quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Daqui e dali... Carlos Fiúza

“Neurobióticos”
O mundo anda encantado com palavras novas que correm de boca em boca carregadinhas de esperança para os que sofrem de terríveis “males”.
Essas palavras fascinantes são os “neurobióticos” e principalmente - “visão curta”, “aventureirismo”, “facilitismo”.
Na verdade, podemos dizer que estamos na idade desses “neurobióticos”, e já outros se anunciam, com mais ou menos feliz confirmação.
Já se fala num "neurobiótico artificial” ainda mais poderoso, a “burriocitina” que, segundo os especialistas “pode abrir uma nova era na luta do homem contra a doença”.
Diz-se que esta droga destrói os "organismos" responsáveis pela “cretinice”, “miopia” e “estatísticas para inglês ver”(além do tifo, da tosse convulsa, da malária, e não garanto se contra a “catarata”, também).
Não me cabe acreditar ou não, porque sou leigo em assuntos médicos.
Como estudioso e investigador de termos “científicos”, apenas quero estudar o aspeto linguístico destas maravilhas da nossa época, procurando dissecar o corpo filológico de tais vocábulos.
Estas palavras - “visão curta”, “aventureirismo”, “facilitismo”, (não esquecendo a “burriocitina”), etc. - como se formam e que querem dizer?
É inútil, por enquanto, ir consultar dicionários portugueses, porque eles ainda não trazem esses termos recém-nascidos.
E as próprias obram lexicográficas estrangeiras mais recentes, ou trazem elementos escassos ou nada trazem acerca destas palavras.
É por isso tentadora a investigação dos termos sobreditos, virgens de contactos filológicos…
Há séculos, se não milénios, que o homem procura vencer estas doenças.
E nessa luta surgem palavras, morrem palavras, prestigiam-se umas, esquecem-se outras e até algumas caem nos dizeres do “escárnio” expressivo.
Em tempo: Ter em conta que o papel dos “antibióticos” é o combate aos “microrganismos”, os “micróbios”…
Carlos Fiúza

4 comentários:

Unknown disse...

Desculpe-me estar sempre do contra.
Mas apenas quero exercer o,numa disputa,sempre necessário contraditório.
Quero afirmar que não antipatizo com a ideia de inexistência de chumbos.
Por vezes as pessoas sacralizam certas ideias e palavras e acreditam em caminhos únicos.
Exames e chumbos são palavras e caminhos sagrados e sempiternos.Deles não há como fugir.
Quando falo de repetentes,lembro-me sempre de um grande matulão,que eu conheci no 1º ano liceal,em Lamego.
Era um pachorrentão mas nada aprendia e,tido como um grande burro,ninguém(nem colegas nem professores) lhe ligava.Era um caso perdido,que se arrastava penosamente da sala de aula para o recreio e deste para a sala de aula.
Destoava aquele monstro molengão no meio de nós,mais pequenos.
O que me parece estar em causa no ensino obrigatório é dar conhecimentos básicos(não demasiado elementares),necessários à vida,a toda a gente.Para além disso,é preciso ajudar as pessoas em formação a descobrirem-se,a conhecerem-se,a verem quais são as suas especiais aptidões.Por isso, não são os chumbos que interessam mas a ajuda concreta,permanente,para vermos o que se pode aproveitar em cada um de nós.Porque é que este modo de actuar é incompatível com a exigência,o rigor e a disciplina?
No currículo de cada um irão constar ,além das classificações,as especiais aptidões,as especiais dificuldades,os comportamentos mais evidentes.
Hoje, já não estamos em tempos em que os diplomas eram o critério de escolha.Actualmente,quando se recruta alguém,investigam-se os conhecimentos efectivos e tudo o mais já referido,não apenas pelo título académico,mas,sobretudo,pelo exame directo dos conhecimentos e do perfil humano.E isto não é feito apenas no exame de entrada mas também pela observação quotidiana no período de estágio.
Um diploma,hoje,já não dá(nunca deu, julgava-se que dava)garantias nenhumas ou direitos a nada.Mesmo ,durante toda a vida,é preciso continuar a observação permanente, para evitar paragens,desleixos,acomodações, e para descobrir,o mais rápido possível,as anomalias que possam,entretanto,ocorrer.
Não chumbar pode ser assumir responsabilidades e interesse, chumbar pode ser deixar cada um entregue a si próprio.
JLM
PS - Por isso,mesmo no ensino obrigatório, são necessários vários caminhos,por exemplo, o ensino profissional e outros mais personalizados e não apenas genéricos.

Anónimo disse...

Amigo João,

Este seu "sentir" é o que nos aproxima... ambos não temos "medo" da palavra.

Perfeitamente de acordo com a sua tese, mas...
paralelamente há que haver um "mínimo" de exigência", isto é, há que incutir nos alunos que também têm "deveres", além dos óbvios "diretos"...

"Não perguntes o que o teu País pode fazer por ti ... pergunta, antes, o que podes fazer pelo teu País".

E é aqui que discordamos; é neste ponto basilar que temos "visões" não coincidentes...

Sou contra a "repetencia", mas para isso ainda há muito caminho a "desbravar".

Como sabe, vivi em Londes.
Para qualquer Pai inglês, o termo "repetência" não se põe, não lhe diz nada, não está na sua "cultura"... a criança está na escola para ser "formada" (é o seu "direito")!

Mas... esse mesmo Pai acompanhará, sempre, a sua evolução intelectual conjuntamente com a escola (é o seu "dever")!

Sou a favor das "ideias" deste novo Ministério da Educação, não deixando de ser crítico quanto ao "modus operandi".

Educação e saber... dois factores com projecção no nosso desenvolvimento; inseparáveis, até.

Damos demasiada importância aos "diplomas", como diz. É verdade!

Percorri o mundo (como sabe), vivi e senti de perto diversas culturas... Portugal é o único país com o culto dos "doutores".

Sempre que nos apresentamos (ou alguém nos apresenta), lá vem o "título" a anteceder o nome... como que a dizer: "Atenção, eu sou um intelectual, tenho direto a um tratamento diferenciado!"

Sinal de "inteligência","cultura", "mais valia"?
Ou "pretenciosismo", pura e simples?

Como atrás referi, desde Londres, a New York, passando por Paris, Geneve, Caracas, Roma... a introdução era, pura e simplesmente, esta: Fulano de Tal!

Que interessava aos Japoneses quando, num grupo de trabalho em que participava, saber-se (eles, ou eu) o grau académico de cada um?
A nossa reunião não era para discutirmos "pontos técnicos"?
Não estávamos ali para serem "alinhadas" futuras directivas comuns de "comércio internacional"?
E se "eles" lá estavam, era porque eram "competentes"!

Em portugal (e aonteceu-me algumas vezes) tive encontros com "sumidades" (no título)... eram Professores Doutores, eram Engenheiros, eram Doutores... e quantas e quantas vezes não tive de "descer" na hierarqia (recorrer a "conhecedores", ainda que mais "humildes") quando as respostas das ditas "sumidades" eram titubiantes, sem substância!

Ensino, sim... sempre!
Exigência, sim... quanto baste!
Competitividade, sim... acente em bases escolares e científicas bem estruturadas!
Facilitismo, nunca!

Carlos Fiúza

Unknown disse...

Afinal talvez estejamos mais de acordo do que parece.Sabe que eu seria favorável a uma menor intervenção do Estado desde que as comunidades fossem capazes de resolverem,elas próprias,os seus problemas?
Só acho necessária uma maior intervenção do Estado por causa do atraso da maioria de nós.
Não sendo as comunidades locais capazes,então tem que ser o Estado a fazer,até ao momento em que tenhamos pessoas com outro sentido de auto-responsabilidade.
JLM

Anónimo disse...

Parece-me, salvo melhor opinião, que o que se pretende fazer com esta medida, bem como com as chamadas novas oportunidades, não é mais do que uma tentativa de promover o analfabetismo.Para se tomar uma medida dessas urge que, a montante da mesma, estejam preenchidos uma série de requisitos e condições que não estão. A principal, é criar nos cidadãos uma cultura de responsabilidade e maturidade que, em muitos casos não existe.Portugal continua a padecer de um certo infantilismo e megalomania: querer nivelar-se sempre pelos países mais evoluídos: é na educação, na saúde, etc., etc., e depois o resultado é o que está à vista. Os jovens têm de ter o seu período de aprendizagem e consolidação dos seus conhecimentos e, consequentemente, fazer-se a avaliação dos mesmos. Tém de ter regras, balizas.Este tema levar-nos-ia muito longe e deveria ser discutido com muita seriedade,muito bom senso, sem paixões políticas ou outras. Temos de ter um espírito crítico apurado e isento, sem ser acintosamente malévolo e destrutivo. É preciso ter, acima de tudo e essencialmente, a lucidez necessária para se ver que nem tudo o que os políticos dizem está certo, e é o melhor para o país e para os portugueses.