Assistimos nestes últimos dias a mudanças históricas na Linha do Tua, que extravasam inclusivamente para os Caminhos-de-Ferro Portugueses em geral. Depois da Regeneração em pleno século XIX, na qual Fontes Pereira de Melo declarava no palácio de São Bento "pois a mim custa-me contentar com duas (linhas de caminho-de-ferro)", e de um século XX onde se foi assistindo a muito do que de pior se pode fazer na ferrovia, eis que é em pleno século XXI que um Governo vem defender novamente o transporte que continua a revolucionar o mundo."É uma linha que tem objectivos e que pode ser utilizada em benefício do Turismo e das populações, portanto a nossa intenção é continuar com a linha", diz Mário Lino, sucedâneo da pasta de Fontes Pereira de Melo. "O serviço ferroviário é muito importante para o desenvolvimento deste território e para o sistema de mobilidade do país", e "A única razão porque se virá a encerrar, total ou parcialmente, a linha do Tua, é, única e exclusivamente, por causa da construção da barragem", diz Ana Paula Vitorino, Secretária de Estado dos Transportes.Com este virar de página histórico, o próprio Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (MOPTC) põe em xeque a barragem do Tua, obra defendida por uma minoria de interessados ou mal esclarecidos, e admite o verdadeiro valor incalculável que representa a Linha do Tua na região, uma vez que a promessa de alternativas ao traçado actual não passa de pura fantasia. É um compromisso que o MCLT aplaude e não permitirá cair em esquecimento. O MCLT está no entanto estarrecido com algumas das passagens do relatório final relativo ao acidente de 22 de Agosto do corrente, nomeadamente com a lacuna de regulamentação específica sobre as Vias Estreitas (VE) em Portugal. Maior se torna a nossa estupefacção face às dúvidas que se levantam às Linhas do Corgo e do Tâmega, sendo justo perguntar se os vários organismos ferroviários só agora descobriram que as LRV2000 circulam no Corgo desde 1995 (ano da inauguração do Metro de Mirandela) e no Tâmega desde 2002.Felicitamos o sério comprometimento no apuramento das causas do acidente, e na tomada de medidas para a consolidação da segurança na Linha do Tua. É também nosso desejo que os estudos intermináveis dêem lugar à acção responsável, uma vez que a linha já foi alvo de estudos no ano 2000, e teve onze meses de estudos após o acidente de 12 de Fevereiro de 2007. Não queremos que se transforme a Linha do Tua numa nova Entre-os-Rios, onde se estudam e identificam as potenciais causas de problemas e respectivas soluções, para depois não as corrigir/implementar. A Linha do Tua tem 58km em exploração: o plano a concretizar tem de contemplar esta distância, e não apenas as dezenas de metros circundantes a cada local de sinistros. Queremos ver solucionado de igual forma a questão do material circulante, que se por um lado após 13 anos de serviço no Corgo e no Tua e 6 no Tâmega só agora levanta problemas, por outro demonstra ser subdimensionado em linhas infundadamente acusadas de possuidoras de tráfego reduzido. O silêncio da CP nesta matéria é incómodo, visto ter retirado em 2001 material mais pesado e com mais capacidade da carga que ou foi posteriormente vendido ou simplesmente abandonado. Da proprietária da linha, a REFER, continuamos a esperar investimento e melhoramentos sérios, apagando futuramente da memória uma Linha do Tua com erros estruturais "grosseiros", e emparedamento de estações, convite descarado ao afastamento de utentes. De igual forma, ficou agora provado que a marcha à vista e os novos patamares de velocidade são desajustados à realidade actual, pelo que a nova Linha do Tua não poderá continuar a velocidades comerciais do tempo da sua própria inauguração há 121 anos. Relembramos que em matéria de mobilidade uma auto-estrada representa custos elevadíssimos, para um meio de transporte poluidor e ineficiente, sem no entanto se levantarem problemas à sua proliferação, mormente no Litoral do país. Não aceitamos para os futuros e necessários investimentos para a Linha do Tua outra atitude que não a da sua aceitação e rápida implementação, nunca pondo de parte a sua continuação para a reabertura da linha a Bragança e ligação à Alta Velocidade europeia na Puebla de Sanábria. Em suma, renovamos o nosso voto de investimento sério e sustentável, na totalidade da linha, e o assumir sério e honesto de responsabilidades legais, morais e cívicas para com as vítimas destes acidentes, os utentes, e demais população servida pela Linha do Tua. Movimento Cívico pela Linha do Tua, 29 de Outubro de 2008
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
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