Um dos problemas que mais preocupa a grande maioria das pessoas é o de saber quem foi responsável, quem teve a culpa de determinado facto.
Mas, afinal, de quem é a culpa? É preciso punir quem teve a culpa. - São preocupações constantes.
Ao querer aprofundar a razão porque certos factos aconteceram, surgem logo as respostas: - Eu não fui. Foi aquele. Há que puni-lo. Se tiver uma punição exemplar, isto não volta a acontecer.
Tudo se dirime, tudo se resolve em sede de justiça, de normas jurídicas, éticas, religiosas ou outras.
Esta atitude estaria certa, num tempo em que se pensava que o"mal" derivava todo da natureza pecadora de certos homens.
Mas, hoje em dia, em que se sabe que a acção do homem pode ser apenas uma das componentes dum evento, parece que é preciso ir mais longe e analisar bem os problemas para saber que outras circunstâncias facilitaram a prevaricação ou se não teriam sido elas as verdadeiras causadoras do facto.
Em primeiro lugar, é preciso saber se o autor estaria em estado mental que o impedia de decidir em consciência plena: saber se não estaria diminuído na sua responsabilidade. E um estado destes pode levar a uma condenação mas exige, logo de seguida, um tratamento médico que equilibre o que mentalmente está desequilibrado.
Além disso, pode acontecer que a acção concreta (se ela existe) tenha sido, afinal, a gota de água que fez transbordar o copo. Quer dizer, o desleixo, a incúria, a ausência de prevenção são tão grandes que quase pedem que alguém se aproveite das condições extremas para fazer explodir a situação degradada.
Hoje não me apetece dar exemplos mas eles estão à vista de toda a gente.
Há, em todos nós, um julgador feroz que pensa que, com a condenação jurídica, moral ou religiosa, tudo se resolve.
Este pensar tem o inconveniente de não nos obrigar a estudar todas as facetas dum problema e levar a que se não tomem medidas preventivas de futuras situações, quando possível e desejável.
Em certo sentido, a preocupação com o julgamento conduz a que as pessoas se preocupem apenas com o passado e, de tal modo, que, por vezes, acontecem ao mesmo tempo coisas mais graves, às quais não prestamos atenção, porque estamos com a nossa atenção exclusivamente virada para o julgamento do irremediável e não para o evitar da repetição de acontecimentos do mesmo jaez.
João Lopes de Matos
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