Quando, há um ano, Sócrates, já em campanha, prometeu que o seu Governo abriria uma conta de 200 euros para cada bebé, um estremecimento erótico (toda a gente sabe que o dinheiro é o melhor e mais lubrificante amigo dos amantes) percorreu o país do Minho ao Algarve (ou "Allgarve" ou lá como aquilo se chama agora). E, na noite eleitoral, mal se confirmou a vitória do PS, desligaram-se os aparelhos de televisão e apagaram-se as luzes da sala de jantar em milhares de lares, começando a chiar por todo o lado as molas dos colchões. Os portugueses metiam-se afanosamente ao trabalho, entusiasmados com a ideia de terem um filho rico.
Afinal foi trabalho em vão e mais lhes valia ter ficado a ver a telenovela. O Governo, pela voz do ministro da Presidência e das más notícias, acaba de anunciar que a medida será "recalendarizada", o que, em português comum, significa que a palavra-chave da tal "Conta Poupança Futuro" era "futuro" e não "conta" ou "poupança". Uma coisa é certa: a geração do "baby-boom" resultante daquela noite histórica será mais céptica em relação a promessas eleitorais que a dos pais.
Manuel António Pina, JN
10 comentários:
Política e ... matemática!
Sem sombra de dúvida, em língua portuguesa duas negativas anulam-se uma à outra, ficando uma positiva – menos por menos dá mais.
Leia-se: a ausência da ausência, dá efectiva presença (Vitorino dixit).
“In illo tempore” (mais no meu do que no dele) assim nos foi ensinado.
E hoje?!
Que responderá qualquer pai a seu filho se questionado pela afirmativa?!
- Pai, diz aqui que os impostos serão mantidos e que as regras do PEC serão para cumprir nos moldes actuais … o que é que isto quer dizer?
- Filho, quer dizer que nem sempre o que parece é (única resposta correcta).
Com este raciocínio, serão as luzes de manter abertas ou fechadas, chiando, ou não, as molas dos colchões (tomando como exemplo o que bem escreveu Manuel António Pina neste oportuno e excelente artigo)?
Não mais Pitágoras, Euclides ou Thalles … está tudo errado, como afirma António Damásio referindo-se ao “Erro de Descartes”.
Mais por mais … já não dá mais, isto é, duas afirmativas (os impostos serão mantidos + o Pec está bem como está) não dão, forçosamente, uma afirmativa. Pelo contrário: neste caso mais por mais dá menos (negativa)!
Mas está certo que assim seja: "certinhos" para quê, "bons alunos" com que fito, quando os demais não nos “seguem”?
Vejamos:
Quando a gente se põe a falar sobre a vida das palavras, muita vez encontra nelas um reflexo das inconstâncias, das versatilidades deste Mundo.
Lábios e beiços (por exemplo) – aquelas membranas carnosas e sem osso que formam a parte exterior da boca, e cobrem os dentes quando se fecham, tanto no homem como nos brutos.
A parte mais macia e delicada dos beiços, que são as bordas em que muitas vezes brilha a cor de rubim, e quando abrem o sorriso deixam ver os dentes, são os lábios – A primeira é palavra vulgar, a segunda é científica e poética – Ajudam os beiços a fala e a mastigação; só aos lábios é dado imprimir meigos ósculos.
Se assim é,
- A união dos lábios (afirmativa, referente ao homem) com os beiços (afirmativa, referente ao bruto) dá beijo, ósculo ou … o que?
Cuidado, pois, amigo Vitorino … o correcto em matemática, já era!...
200 Euros por bebé, nos tempos que correm, já não é nada (100 € por apagar a luz + 100 € pelas molas), quero dizer: 100 + 100 já não dá “baby-boom”, o que até é bom … a próxima geração será mais céptica, mais "avisada".
Será que eu poderia viver
“desaprendendo” a matemática?
– “Poderia, mas não seria a mesma coisa”!
Carlos Fiúza
Como é que alguém pode entender uma promessa como uma proposição matemática?
Claro que,subjacente à promessa,está uma condição: se houver dinheiro.
Mas,nos dias de hoje,quando é que se sabe que vai haver dinheiro?
Meu filho querido,vou dar-te um automóvel. Para quê estragar a promessa, obrigando o pai a referir a condição, quando nós queremos que sobressaia a vontade(e o amor do pai)?
JLM
E o diáologo entre Pai e Filho PODERIA ter continuado (em "off"):
- Mas, Pai, como é que eu sei quando o que "parece É" e como sei quando o que "parece NÃO É"?
- Filho, isso não o saberás nunca ... a não ser que vás para político "profissional".
- Então, Pai, quer dizer que os NÃO políticos não saberão, nunca, distinguir entre o que "PARECE É", e o que "PARECE NÃO NÃO É"!
-Isso mesmo, meu filho, e a razão é simples:
- os NÃO políticos "profissionaos" estudaram nas Escolas ou nas Faculdades as regras da chamada fraseologia.
- E os "profissionais", Pai, não?
- Também estudaram, meu filho, mas com a "profissionalização" tiraram mestrados em "Corruptela Política", razão pela qual estão mais aptos do que tu a dizer quando o que parece é e quando o que parece não é.
-Se fosses mais velho dir-te-ia, como Cícero disse no Senado a Catilina:
"Quousque tandem abutere ..."!
Carlos Fiúza
Mas isto é como o que se passa com a mulher de César:não basta sê-lo mas também parecê-lo.
Eu diria:O que interessa é apenas parecê-lo,tanto para quem parece como para quem observa. Este fica satisfeito com o parecer,já que é tão bom acreditar que o ser é consequência necessária do parecer.
JLM
Constituição
Jardim agradece se for expulso do PSD
Alberto João Jardim declarou esta terça-feira estar «frontalmente contra» a proposta de revisão constitucional do PSD de Pedro Passos Coelho e disse que o partido fazia um favor se o expulsasse
Caro João,
Essa da mulher do César foi bem metida... no entanto, e se bem apreendi o trocadilho, a soma das partes não é igual ao todo (embora, hoje, se conteste esta teoria):
Não "basta" sê-lo, mas "também" parecê-lo ...
Na leitura que faço, "sê-lo" é
sempre condição necessária (imprescindível), embora não suficiente.
Ter o "ser" como condição necessária e suficiente do "parecer" ... é, confesso-o, sublime!
Infelizmente (e digo-o com pena), não pertenço ao grupo dos crentes "emocionais".
Carlos Fiúza
Antes dizia-se que a essência precede a existência,depois,com os existencialistas e consigo,caro Carlos,passou a dizer-se que a existência precede a essência.
Eu faço algo semelhante:o que parece é e não o que é parece.
JLM
Caro João,
Se há alguém que conhece o meu "percurso" é o meu caríssimo Amigo ...
Na verdade, como bem refere, o existencialismo foi a minha "Bíblia" por largos e verdes anos.
Também sabe (já lho disse) a razão de ter "abandonado" essa "prática".
Não por "ideologia" pois, como também sabe, ela ainda "mexe" comigo ... mas, pela "não" consistência dos que a praticavam, isto é, pela incoerência dos que a "levantavam como bandeira" ... e sabe o quanto isso me custou, como sabe o quanto ainda sou um defensor acérrimo do seu "ideário".
Ideologicamente (leia-se, "com o coração") estou "ferido" ... a doutrina até pode ser "boa", mas a "praxis" foi uma "desilusão".
Assim,
Fui "obrigado" a "couraçar-me", a "racionalizar-me" ...
A existência precede a essência... É verdadeiro, hoje, este conceito, para mim?
Honestamente, não sei ... sei que no meu íntimo "ele" ainda é "apaixonante" ... o "mundo" e sobretudo os "homens" mataram muitas das minhas ilusões da juventude, o que é pena.
Disse-lhe que o acreditar que o "ser" é condição necessária e suficiente do "parecer" é sublime ... mantenho, lamentando, mais uma vez, não poder ser tão "puro" como o João.
Também lhe disse, um dia, ser o João um "homem bom" ... como eu gostaria de continuar "sensível" à "espiritualidade desinteressada".
Não sei se estou "certo ou errado"... sei que para o "ser" não terei de o "parecer" (a aparência, para mim, não conta!).
Daí, mais uma vez a pergunta que um dia lhe coloquei: "Somos, assim, tão diferentes? Por caminhos complementares não quereremos, ambos, dar resposta às interrogações humanas e extra humanas do Mundo?
E não estaremos, ambos, a "lutar contra moinhos de vento"?
Por mim "sei" que, como José Régio no seu "Cântico Negro" ... "não vou por aí".
Abraço,
Carlos Fiúza
Caro Carlos:
A conversa vai um bocado complicada.
Mas bem sabe que eu entendo que muito de nós nasce connosco.E que nós preenchemos,cada um a seu modo e dada a vida que leva,o que cada um,em certa medida,já é.
Claro que o que nos rodeia nos vem a constituir, mas também a máquina que julgo sermos já vem constituída nas peças e modo de funcionamento base.
Portanto,a essência e a existência caminham permanentemente a par.
Congratulo-me,mais uma vez, com a sua maneira de escrever,tão a meu gosto.
- PONTO DE ORDEM:
A pureza e a sensibilidade estão em pé de igualdade com a racionalidade e a dureza porque igualmente necessárias à busca da verdade e da perfeição e(porque não)à nossa realização pessoal.
Não volte a falar de mim como se eu fosse um anjo,até porque todas as facetas são necessárias.
Além do mais,não gosto.
JLM
Amigo João,
Ponto de Ordem anotado e percebido ...
No entanto, e para que conste, o entendimento que tenho de "anjo" nada tem a ver com "anjinho".
"Honni soit qui mal y pense!"
C.F.
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