta do palco, já os actores corriam, pontapeando todo o tipo de brinquedos partidos e se disparando balas, palavras, gritos, como num cenário de guerra, ‹‹indesejáveis imagens de crianças que vasculham lixeiras à procura de alimento›› (lê-se no folheto do Teatro Viriato). Num rodopio frenético,

a vertigem subia-nos à cabeça. Kodjo, um refugiado iraniano, é interpretado por todos, quase-todos os actores, despindo, vestindo-lhe as roupas, e não poderíamos ser todos esse e os outros menores desacompanhados, refugiados à solta, pelo mundo inteiro? De uma violência verbal e física inusitada,

arremessando-se ao chão, onde os esperavam os brinquedos da sua infância perdida, as nódoas negras no corpo, o calão lançado na face… O mundo estava aí, a realidade crua, a

desumanidade, que o teatro sempre nos lembra, quando nos tentamos esquecer, no sofá de casa, em plena Lua.

Vitorino Almeida Ventura

5 comentários:

Anónimo disse...

No meio de tanta política, algo de muito diferente: e, vendo bem, é o único programa cultural que vi: de alguém que promove os jovens do concelho e não a si próprio.
Pombalense

Anónimo disse...

a rapariga não é prima do zé tó? é o sangue dos artistas que lhe corre nas veias e na voz.
Carrazedense

Anónimo disse...

Foi pena o Zé Tó na Feira Livro ter a concorrência da fadista Olimpia Candeias. Era o Zeca Afonso contra o choradinho beijinho beijinho.

Anónimo disse...

Gostaria a Candeias de ter as qualidades e capacidade do Zé Tó, mas a O. Candeias, fica muito aquém!...
Carrazedense

Paulo Felismino Almeida disse...

um artigo muito bem escrito sobre uma actividade que sem qualquer tipo de duvida é muito interessante de se ver e ainda mais interessante de se praticar.