Há um grupo de homens que joga cartas à sombra de um cedro, enquanto outros homens, e mulheres, trazem o cérebro feito em água na preparação de um festival de artes.
Para animar os das cartas e os muitos outros que esperam atrair, de hoje até 9 de Agosto. É o Festival de Artes de Pombal de Ansiães (FARPA), na aldeia do concelho de Carrazeda em cujas veias corre teatro, desde 1927, e em cuja alma renasce, ano após ano, e já lá vão 13, a proa de ter um evento de semelhante e reconhecido alcance.
Estavam os homens e as mulheres a batalhar na sede da associação, entram porta adentro Flora Teixeira e Maria do Céu. Embora já vista dezenas de vezes, detiveram-se, mais uma, na velha fotografia pregada à parede que mostra um dos grandes grupos que deu nome ao teatro do Pombal. “Aqui tinha eu 21 anos, hoje tenho 80”, suspirava Flora. Mas ela não estava ali. “São tudo raparigas da minha época, mas eu não pude ir”. Maria do Céu Lima sinalizava o pai, a um canto do retrato. “O grande encenador dos dramas que aqui se representavam”.
As peças teatrais que, em tempos idos, eram apresentadas num quinteiro, haveriam de passar depois para a sede da associação, criada em 1975. Casimiro Calvário tem 71 anos e ainda se lembra da camaradagem que existia entre novos e velhos. Eram como uma família. O dinheiro que se amealhava de subsídios com algumas deslocações a outras povoações era poupado ao máximo. Íamos aos restaurantes mais baratos para nos sobrar mais. Dava para mais uns blocos para construir a sede, recorda.
Os mais novos continuam a tradição, mas Maria do Céu lamenta que o apego dos jovens de outros tempos à representação esteja a perder-se. Também por causa do despovoamento, os miúdos que sobram já não dão para criar grupos como os da foto dos anos 60. Susana Brás, 14 anos, é das que se deixou convencer. “Primeiro ainda fiquei indecisa, mas acabei por me adaptar”. Só não sabe até quando quer continuar. Com a mesma idade, Flávia Matos, tem mais certezas. “Se tivesse essa oportunidade gostava de ser actriz”.
A presidente da associação, Fernanda Cardoso, é das que, por estes dias, anda estourada. Continuar o FARPA está cada vez mais difícil. A crise não ajuda nada. Mas promete que os esforços vão continuar para não deixar morrer o festival.
Ver programa de animação em http://www.arcpa.pt/
Eduardo Pinto, JN
Para animar os das cartas e os muitos outros que esperam atrair, de hoje até 9 de Agosto. É o Festival de Artes de Pombal de Ansiães (FARPA), na aldeia do concelho de Carrazeda em cujas veias corre teatro, desde 1927, e em cuja alma renasce, ano após ano, e já lá vão 13, a proa de ter um evento de semelhante e reconhecido alcance.
Estavam os homens e as mulheres a batalhar na sede da associação, entram porta adentro Flora Teixeira e Maria do Céu. Embora já vista dezenas de vezes, detiveram-se, mais uma, na velha fotografia pregada à parede que mostra um dos grandes grupos que deu nome ao teatro do Pombal. “Aqui tinha eu 21 anos, hoje tenho 80”, suspirava Flora. Mas ela não estava ali. “São tudo raparigas da minha época, mas eu não pude ir”. Maria do Céu Lima sinalizava o pai, a um canto do retrato. “O grande encenador dos dramas que aqui se representavam”.
As peças teatrais que, em tempos idos, eram apresentadas num quinteiro, haveriam de passar depois para a sede da associação, criada em 1975. Casimiro Calvário tem 71 anos e ainda se lembra da camaradagem que existia entre novos e velhos. Eram como uma família. O dinheiro que se amealhava de subsídios com algumas deslocações a outras povoações era poupado ao máximo. Íamos aos restaurantes mais baratos para nos sobrar mais. Dava para mais uns blocos para construir a sede, recorda.
Os mais novos continuam a tradição, mas Maria do Céu lamenta que o apego dos jovens de outros tempos à representação esteja a perder-se. Também por causa do despovoamento, os miúdos que sobram já não dão para criar grupos como os da foto dos anos 60. Susana Brás, 14 anos, é das que se deixou convencer. “Primeiro ainda fiquei indecisa, mas acabei por me adaptar”. Só não sabe até quando quer continuar. Com a mesma idade, Flávia Matos, tem mais certezas. “Se tivesse essa oportunidade gostava de ser actriz”.
A presidente da associação, Fernanda Cardoso, é das que, por estes dias, anda estourada. Continuar o FARPA está cada vez mais difícil. A crise não ajuda nada. Mas promete que os esforços vão continuar para não deixar morrer o festival.
Ver programa de animação em http://www.arcpa.pt/
Eduardo Pinto, JN
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