Em má hora neste final de Agosto, abateu-se sobre as gentes do Arco, Seixo e Samões uma triste realidade; uma partida do tempo, num amanhecer de Domingo, surpreendeu a todos com pedras de água do tamanho de ovos, provocando danos materiais nas viaturas que se encontravam na rua e destruindo culturas nos campos. Era granizo em tamanho destruidor.
Um amigo do Arco telefonou-me, falando-me da gravidade da situação nessa aldeia, por solidariedade ali me desloquei, nunca pensando que teria sido diferente do que aconteceu em Vila Flor. Mas, na verdade fiquei incrédulo, nunca tal tinha visto. Tirei algumas fotos e não será demais dizer que relativamente ao olival e amendoal, 70%, 80% da colheita estava no chão, abóboras, melões, maças, ameixas e outros frutos, trilhados das pedradas de gelo caídas do céu, muitos vão apodrecer na árvore, antes da colheita.
Isto é apenas um pouco da realidade constatada no terreno.
Já na povoação cruzei-me com gente conhecida, que estava posso dize-lo, em estado de choque, aliás toda a aldeia assim estava. As pessoas pareciam sonâmbulas deambulando de um lado para outro, profundamente tristes.
Este cenário físico e humano, torna-se mais evidente porque os campos do arco, são talvez das terras que eu conheço, cuidadas com mais carinho e zelo. Vai-se campo fora, não se vê uma erva, toda a terra foi trabalhada, quase sempre sem químicos e quantas vezes com força braçal pelos donos e família, ou através de torna geira e ainda da ajuda de animais.
Toda a zona envolvente ao ribeiro, é um regalo de hortas viçosas e pomares, para sustento da casa. As vinhas e olivais alem de fornecerem toda a família, são também quantas vezes, já com clientes fiéis, ano após ano, um suplemento para a economia familiar, que esta gente laboriosa, já não consegue dispensar.
Assim conseguem ter um nível de vida razoável, porque além de cuidarem do amanho das terras por eles próprios, apenas e tão só nas horas livres, porque todos trabalham em Vila Flor ou arredores. São muito competitivos entre si, mas exemplares no que a trabalho respeita, mas é assim que se toca a vida para a frente. E neste contexto os frutos da terra são-lhe essenciais.
Daí eu compreender hoje bem melhor a relação dessa gente com a terra, e revejo e entendo sobretudo a imagem duma aldeia em estado de choque, na hora, ainda incrédula do que lhes tinha acontecido, no meio de lágrimas e muita aflição.
Hoje volvidos alguns dias, sei que já arregaçaram as mangas. Mas nunca é demais esperar, algum apoio das entidades apropriadas tal como já aconteceu noutras regiões. Espero que se faça justiça porque merecem! Estas são gentes que ainda trabalham verdadeiramente terra e dela colhem os frutos.
Rui Guerra (Do programa Tribuna Livre, emitido semanalmente na Rádio Ansiães)
Um amigo do Arco telefonou-me, falando-me da gravidade da situação nessa aldeia, por solidariedade ali me desloquei, nunca pensando que teria sido diferente do que aconteceu em Vila Flor. Mas, na verdade fiquei incrédulo, nunca tal tinha visto. Tirei algumas fotos e não será demais dizer que relativamente ao olival e amendoal, 70%, 80% da colheita estava no chão, abóboras, melões, maças, ameixas e outros frutos, trilhados das pedradas de gelo caídas do céu, muitos vão apodrecer na árvore, antes da colheita.
Isto é apenas um pouco da realidade constatada no terreno.
Já na povoação cruzei-me com gente conhecida, que estava posso dize-lo, em estado de choque, aliás toda a aldeia assim estava. As pessoas pareciam sonâmbulas deambulando de um lado para outro, profundamente tristes.
Este cenário físico e humano, torna-se mais evidente porque os campos do arco, são talvez das terras que eu conheço, cuidadas com mais carinho e zelo. Vai-se campo fora, não se vê uma erva, toda a terra foi trabalhada, quase sempre sem químicos e quantas vezes com força braçal pelos donos e família, ou através de torna geira e ainda da ajuda de animais.
Toda a zona envolvente ao ribeiro, é um regalo de hortas viçosas e pomares, para sustento da casa. As vinhas e olivais alem de fornecerem toda a família, são também quantas vezes, já com clientes fiéis, ano após ano, um suplemento para a economia familiar, que esta gente laboriosa, já não consegue dispensar.
Assim conseguem ter um nível de vida razoável, porque além de cuidarem do amanho das terras por eles próprios, apenas e tão só nas horas livres, porque todos trabalham em Vila Flor ou arredores. São muito competitivos entre si, mas exemplares no que a trabalho respeita, mas é assim que se toca a vida para a frente. E neste contexto os frutos da terra são-lhe essenciais.
Daí eu compreender hoje bem melhor a relação dessa gente com a terra, e revejo e entendo sobretudo a imagem duma aldeia em estado de choque, na hora, ainda incrédula do que lhes tinha acontecido, no meio de lágrimas e muita aflição.
Hoje volvidos alguns dias, sei que já arregaçaram as mangas. Mas nunca é demais esperar, algum apoio das entidades apropriadas tal como já aconteceu noutras regiões. Espero que se faça justiça porque merecem! Estas são gentes que ainda trabalham verdadeiramente terra e dela colhem os frutos.
Rui Guerra (Do programa Tribuna Livre, emitido semanalmente na Rádio Ansiães)
3 comentários:
Gostei do seu artigo pelo que revela de humanismo e de capacidade de sentir os problemas dos outros. Não me parece é que os problemas se devam resolver com essa postura:hoje, há seguros,há possibilidade de formação de fundos de solidariedade para estes casos,etc.. E, sobretudo, as soluções devem partir dos próprios interessados.
Ontem à tarde recebi um telefonema do meu tio: Sobrinho, segundo o telejornal, esta tarde vai chover, e os tomates do vizinho ainda nAo se recolheram, podes dar uma ajuda? pensei no dono, depois de tanto trabalhar... Mas nAo podemos lutar contra as condiçOes meteorológicas, começou a pingar e a cair granizos. Enconteri regúgio no meu carro e assisti àquilo sem poder fazer nada. Há seguros, mas os pequenos agricultores já têm muitos gastos, e cada vez menos benefícios. Acredito na soliedaridade.
Roberto Moreno Tamurejo
Concordo com as vossas observações,especialmente no que aos seguros acrícolas respeita,mas pelo que sei as coisas não funcionam muito bem e as pessoas mal informadas acanham-se.
Quando me referia apoio, recordava apenas pequenas ajudas(quase simbólicas)o que já aconteceu noutras regiões do País em circunstâncias idênticas, e apenas para que aquela gente laboriosa que tâo bem e com tanto carinho e zelo ainda trabalha a terra(tal como vos relatei)não perca o ânimo e força de o continuar a fazer por muitos anos.Assim estão a cuidar da vida deles mas também a zelar por uma paisagem rural extraordinária bem preservada e que além de nos identificar culturalmente é património de todos nós.
Por isso continuem caros amigos do Arco.Com amizade RUI GUERRA
Enviar um comentário