segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Daqui e dali... João Lopes de Matos

A Consciência (A Alma?)

Deixem-me filosofar um pouco.
Deixem-me tentar saber quem somos, como somos.
Nós nascemos quando saímos do ventre materno. Mas, nesse momento, não temos consciência de existirmos. A nossa mãe tem: - isso vê-se pelos beijos que nos dá, pelos cuidados com que nos trata, pelo chegar dos seios com que nos dá de mamar.
Nós somos bonecos animados de vida, que só agimos para comer, digerir, urinar…
Pouco a pouco, porém, vamos tomando conhecimento da voz da mãe, do aconchego das mamas, do mudar da fralda.
Conhecemos outras coisas e os outros antes de nos conhecermos a nós próprios. A consciência de sermos uma individualidade diferente das demais só chega mais tarde (para os que chega).
No entanto, estamos imbuídos de vida desde a junção do espermatozóide com o óvulo.
E se temos alma desde então, ela não se manifesta, fica à espera do desenvolvimento do cérebro até ao preciso momento em que adquirimos consciência de nós mesmos.
Será que são a mesma coisa: consciência e alma?
Desde esse momento (ter sentimento de si) até ao momento em que se perde definitivamente esse sentimento (morte da parte do cérebro destinada a conhecer-se a si próprio), a consciência (de si e do que está fora) não existe de modo contínuo mas de forma intermitente.
Não existe enquanto dormimos ou estamos sonolentos e cada momento de consciência é permanentemente interrompido por momentos da sua ausência.
E há mesmo graduações (mais acutilantes ou menos) do conhecimento de si e do resto.
Para funcionarmos com um certo equilíbrio, é mesmo desejável que não se exerça grande pressão sobre o pensamento, não aconteça ficarmos com um cansaço cerebral e com as células cerebrais esgotadas.
Assim como o nascimento (a gestação, se quisermos) dá início ao processo de aquisição da consciência, assim a morte lhe põe termo definitivamente.
Se a alma é a mesma coisa que a consciência, ela não sobreviverá ao corpo.
Se é algo de diferente, teremos de concluir que, antes de se fazer notar, ela estará numa espécie de limbo, lugar para onde voltará quando morrermos.
Mas se alma, no entanto, continuar para além da morte, como será então o seu viver? Terá presenças e ausências como quando vivos? Dormirá? Estará sempre, sempre, sempre, lúcida?Veremos, quando lá chegarmos.
João Lopes de Matos

24 comentários:

Anónimo disse...

É verdade, só saberemos quando lá chegarmos.Queira Deus que seja num dia muito longínquo...

Anónimo disse...

Caro JLM,
achei engraçada, se me permite, esta sua espécie de lucubração. Como tal, ela suscitou-me espontaneamente e por breves momentos, a vontade de compartilhar consigo, neste espaço, a minha opinião. Eu diria que não é possível comparar a consciência, que existe, é concreta e comanda todos os nossos actos, gestos, decisões e emoções, com a alma. Esta, pelo contrário, é abstracta, e, portanto, não existe. Sendo apenas uma das criações míticas do Homem,ela está normalmente relacionada com a crença religiosa e outras (que se devem sempre respeitar, evidentemente), mas não passam disso, de uma crença, de uma fé ou de uma outra emoção ou reacção psicológica. Por outro lado, no sono (do latim somnu, à qual caiu, por síncope, crase ou esmagamento, a consoante nasal "m" e se deu um rotacismo vocálico do "u" para o "o"), a consciência não deixa de existir, senão morríamos. O sono é um estado de consciência que é complementar ao estado de vigília, quer no ser humano quer nos animais,e caracteriza-se por uma suspensão apenas temporária (o tempo varia de pessoa para pessoa) de toda a actividade perceptiva, sensorial (dos 5 sentidos) e motora. De resto, e para abreviar, quando chegarmos ao fim da nossa "caminhada", pode crer que nem a "alma" se nos aproveita!
Respeitosos cumprimentos.

Hélder Rodrigues

Anónimo disse...

os que não acreditam em Deus porque não o veem também não acreditam que o pai é pai porque não viram e por isso concordo que queiram morrer o mais tarde possível pois não têm para onde ir
Agora os que acreditam em Deus não compreendo porque não querem morrer para irem mais rápidamente para junto do Pai

Anónimo disse...

então este anónimo acredita mais naquilo que nao vê e não existe, do que no sangue que o gerou e o tornou pessoa. Munto bem,assim é que é falar.

Unknown disse...

Caro H.R.: Obrigado por ter encontrado alguma graça no meu escrito.Ele,como tudo o que eu escrevo,não foi feito para ser levado demasiado a sério.
No entanto, sempre lhe quero dizer que discordo da sua noção de consciência:ela não é o comando de tudo o que se passa em nós.Ela é apenas o comando de uma pequena parte,pertencendo a tudo o resto, que constitui a máquina humana,o comando das nossas principais funções vitais.Por isso é que não posso concordar que, durante o sono,seja a consciência a comandar o nosso corpo.Direi,ao contrário, que é a programação que trazemos quando nascemos que tudo comanda.Há mesmo muitas funções(respiração,circulação,digestão,etc.)que me dizem e são de facto reguladas pelo cérebro mas a mim custa-me a crer que assim seja,pois a minha vontade e clarividência parece-me nada terem a ver com isso.Só quando o cérebro sofre danos e deixa de executar esse trabalho é que verificamos que algo não está a ser feito pelo cérebro.E quantos indivíduos passam pela vida sem terem conhecimento de que existem? Muitos.Basta que a parte do cérebro que permite a consciência não chegue a funcionar.
JLM

Anónimo disse...

Filosofar, com boa disposição e muita alegria é uma boa massagem ao ego de cada um...
E como eu gosto de ler tudo o relacionado com "alma" a que se refere Helder Rodrigues, ou com "consciência" cerebral de JLM!
Confesso que não sou dado a discutir temas que de todo, não domino, e para as "dominar", depois, acabaria por não saber de que lado havia de estar!
Desculpem o não colaborar!
M. Lameiras

Anónimo disse...

A Alma... falar da Alma implica falar de Fé. Ter fé é ter esperança em Deus. A Fé não pode ser objecto de estudo, não pode ser entendida pela razão. A mente humana é como um laboratório de análize e síntese. Através dos sentidos, entram na mente as impressões, as percepções e as sensações. Com todo este material e atraves de um processo complexo a mente extrai uma ideia, á ideia juntamos uma palavra. E assim obtemos o conhecimento. A alma não é uma entidade concreta mas abstrata. Os nossos sentidos nunca conseguirão captar a Alma, ou Deus. Deus e a alma nunca entrarão pelos sentidos e como tal não atingirão o laboratório da mente humana e por isso mesmo nunca poderão ser objecto de análise e de síntese. Ao falarmos na alma entramos no domínio da Fé. É dificil explicar o que é a fé, mas ela pode ser vivida e sentida por quem acredita. Deus não é logica. Mais que objecto de entendimento, é objecto de contemplação e de Amor. Felizes os que ousam acreditar...

Unknown disse...

Acreditar é próprio do homem,não de Deus.Deus sabe,o homem acredita.
O homem,precisamente porque não sabe,tem de acreditar.É mesmo a única maneira de dar passos na vida.Se não jogássemos sempre um pouco no escuro, não daríamos um passo.Mas acreditar não quer dizer que aconteça ou seja verdade tudo aquilo em que acreditamos.
Quando acreditamos em algo e ele acontece,sentimos um especial contentamento.Quando acreditamos em algo e ele não acontece,sentimos uma grande decepção.
JLM

Anónimo disse...

o sangue não gera ninguém..e você tem a certeza?

Anónimo disse...

há quem acredite mais depressa num presidente de camara do queem Deus ou no próprio pai.. não há?

Anónimo disse...

O que mais desconcerta os caminhantes da fé é o silêncio de Deus. Deus é aquele que sempre Se cala. Henri de Lubac faz também estas perguntas: porque razão a alma, quando encontra Deus, conserva ou volta a encontrar o sentimento de não O ter encontrado? Porquê essa invisivel obscuridade d'Quele que é Todo Luz. Porquê essa distancia intransponível d'Quele que tudo penetra? Porquê essa traição de todas as coisas que, depois de nos deixarem ver Deus, voltar a ocultá-Lo? A Fé é um caminho de escuridão, sempre á procura e sem nunca encontrar, num sempre a partir e nunca chegar. Uma odisseia perpétua. É isto a vida de fé sempre acompanhada por uma vaga sensação de risco ou insegurança. É o silêncio de Deus.
" Nas mãos de Deus" Ignacio Larrañaga.

Anónimo disse...

Se Deus criou o Homem, quem foi que criou Deus?

Anónimo disse...

Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?

Anónimo disse...

Este último comentário não responde à pergunta feita pelo anterior comentador, porque tanto o ovo como a galinha são matéria no planeta Terra, o mesmo não acontecendo com o Homem e um qualquer Deus inventado.

Anónimo disse...

Pelos efeitos se chegam às causas.

Anónimo disse...

Desculpe, mas é ao contrário: pelas causas, é que se chegam aos efeitos! Isto é, uma causa suscita sempre um efeito - a folha de uma árvore apenas se agita (efeito), impulsionada pelo vento (causa)!

Anónimo disse...

Sob o ponto de vista científico é como diz, mas não era essa a minha perspectiva. Se ler S. Tomás de Aquino talvez compreenda melhor o que pretendo defender.

Anónimo disse...

O vento sopra onde quer.

Anónimo disse...

Resposta ao penúltimo comentador (19 Janeiro, às 8:28):

De facto, numa análise há sempre, como se sabe, mais que uma perspectiva, e assim, estamos de acordo. O seu ponto de vista será, então escolástico (dominicano/católico), isto é, socorre-se da Teologia Medieval (séc.XIII) daquele que ficou apelidado de "Dr. Angélico" (Tomás de Aquino, claro). Na realidade, ele procurou conciliar a Filosofia Aristotélica com os princípios do Cristianismo, sobretudo no que diz respeito à relação/diferença entre a Ontologia (estudo do ser; do ENTE) com a ESSÊNCIA ("O ente e a essência", talvez a sua obra mais emblemática, a par das suas famosas "Súmulas"); relação/diferença esta, que consubstancia a Metafísica Tomista. Levar-nos-ia longe este diálogo...
Mas penso, deste modo, tornar evidente, que (também) li, com prazer, algo sobre Tomás de Aquino e por isso compreendo o seu raciocínio.
Respeitosos cumprimentos.

Hélder Rodrigues

Anónimo disse...

Já vi que não penetrou no âmago da questão, por isso não é possível o diálogo.

Anónimo disse...

Para complementar o comentário que acabei de fazer quero esclarecer que ele não diz respeito ao Sr. Helder Rodrigues, mas ao comentário anterior: " o vento sopra onde quer".

Anónimo disse...

Pois eu julgo que penetrei "no âmago da questão" e será por isso que vejo que o diálogo não é possível. Como eu o compreendo.
Saudações.

Anónimo disse...

Para aqueles que acreditam, nenhuma explicação é necessária; para aqueles que não acreditam, nenhuma é possível. ´Daí o diálogo ser impossível.............

Anónimo disse...

Em minha opinião, para os que acreditam, só há uma explicação (o que me parece muito redutor); para os que não acreditam há múltiplas explicações (o que torna mais abrangente um juízo). Mas mesmo assim, acredito que o diálogo é sempre possível, porque (sobretudo) somos todos da mesma espécie. De resto, concordo consigo que "o vento não sopra onde quer" mas onde o fazem soprar (p. ex. as depressões climatéricas).

h. r.