e a estátua a Rocha Peixoto
ORAÇÕES JACULATÓRIAS, OU SETAS ESPIRITUAIS
PARA
ATIRAR AO CÉU E FERIR O CORAÇÃO DE DEUS
— Deus meu e vida da minha alma: quem sou eu, ou em que vos sirvo, para me encherdes de tantos benefícios?
padre Manuel Bernardes, sempre tão actual, na sua grandiloquência fradesca.
Foi a estátua de Hélder Carvalho a Rocha Peixoto (e _ _ suas comemorações centenárias na Biblioteca Munic. de Carrazeda) o pretexto maior para se deixar algo mais, além, muito além das imagens: um sinal para uma exposição de todas as formas de cultura, sem adereços pessoais ou políticos, que
apenas nos apartam das peças que outros hão, partidas de partidos em nós mesmos. O molde em gesso nas fotografias expostas será o proposto por mim: de uma inaugural de Hélder de Carvalho no Centro Cívico? Mesmo não sendo, todos os sinais vão de fumo branco. João Lopes de Matos, de angélica
mente já pode proclamar:
- Habemus papa!
VAV
9 comentários:
- O que é isto? Uma conversão ao catolicismo? Uma brincadeira com a ceia dos cardeais?
X
O dr. Matos já me ligou, furioso comigo por o colocar na Ceia dos Cardeais.
E que cometi um erro grave, em sua boca: Habemus papa em vez de habemus papam. Ora, tal não obediência ao acusativo, logo lho disse, fora
completamente deliberada, para melhor se perceber do meu terrível desejo de corrupção... De um mundo antigo, assaz puro.
Ab.,
VAV
- Será que nesta terra estamos no Vaticano ou num outro estado teocrático? A gente lê o blogue do vizinho e é sermão, porta sim, porta sim, do padre António Vieira. Agora, aqui, é Manoel Bernardes... A diferença encontramo-la no grau de seriedade.
X
Carta aberta ao Menino Jesus
“Meu querido Menino Jesus: Eu tenho muita pena de não o poder ver, porque o meu rico Menino voa muito e ninguém o pode ver e todos na minha casa temos pena.
O meu rico Menino Jesus é pobre, mas não se rale, por causa de ter pouco dinheiro para me comprar brinquedos para me deitar pela chaminé abaixo.
Ponha no meu sapato o que puder, mas eu gostava de um brinquedo que eu gostasse.
Eu queria um comboio de corda sem ser automotora”.
Devo dizer, por fidelidade de reprodução desta carta (a existir), que a palavra voa no ponto da carta onde se lê que o “meu rico menino voa muito”, a palavra voa está (estaria) escrita assim – voua.
Como porém o Menino Jesus desculpa os erros de ortografia das crianças, desculpemos nós também o pequenino erro desta criança bem novinha.
E é boa esta epistologia inocente, espiritualmente graciosa, das criancinhas.
Não me venham dizer que, consentindo-se essas cartinhas, estamos a mistificar a alma das crianças porque o Menino Jesus se encontra em impossibilidade física e metafísica de as receber.
Todavia, os adultos não têm também a mesma sede ideal, quando se dirigem ao infinito com mensagens filosóficas, sentimantais, poéticas e outras?
Os colóquios desta criança com o Céu são mais poderosamente comunicativos.
Ora, a carta daquela criança prova isso mesmo: que o reino da inocência é o mais próximo do reino dos Céus.
Estilisticamente, aquela cata é uma verdadeira maravilha.
A sinceridade flui belamente logo na primeira frase – “Meu querido Menino Jesus: Eu tenho muita pena de não o poder ver.”
A “pena” que a petiza sente por não poder ver com os olhos do corpo aquele Menino Deus que lhe encanta a alma, tal pena foi o que primeiro lhe brotou do coração.
Logo surgiu o motivo de não o poder ver: “porque o menino Jesus voa muito alto”.
Esta lição encerra todo um conceito de infinito: “O Menino Jesus voa muito alto”.
Voar do espírito lá nas alturas – eis a expressão simbólica traduzida neste dizer de uma criança…
E a pequenita acrescentou – “e ninguém o pode ver e todos na minha casa temos pena”.
“O meu rico Menino Jesus é pobre, mas não se rale, por causa de ter pouco dinheiro, para me comprar brinquedos, para me deitar pela chaminé abaixo”.
A petiza atingiu o máximo da naturalidade epistolar, quando assim pediu ao seu rico Menino Jesus…
Este “para me deitar pela chaminé abaixo” vale um tratado completo de epistolografia pela viveza da propriedade da expressão!
E aquele “não se rale” constitui uma lição estupenda da arte de escrever cartas com naturalidade - a palavra ditada pela verdade do que sente!
O final da carta da pequena foi assim: “Ponha no meu sapato o que puder, mas eu gostava de um brinquedo que eu gostasse”.
Este pedido é admiravelmente sincero.
Depois de reconhecer que o Menino Jesus é pobre, depois de lhe pedir que se não ralasse com as reduzidas posses para comprar brinquedos, a petiza desfechou esta delicada recomendação: “Ponha no meu sapato o que puder”.
Ah, mas o coração da garota viu que assim corria perigo de receber do Menino Jesus algum brinquedo de que não gostasse.
Então, apesar de reconhecer que o Menino Deus não lhe podia dar senão coisa pouca, sempre desvendou o cuidado em que se via de recear brinquedo não a seu gosto.
E confessou: “mas eu gostaria de um brinquedo que eu gostasse”.
E, afinal, que queria a pequena? Queria “um comboio de corda sem ser automotora”.
Bastava cada um de nós ter (dentro de si) o seu “comboio de corda sem ser automotora”…
... E o fumo branco do “habemus papa” (VAV)… não se teria tingido de noite (JLM)!
É uma pena esta carta não ter sido entregue...
Carlos Fiúza
Tenho-me fartado de elogiar VAV e CF.
Mas agora um goza comigo e chama-me cardeal e o outro goza(o que é sacrílego) com o Menino Jesus.
Já não posso,de modo algum,elogiá-los.Tenho que censurá-los.
VAV chama-me cardeal e ainda fico superior ao outro, que é apenas cónego.Mas CF,num estilo ainda que belo(concedo),demonstra(mostra)não acreditar no Menino Jesus,o que é inconcebível.Tenham juízo.
Quanto ao Padre António Vieira e ao Padre Manuel Bernardes,leiam as prédicas do primeiro e os livrinhos do segundo e verificarão como são tão actuais os raciocínios mirambolantes do primeiro e os pensamentos tão cândidos do segundo.
Acho que a grande maioria nem leu ou vai ler um ou o outro.
JLM
O Menino Jesus e eu
“Tal era a sua pobreza
Que de pano se temia!
Deitou as mãos à cabeça,
Tirou um véu que trazia,
E em três pedaços o fez,
E Jesus Cristo envolvia”
Escuso de elogiar este rimance; mas ninguém resiste, de certo, a admirar a hipérbole, daqueles versos:
“Tal era a sua pobreza
Que de pano se temia”!
E anda há quem julgue que o Povo não sabe, por intuição, o que são figuras de estilo?
Estive a passar os meus olhos bárbaros mas enlevados em quadras alusivas à natalidade do menino Deus.
E notei amiúde a referência à condição de pobreza em que Jesus nasceu, e, em contrapartida, traduzirem-se os desejos de lhe oferecer algo.
E nos tempos de hoje? Não quero de modo nenhum fazer atrito à maneira de pensar de cada qual na sua crença ou descrença perante Aquele que o Livro por excelência chama de “Salvador”.
Já lá se lê: “in terra pax hominibus bonae voluntatis”, paz na terra aos homens de boa vontade.
Conhecendo (ainda que mal) a felicidade da Esperança, todavia, respeito os sentimentos dos que, afinal, são meus irmãos, embora mais infelizes, nos mesmos graves problemas do espírito.
Quem é do Norte de Portugal sabe o quanto se aprecia por lá a celebração familiar da “Véspera do Natal”. Nesse dia, todos se preparam para “consoar com a família”, para “ir passar a casa a consoada”.
Dizem livros milenários, escritos por homens simples, que Esse que nasceu para não mais morrer na memória dos homens foi um menino posto em uma manjedoira, em um presépio.
Como “menino” que (ainda) sou, como “menino” que pretendo continuar a ser…
... Quero continuar a acreditar que o Menino Jesus permanece vivo em minhas memórias…
Enquanto nas cidades e aldeias do meu País predominar o hábito de ser o Menino Jesus o ofertador de brinquedos e outras coisas às crianças…
ACREDITAREI!
Carlos Fiúza
A JLM
Não, não estive a "gozar" com o Menino Jesus...
A haver "sacrilégio" será o de me não ter sabido expressar.
Caro X,
apanhou-me no grau de impureza: relativamente à seriedade. Concedo.
Caro JLM,
apanhou a minha rasura do m em papam, apanho-o agora no acrescento um m em raciocínios mirabolantes. Mas rendo-me à sua via popular.
Ab.,
W
Post Scriptum: Gostava, no entanto, que partilhasse connosco o seu gosto pelo Pão Partido em Pequeninos.
Caro Fiúza,
realmente, JLM é um pessimista. Não acredita na actualidade dos frades... Céu nublado.
Francamente,
VAV
Felizmente que o latim não é para todos, apesar de o ter aprendido, mas penso que estas não são as questõs mais importantes para as nossas gentes.
Carrazeda e os seus habitantes bem como todos aqueles que se encontram fora precisam de debater e conseguir realizar os seus sonhos, que alguns deles é poder ter um bom nível de vida na terra que é nossa e além disso permitir que os que partiram em busca de vida melhor poassam regressar para junto das suas familias, nisso é todos devem apostar, se me disserem o contrário, então não acreditam mesmo em nada.
Dixit
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