O esteta francês Remy de Gourmont, que escreveu muita verdade sobre problemas de estilo, aconselhou um dia aos poetas: “qu’ils n’écrivent rien sans consultar l’oracle, - l’oreille,” isto é, “não escrevessem nada sem consultar o oráculo, o ouvido”.
Parece-me que este conselho do esteta é muito sensato, muito verdadeiro, e muito ignorado…
Dizem os técnicos da música que a música é a “arte de impressionar a alma por meio de sons, produzidos e combinados de maneira agradável ao ouvido”.
Ora, assim como a verdadeira música tem de agradar ao ouvido, assim também os verdadeiros versos terão de ter, fundamentalmente, expressão rítmica.
De contrário serão tudo menos poesia.
Os poetas, a meu ver, são aqueles que, sentindo a beleza, conseguem dizer-nos a sua expressão musical.
Não foi sem razão ou por mero acaso que, na forma primeira, o ritmo da poesia incluía a dança e a música.
A Arte poética é a expressão estética digna de traduzir os “sonhos” do nosso ideal.
A tal expressão convém só a modalidade formal que, por mais pura, é a mais digna da poesia: a expressão rítmica.
Penso que à verdadeira Arte poética é imprescindível um poder de atração formal, isto é, que o poeta precisa de possuir o dom de nos cativar pela palavra, para haver comunicação do sentimento do Belo.
Parece esta afirmação fácil, mas ela é necessária por haver críticos que julgam ser a poesia a arte de exprimir o sentimento do belo fazendo “caixinha” com as palavras.
Vou lembrar uma redondilha de Camões, assaz conhecida.
E é de propósito que escolho estes versos para ver se, apesar de tantas vezes escritos e ditos, ainda interessam ao nosso gosto:
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai formosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Saínho de chamalote:
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura;
Vai formosa, e não segura…
Indago: Onde está a beleza destes versos?
Só no tema escolhido?
Suponho ter de ser negativa a resposta, porque vendo bem, muitas Leonores e outras lindas raparigas foram antes e continuaram a ir depois, pela verdura, à fonte.
Descalças ou calçadas, com o pote à cabeça, ou não, de cabelos loiros ou pretos, quantas e quantas não mereciam versos que tais?
Sim, é de supor que às fontes de Portugal tenham ido graciosas raparigas e que muitos Luíses as hajam visto e imaginado que sobre elas ia caindo uma chuva de graciosidade.
Mas a verdade é que nem todos esses Luíses foram aquele outro Luís que era de Camões!
Amigo Vitorino,
Feliz pelo seu regresso, agradeço a sua intervenção, como agradeço tenha compreendido o meu “subir à montanha”.
Abraço,
Abraço,
Carlos Fiúza
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