Estou farto de salvar a pátria... Henrique Monteiro (www. expresso.pt) 0:00 Quinta-feira, 18 de Mar de 2010
Quando comecei a trabalhar, a pátria precisava de ser salva dos desvarios do PREC e por isso pagámos mais impostos. Depois, nos anos 80, houve um choque petrolífero, salvo erro, e tivemos de voltar a salvar a pátria. Veio o FMI, ficámos sem um mês de salário e pagámos mais impostos. Mais tarde, nos anos 90, houve mais uns problemas e lá voltámos a pagar mais, para a pátria não se afundar. Por alturas do Governo de Guterres fui declarado 'rico' e perdi benefícios fiscais que eram, até então, universais, como o abono de família. Nessa altura, escrevi uma crónica a dizer que estava a ficar pobre de ser 'rico'... Depois, veio o Governo de Durão Barroso, com a drª Manuela Ferreira Leite, e lembraram-se de algo novo para salvar a pátria: aumentar os impostos! Seguiu-se o engº Sócrates, também depois de uma bem-sucedida campanha (como a do dr. Barroso) a dizer que não aumentaria os impostos. Mas, compungido e triste e, claro, para salvar a pátria, aumentou-os! Depois de uma grande vitória que os ministros todos comemoraram, por conseguirem reequilibrar o défice do Estado, o engº Sócrates vê-se obrigado a salvar a pátria e eu volto a ser requisitado para abrir mão de mais benefícios (reforma, prestações sociais, etc.), e - de uma forma inovadora - pagando mais impostos.
Enquanto a pátria era salva, taxando 'ricos' como eu (e muitos outros, inclusive verdadeiros pobres), os governantes decidiram gastar dinheiro. Por exemplo, dar aos jovens subsídios de renda... por serem jovens; ou rendimento mínimo a uma pessoa, pelo facto de ela existir (ainda que seja proprietária de imóveis); ou obrigar uma escola pública a aguentar meliantes; ou a ajudar agricultores que se recusam a fazer seguros, quando há mau tempo; ou a pedir pareceres para o Estado, pagos a peso de ouro, a consultores, em vez de os pedir aos serviços; ou a dar benefícios a empresas que depois se mudam para a Bulgária; ou a fazer propaganda e marketing do Governo; ou a permitir que a Justiça seja catastrófica; ou a duplicar serviços do Estado em fundações e institutos onde os dirigentes (boys) ganham mais do que alguma vez pensaram.
E nós lá vamos salvar o Estado, pagando mais. Embora todos percebamos que salvar o Estado é acabar com o desperdício, o despesismo, a inutilidade que grassa no Estado. Numa palavra, cortar despesa e não - como mais uma vez é feito - aumentar as receitas à nossa custa.
Neste aspecto, Sócrates fez o caminho mais simples. Fez exactamente o contrário do que disse, mas também a isso já nos habituámos. Exigiu-nos que pagássemos o défice que ele, e outros antes dele, nunca tiveram a coragem de resolver.
«O Fundo Monetário Internacional fez hoje saber que considera o PEC português "bastante apropriado" para fazer descer o défice.
"A nossa equipa ainda não teve tempo de discutir detalhadamente o plano com as autoridades [portuguesas], mas o documento parece bastante apropriado", afirmou Caroline Atkinson, porta-voz do FMI, citada pela Reuters.» [Diário Económico]
Parecer:
Já só falta o próximo líder do PSD, mas esse ainda não se sabe quem vai ser.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se.»
«O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, considerou hoje, segunda-feira, o Programa de Estabilidade e Crescimento um documento "credível" e apelou a um consenso nacional "tão vasto quanto possível".
"A nossa primeira análise confirma que se trata de um documento credível. Esperamos agora que seja posta determinação na sua execução e que haja um consenso tão vasto quanto possível nessa mesma execução", declarou Durão Barroso aos jornalistas, no final de uma sessão sobre o Tratado de Lisboa.
"Para reforçar a credibilidade do Programa é importante que se saiba, nomeadamente no plano internacional, que aquelas medidas não são apenas da vontade deste ou daquele Governo, deste ou daquele partido, mas que são medidas apoiadas no esforço nacional", acrescentou.
"No momento económico e financeiro como aquele que vivemos, para a execução de um programa deste tipo é vantajoso que haja um determinado consenso nacional, tão vasto quanto possível".» [Jornal de Notícias]
4 comentários:
Estou farto de salvar a pátria...
Henrique Monteiro (www. expresso.pt)
0:00 Quinta-feira, 18 de Mar de 2010
Quando comecei a trabalhar, a pátria precisava de ser salva dos desvarios do PREC e por isso pagámos mais impostos. Depois, nos anos 80, houve um choque petrolífero, salvo erro, e tivemos de voltar a salvar a pátria. Veio o FMI, ficámos sem um mês de salário e pagámos mais impostos. Mais tarde, nos anos 90, houve mais uns problemas e lá voltámos a pagar mais, para a pátria não se afundar. Por alturas do Governo de Guterres fui declarado 'rico' e perdi benefícios fiscais que eram, até então, universais, como o abono de família. Nessa altura, escrevi uma crónica a dizer que estava a ficar pobre de ser 'rico'... Depois, veio o Governo de Durão Barroso, com a drª Manuela Ferreira Leite, e lembraram-se de algo novo para salvar a pátria: aumentar os impostos! Seguiu-se o engº Sócrates, também depois de uma bem-sucedida campanha (como a do dr. Barroso) a dizer que não aumentaria os impostos. Mas, compungido e triste e, claro, para salvar a pátria, aumentou-os! Depois de uma grande vitória que os ministros todos comemoraram, por conseguirem reequilibrar o défice do Estado, o engº Sócrates vê-se obrigado a salvar a pátria e eu volto a ser requisitado para abrir mão de mais benefícios (reforma, prestações sociais, etc.), e - de uma forma inovadora - pagando mais impostos.
Enquanto a pátria era salva, taxando 'ricos' como eu (e muitos outros, inclusive verdadeiros pobres), os governantes decidiram gastar dinheiro. Por exemplo, dar aos jovens subsídios de renda... por serem jovens; ou rendimento mínimo a uma pessoa, pelo facto de ela existir (ainda que seja proprietária de imóveis); ou obrigar uma escola pública a aguentar meliantes; ou a ajudar agricultores que se recusam a fazer seguros, quando há mau tempo; ou a pedir pareceres para o Estado, pagos a peso de ouro, a consultores, em vez de os pedir aos serviços; ou a dar benefícios a empresas que depois se mudam para a Bulgária; ou a fazer propaganda e marketing do Governo; ou a permitir que a Justiça seja catastrófica; ou a duplicar serviços do Estado em fundações e institutos onde os dirigentes (boys) ganham mais do que alguma vez pensaram.
E nós lá vamos salvar o Estado, pagando mais. Embora todos percebamos que salvar o Estado é acabar com o desperdício, o despesismo, a inutilidade que grassa no Estado. Numa palavra, cortar despesa e não - como mais uma vez é feito - aumentar as receitas à nossa custa.
Neste aspecto, Sócrates fez o caminho mais simples. Fez exactamente o contrário do que disse, mas também a isso já nos habituámos. Exigiu-nos que pagássemos o défice que ele, e outros antes dele, nunca tiveram a coragem de resolver.
http://aeiou.expresso.pt/henrique-monteiro=s23489
Eu também... e você?
FMI TAMBÉM APROVA O PEC
«O Fundo Monetário Internacional fez hoje saber que considera o PEC português "bastante apropriado" para fazer descer o défice.
"A nossa equipa ainda não teve tempo de discutir detalhadamente o plano com as autoridades [portuguesas], mas o documento parece bastante apropriado", afirmou Caroline Atkinson, porta-voz do FMI, citada pela Reuters.» [Diário Económico]
Parecer:
Já só falta o próximo líder do PSD, mas esse ainda não se sabe quem vai ser.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se.»
DURÃO BARROSO ESTÁ A METER-SE ONDE NÃO É CHAMADO
«O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, considerou hoje, segunda-feira, o Programa de Estabilidade e Crescimento um documento "credível" e apelou a um consenso nacional "tão vasto quanto possível".
"A nossa primeira análise confirma que se trata de um documento credível. Esperamos agora que seja posta determinação na sua execução e que haja um consenso tão vasto quanto possível nessa mesma execução", declarou Durão Barroso aos jornalistas, no final de uma sessão sobre o Tratado de Lisboa.
"Para reforçar a credibilidade do Programa é importante que se saiba, nomeadamente no plano internacional, que aquelas medidas não são apenas da vontade deste ou daquele Governo, deste ou daquele partido, mas que são medidas apoiadas no esforço nacional", acrescentou.
"No momento económico e financeiro como aquele que vivemos, para a execução de um programa deste tipo é vantajoso que haja um determinado consenso nacional, tão vasto quanto possível".» [Jornal de Notícias]
PEC: Paga E Cala
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