Por que coabitamos com o obstáculo quotidiano de
«pensar diferente»?
Julgo que esse processo tem início,
em 2º lugar, no próprio sistema educacional: fomos sendo "exercitados"
(entre aspas, porque, no fundo, não era um exercício: este, estimularia à acção…),
a procurar simplesmente uma resposta para cada realidade:
o certo ou o errado.
O imperativo era memorizar, nunca questionar! Jamais pensar em alternativas! O saber era «doado», logo, seria nosso dever aceitá-lo (e agradecer!).
Ora, sem o poder da questionabilidade, nada progride: perdemos a oportunidade de obrar a nossa criatividade no sentido da produção de alternativas, de opções, de novas ideias.
Em 1º lugar, num sistema educacional mais restrito: o núcleo familiar. Ao ouvirmos dos mais velhos «porque sim» ou «porque não», o nosso crescimento num ambiente resistente, inflexível e fechado, vê-se comprometido sem a oportunidade de desdobrarmos a nossa criatividade.
E tal acontece em qualquer tipo de organização social: família, escola, empresa, grupo de pares, sempre que haja (e sempre há) uma relação de hierarquia . (Note-se: eu disse hierarquia que é necessária, e não anarquia…). O papel do líder é importante, desde que bem desempenhado: é um orientador. Só não pode ser opressor. Senão, irrompe o medo de errar… e a impossibilidade de criar, improvisar, desenvolver. Marca-se a passividade, a omissão…
É certo que só quem faz erra… logo, os omissos nunca erram. O erro que acarreta a punição deve ser diferenciado: os erros de experiência, tentativas não devem ser punidos, muito menos ridicularizados: comparece aqui o líder: orienta! Não é o mesmo que errar por negligência.
Estimulemos a criatividade, a autoconfiança, a capacidade de experimentar! A crítica…edificante! O debate à sua volta!
Concedamos o direito do estímulo! Sejamos capazes de motivar!
Alzira Lima de Jesus Castro Pinto
Estimulemos a criatividade, a autoconfiança, a capacidade de experimentar! A crítica…edificante! O debate à sua volta!
Concedamos o direito do estímulo! Sejamos capazes de motivar!
Alzira Lima de Jesus Castro Pinto
5 comentários:
Estou de acordo consigo: - Deve ser estimulado o pensar sempre pela própria cabeça. Quando se percebe alguma asserção, deve ser demonstrado que se percebeu. Quando se discorda ,deve ser bem explicado porque se discorda e bem explicada a posição diferente. Um mero sim ou um mero não - não é nada . Teimosia pura (porque sim, porque não) também não interessa a ninguém. É necessário estimular a necessidade e o hábito da explicitação. - A hierarquia é uma exigência duma sociedade organizada. A obediência é também um pilar da sociedade. Uma e outra, porém ,postas em prática sem bom senso, sem clarividência, dificilmente serão justificáveis.
alzira,
claro que o pensamento crítico é o motor da sociedade. Mas fica difícil no interior de um país em que todas as instituições apenas gostam de ouvir as quadras da Dona Flora para a Rádio Ansiães ou o bota-abaixo em caminhos esconsos, levado a eito por outras doninhas. Entre a lua e o subsolo, pouco-nada...
Como sabes, quando tentei ajudar a reflectir um grupo, de tão habituados nos dois radicalismos, entre um sim e um não, absolutos, nem conseguiram ler os aspectos positivos que apontei.
Depois, também fica difícil, como num verso d’ "O navio de Espelhos" de Mário Cesariny, se a nave ‹‹vista do movimento dir-se-ia que pára››.
vitorino almeida ventura
Vitorino,
Mário Cesariny de Vasconcelos também diz:
«O navio de espelhos
não navega, cavalga (…)
O que fazer?
Cavalgar…esquecer que se navegou sem porto de abrigo!
(…) Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga» (…)
E continuar as ondas até que nos levem à praia.
De certeza que existe essa praia!
Alzira Lima
Muito bem, Alzira, claro - até porque o navio de espelhos é ele-mesmo a humanidade...
E só nos resta continuar (a tentar, cumprindo) Mário Cesariny nesse mesmo Navio de espelhos:
O navio de espelhos
não navega cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
O seu porão traz nada
nada leva à partida
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
( Como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo.
Repito (em nome de cada um):
Estimulemos a criatividade, a autoconfiança, a capacidade de experimentar! A crítica…edificante! O debate à sua volta!
Concedamos o direito do estímulo! Sejamos capazes de motivar!
Concluo (em nome da humanidade, que por vezes navega, por vezes cavalga...):
De Mário Cesariny
« RADIOGRAMA
Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar »
Alzira Lima
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